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Ele era o Samba

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Por: Flávio Ramalho de Brito


Se tiver que ser escolhido um único nome para traduzir o samba, a música mais identificada com o Brasil, na forma como esse gênero musical é hoje conhecido, não resta a menor dúvida que o nome a ser selecionado é o de Ismael Silva. Dois depoimentos atestam a importância de Ismael Silva para o samba. O poeta Vinícius de Moraes escreveu em uma crônica:

“Quem conhece de verdade um bom samba carioca não hesita em colocar Ismael Silva como um dos três maiores sambistas de todos os tempos. Lúcio Rangel e Prudente de Morais Neto, acham-no, sem favor, o maior […] Seu nome estará ligado à crônica do samba carioca enquanto o mundo existir”

Chico Buarque também rendeu sua homenagem ao “Grande Ismael Silva”, como Lúcio Rangel fazia questão de falar quando se referia a Ismael Silva, antepondo sempre o adjetivo quando mencionava o nome do sambista:

“Ismael é a maior influência que eu tenho em toda a minha obra […] é o meu verdadeiro pai musical.”


Ismael Silva nasceu em Niterói, mas aos três anos, órfão de pai, sua família foi morar no Rio de Janeiro, no bairro do Estácio de Sá. O nome de Ismael Silva ficou indelevelmente ligado a um tipo de samba que surgiu no Estácio e que acabou prevalecendo sobre outra forma do gênero musical que, então, existia que era derivada do maxixe, e que era tocada nas imediações da zona portuária, na chamada Pequena África, cuja maior figura foi Sinhô.


A diferença entre os dois tipos de samba é explicada pelo próprio Ismael Silva: “Quando comecei, o samba não dava para os agrupados carnavalescos andarem nas ruas, conforme a gente vê hoje em dia” E foi desse ‘samba de sambar’ do Estácio que surgiu a “Deixa Falar”, a primeira Escola de Samba do Brasil, que teve Ismael Silva como um dos seus fundadores.


Ismael Silva, logo cedo revelou talento para o samba, ao mesmo tempo que tinha verdadeira inaptidão para trabalhos ditos convencionais. Aos 15 anos, fez a sua primeira composição e, aos 22, já conhecido como sambista, teve a sua primeira música gravada por Francisco Alves, o cantor mais popular da época. Chico Alves, que havia “comprado” o samba “Me faz carinhos” a Ismael apareceu como o único autor da composição, situação que era, então, comum.


O sucesso da música fez com que Chico Alves fizesse uma proposta a Ismael para gravar todas as músicas do sambista, desde que ele entrasse como parceiro nas composições. Ismael argumentou que já vinha compondo com um parceiro e somente aceitaria a proposta se ele também entrasse no acordo. E é o próprio Ismael quem conta: “ele aceitou. Aí fizemos um trio: eu, Nilton Bastos e Francisco Alves […] e comecei a fazer sucesso, um atrás do outro […] Foi bom pra mim e bom pro Chico. Se não fosse o Chico, talvez eu não chegasse onde cheguei”


 
O acordo de Ismael com Chico Alves durou sete anos e produziu cerca de sessenta músicas gravadas, dentre elas clássicos do samba, como “Se você jurar”, “Nem é bom falar”, “O que será de mim” e tantas outras.


                                     “Se Você Jurar” – Beth Carvalho

Com a morte precoce de Nilton Bastos, Ismael Silva fez várias músicas em parceria com Noel Rosa, uma delas “Adeus”, uma homenagem a Nilton Bastos.


 

                                Ismael Silva – “Nem é bom falar” e “Adeus”

Em 1935, Ismael Silva deu dois tiros de revólver nas nádegas de um malandro que se insinuara insultuosamente para uma sua irmã. Defendido pelo seu amigo Prudente de Morais Neto conseguiu uma pena leve de cinco anos. Ao sair da cadeia, havia perdido parte dos seus contatos no meio musical, que, também, havia se modificado. Em dificuldades financeiras, procurou Pixinguinha que o encaminhou para um amigo, com um bilhete que continha o lembrete “faça por ele como se fosse por mim”. Essa situação e a frase foram, depois, utilizadas por Ismael Silva no seu samba antológico “Antonico”.

                           Ismael Silva – “Antonico”

Daquele grupo de compositores do Estácio dos primórdios do samba quase todos tiveram morte precoce. Ismael Silva foi um dos poucos de vida longeva. O “Grande Ismael Silva”, como dizia Lucio Rangel, morreu, em 1978, no Rio de Janeiro.  



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2 COMENTÁRIOS

  1. Quando criança ouvi todos esses compositores e cantores. Meu pai era amante da boa música, na minha casa tinha uma radiola e a coleção de LP da MPB, da Abril Cultural, ouvíamos todos. Observadora decorei muitas das músicas e até momorizei o texto que Vicente Celestino recitava antes de cantar O Ébrio, sei até hoje. São verdadeiras riquezas e o ouro da MPB. Salve Ismael Silva e o Samba brasileiro.

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