Por: João Vicente Machado
INSPIRAÇÃO RARA LIRA CANHESTRA
De frente para a tela à procura da inspiração que me abandonou, além do cansaço mental provocado pelo vírus da moda, única coisa em que se fala todo dia e o dia todo tomei a decisão de hoje ser diferente, fazer diferente, falar diferente, desanuviar!
Vendo a bravura das águas que brotam dos céus e das fontes revigoradas, me veio em mente as estórias do Pajeú das Flores dos tempos de antanho e os seus mais lídimos representantes.
Antônio Marinho, pai de Helena Marinho, que viria a ser esposa de outro ícone da viola, Lourival Batista, o Louro do Pajeú, é um deles.
Marinho e Louro, sogro e genro, cantaram algumas vezes juntos e juntos foram protagonistas de muitas estórias que ainda hoje habitam o imaginário popular, evidentemente com o respeito guardado do genro para com o sogro.
Contam que Marinho ainda não conhecia o mar e foi levado de São José do Egito para o Recife, por um compadre, amigo e admirador, o qual estava muito mais interessado na reação enigmática de Marinho do que satisfazê-lo na sua curiosidade.
Chegados ao Recife e já acomodados, o compadre levou-o até a Praia de Boa Viagem que nesse tempo ainda existia exuberante e bela, onde Marinho ficou frente a frente com o mar. O olhar contemplativo de espanto não lhe permitia uma só palavra, o que aumentava o suspense das pessoas que o acompanhavam que se aglomeravam sob olhares curiosos.
Um transeunte urbano e no dizer de Manelito, lidimo representante da civilização do caranguejo, resolveu provocar Antônio Marinho e humilhar o tabaréu: “já viste um mar maior do que este matuto?”.
Marinho, olhando de lado, voltou-se para o gaiato e disse: “já vi sim, o má dos cachorros” referindo-se à hidrofobia.
Voltando á sua contemplação perguntou ao compadre: “em quantos dias Deus fez o mundo”? ”responde o compadre:” em seis dias!”
Aí Marinho responde: “compadre, garanto que esse açude não estava na empreitada não.”
Uma resposta simples, mas digna da verve do grande Antônio Marinho.