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O NORDESTE QUE CHICO VIU

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                                      Para todos os nordestinos                    

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Por: Cristina Couto

Defensor das causas sociais, grande observador das cidades, um verdadeiro flâuner, Chico Buarque de Holanda acompanhou de perto o desenvolvimento acelerado dos grandes centros brasileiros, exatamente, na época do milagre econômico brasileiro. 

Em São Paulo ele assistiu a demolição da antiga capital do café e a substituição imediata de novas e modernas construções feitas por nordestinos que pra lá migraram em busca de emprego e melhor condição de vida.

Observando o sacrifício e a dificuldade   dos operários que esperavam e pegavam o trem no subúrbio paulistano com destino ao mundo do trabalho pesado, Chico assumiu o personagem Pedro Pedreiro e subiu a construção como se fosse máquina, ergueu paredes mágicas, sentou para descansar como se fosse um príncipe, comeu feijão com arroz como se fosse o máximo, e tropeçou no céu como se fosse um bêbado, embriagado de trabalho, de cimento e de lágrimas, tropeçou no céu dos seus sonhos nunca realizados, porque nunca chegou a ser nada, o máximo que conseguiu ser foi sempre o como se fosse e nunca foi, e acabou morrendo como um estorvo, na contramão, atrapalhando o tráfego, o público e o sábado. 

Em 1980, pegou carona na Caravana Holiday, do filme, Bye, Bye Brasil, nela Chico Buarque fez um verdadeiro tur pelo Brasil: ele se manda de trenó pra Rua do Sol Maceió, pega uma doença em Ilhéus, e com as bênçãos do seu Orixá acha bauxita no Ceará, segue por um nordeste mudado, urbanizado e televisionado com a internacionalização da cultura e do capitão da década de 1970. Depois imagina ser uma violeira nordestina que sonhou desde menina no Rio ir morar, outra vez de carona passa por Sergipe, Pernambuco, Paulo Afonso, Fernando de Noronha e pelo Sertão do Ceará, mesmo enfrentando muita tormenta chega enfim em Ipanema onde finca residência e sem vontade de voltar. 

Para celebrar e selar a miscigenação brasileira, Chico Buarque reaparece como filho de paulista, neto de pernambucano, bisneto de mineiro e trineto de baiano, revelando a mistura dentro do próprio país, não importando a naturalidade, e sim, a genialidade, pois, o artista bebe de todas as fontes, é cura para todos os males, asas para a imaginação e inspiração para toda jornada. 

Nas tortuosas trilhas percorridas por Chico Buarque ele viu cidades, dinheiro, bandoleiros e hospícios, acabou se redimindo a viola tocada por Vinícius e Nelson Cavaquinho; viu a solidão agreste revelada por Luiz Gonzaga e o remédio para fel, moléstia e crime na música de Jackson do Pandeiro; saudou os baianos Dorival Caymmi, Gil, Caetano, Bethania, Gal e João Gilberto; aplaudiu os instrumentistas Edu, Bituca e Nara, sem esquecer Hermeto, Rita e Clara.

Descobriu a vida através da arte que somente a sensibilidade do artista finca o pé na estrada e sente a dureza e a beleza do chão. Sabe que no baile da vida todo artista tem que ir onde o povo está e seguiu na estrada muitos anos fazendo história e canção.  Afinal, Chico é um artista brasileiro. 

                                  

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1 COMENTÁRIO

  1. O site tem o privilégio de ter como colaboradora a jornalista, professora, historiadora e acadêmica Cristina Couto que tem uma empatia muito forte com a historiografia do nosso país e da nossa região.
    A sua narrativa inovadora sempre surpreende!

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