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Um Pecado Capital no mundo do Choro

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Por: Flavio Ramalho de Brito

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Em meados de 1949 o já renomado músico Jacob do Bandolim decidiu deixar a gravadora Continental, à qual estava vinculado, e se transferir para a poderosa RCA Victor, com mais recursos técnicos e de maior penetração no mercado. Para substituir Jacob do Bandolim o diretor da Continental, que era o grande compositor Braguinha, contratou um cavaquinista que comandava um conjunto musical da Rádio Clube, no Rio de Janeiro, que se chamava Waldir Azevedo.

Waldir Azevedo iniciara-se na música muito jovem tocando bandolim. Depois passara para os violões de sete cordas e tenor. Não levava a música muito a sério e trabalhava como auxiliar de escritório na Light. Um dia, recebeu um convite para fazer um teste na Rádio Clube para tocar cavaquinho no conjunto do violonista Dilermando Reis. O salário era atrativo e com carteira assinada. Segundo o cavaquinista e pesquisador Henrique Cazes, Waldir Azevedo

“conseguiu um cavaquinho emprestado e ficou treinando toda a tarde e a noite, para o teste da manhã seguinte. Foi aprovado sem dificuldades. Com pouco tempo Dilermando Reis lhe passou o comando do Regional para dedicar-se a sua carreira de solista”.

Em 1949, Waldir Azevedo gravou o seu primeiro disco que foi um grande sucesso de vendas. Uma das duas músicas do disco, que era composta por Waldir Azevedo, o choro “Brasileirinho”, se tornou uma das músicas mais conhecidas do país e firmou o instrumentista como o maior nome do cavaquinho do Brasil. 

Waldir Azevedo – “Brasileirinho”

  

Menos de dois anos depois da gravação de “Brasileirinho”, Waldir Azevedo lançou uma nova composição que foi um novo sucesso, o baião “Delicado”, que extrapolou as fronteiras brasileiras e alastrou-se por todo o mundo.

(Veja no site, https://www.joaovicentemachado.com.br/2020/12/quando-o-baiao-ganhou-o-mundo.html

Naquele mesmo ano de 1951, em que Waldir Azevedo lançou o baião “Delicado”, o grande instrumentista gravou, também de sua autoria, um dos choros mais bonitos do gênero: “Pedacinho do Céu”. Conta-se que, sem os recursos técnicos que a gravadora RCA Victor proporcionava a Jacob do Bandolim, Waldir Azevedo foi obrigado a improvisar no banheiro da gravadora Continental para conseguir efeitos de som no cavaquinho na sua interpretação de “Pedacinho do Céu”. A música foi outro grande sucesso de Waldir Azevedo e transformou-se em um dos maiores clássicos do choro.

Waldir Azevedo – “Pedacinho do Céu”

Altamiro Carrilho – “Pedacinho do Céu” – “Delicado” – “Brasileirinho”

Jacob do Bandolim, que é considerado, por muitos, o maior bandolinista do Brasil em todos os tempos nunca absorveu o estrondoso sucesso popular e comercial obtido por Waldir Azevedo, que ocupara o seu antigo lugar na gravadora Continental. Embora Jacob tenha composto grandes clássicos do choro como “Doce de Coco”, “Vibrações”, “Noites Cariocas” e tantos outros, nenhum deles conseguiu alcançar o sucesso de “Brasileirinho”, “Delicado” e “Pedacinho do Céu”.

Jacob sempre se referia a Waldir Azevedo com conceitos depreciativos e, como não se conhecem desavenças pessoais entre os dois instrumentistas, a situação somente pode ser atribuída a certo despeito de Jacob pelo grande sucesso do que ele chamava “o outro”. Em carta para um amigo, Jacob assim se referia a Waldir Azevedo:

“Não vês o Garoto (grande violonista)? Faz música para os músicos e dá-se mal. O ‘outro’ as faz para o público. Dá-se bem, mas é por pouco tempo.”

Jacob do Bandolim, em depoimento ao Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, respondeu, desta forma, a uma pergunta feita pelo seu filho, o jornalista Sergio Bittencourt (claramente combinada entre eles):

“- Onde o senhor fixa o marco da deterioração, se é que ela houve, da música popular brasileira? (Sergio)

– O marco deteriorador da história da música popular brasileira foi o ‘Delicado’. O ‘Delicado’ foi a música que começou a admitir o absurdo” (Jacob).

E Jacob do Bandolim seguia criticando Waldir Azevedo por ter se aproveitado de um “ritmo da moda” (o baião), classificando o magistral ‘Delicado’ como “um amontoado de toleimas, de sandices”. 

Como nunca houve uma reação pública de Waldir Azevedo às críticas despropositadas feitas a ele por Jacob, só pode-se mesmo imaginar que o notável bandolinista teria incorrido em um dos conhecidos pecados capitais estabelecidos nas escrituras cristãs.

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5 COMENTÁRIOS

  1. Durante minha infância ouvi os dois grandes compositores, através da discoteca do meu pai. Na adoslescência ouvi esses dois grandes mestres, pelo cavaquinho de Edinardo Linhares na calçada de Sr. Fiel, e no Crato, quando morava no Colégio Santa Teresa, vizinha do grande Abdoral Jamacarú, que sentava todas as noites na sua calçada e tocava com maestria seu bandolim. Edinardo foi para nós o grande Waldir Azevedo e Sr. Abdoral, o grande Jacob do Bandolim. Saudades desse tempo.

  2. Pela opinião do mestre Sivuca, os dois maiores bandolinistas do Brasil foram Jacob do Bandolim e Luperce Miranda. O que eu não conhecia era esse lado nada republicano de Jacob do Bandolim e por isso passei a admirar ainda mais Waldyr Azevedo que suportou o opróbio de Jacob e apesar dele pontificou na música.
    Quanto a opinião da amiga Cristina Couto quanto ao grande instrumentista Ednardo linhares Garcia, assino em baixo e vou além: ele é extraordinário nas cordas, tanto no cavaquinho, como no violão e na guitarra baiana. É um virtuose que Lavras da Mangabeira gerou para o Brasil.

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