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Com a aproximação do Carnaval termina-se, ou de bem ou de mal, falando dele. Mas o que tem a ver A Dama das Camélias, o conhecido romance do francês Alexandre Dumas Filho, que era lido pelos nossos avós e bisavós, com festa tão caracteristicamente brasileira? Há exatos 80 anos, o principal evento do carnaval carioca ainda não era o desfile das Escolas de Samba, mas o concurso para a escolha dos melhores sambas e marchas. A importância do carnaval na música brasileira, na época, era tão grande que as músicas eram divididas em dois grupos, as de “meio de ano” e as de carnaval. Em 1940, vivia-se o tempo da ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas. O concurso de músicas de carnaval, que sempre fora promovido pela Prefeitura do então Distrito Federal, passava, naquele ano, a ser feito pelo Departamento de Imprensa e Propaganda, o DIP, como ficou conhecido o órgão criado por Vargas no final do ano anterior, para monitorar, direcionar e controlar toda a área cultural do País aos seus interesses.
O concurso foi realizado no estádio do América, na noite do sábado 27 de janeiro, com a arrecadação destinada às instituições de caridade patrocinadas pela mulher do ditador, Darcy Vargas. Do júri, que era presidido pelo maestro Villa-Lobos, faziam parte Luís Peixoto (parceiro de Ary Barroso em Maria e Na batucada da vida) e Pixinguinha. Diferentemente de hoje, quando as músicas feitas para o Carnaval expiram, quando muito, ao término do folguedo, as músicas daquele concurso ultrapassaram a virada do século e continuam protegidas, até hoje, pela perenidade. Na categoria samba concorriam naquele certame, dentre outros, Despedida de Mangueira (Benedito Lacerda-Aldo Cabral), Cai, cai (Roberto Martins) e Aquarela Brasileira (que era o título originalmente dado a Aquarela do Brasil). No grupo de marchas destacaram-se Malmequer (Cristóvão) de Alencar-Newton Teixeira), Pele-vermelha (Haroldo Lobo Milton de Oliveira) e a campeã, Dama das Camélias, elogiada por Villa-Lobos pela sua construção melódica, que foi defendida na competição por Francisco Alves.
Canções como Dama das Camélias vêm mantendo-se duradouras no decorrer do tempo Em 1997, Caetano Veloso foi convidado para fazer uma apresentação em homenagem a Federico Fellini e a Giulietta Masina, a grande atriz mulher do cineasta, ambos falecidos poucos anos antes. O show foi realizado no Teatro Nuovo, na pequenina e antiquíssima República de San Marino, nas proximidades de Rimini, a cidade de Fellini. Na apresentação, que foi registrada em CD, Caetano incluiu a, então sexagenária, Dama das Camélias. A música de Dama das Camélias é do pianista Alcyr Pires Vermelho (autor também de Canta Brasil, Laura e Prece ao vento). Villa-Lobos o considerava “um descobridor de melodias”. A letra é de Carlos Alberto Ferreira Braga, Braguinha, também conhecido como João de Barro (letrista de Carinhoso, As Pastorinhas e Copacabana e outras inúmeras músicas perenes). O primeiro intérprete de Dama das Camélias foi Francisco Alves, Chico Viola, o “Rei da Voz”.
Dama das Camélias – Caetano Veloso, gravado ao vivo na República de San Marino.