Por: João Vicente Machado
Conheci o Dr. Agnello Amorim quando morava em Campina Grande, exercendo o meu ofício como gerente regional da CAGEPA e ele como o Promotor de Justiça: sério, competente, criterioso e muito, muito espirituoso. Campina Grande, pródiga em expoentes dessa estirpe, tem em Agnello Amorim talvez o seu maior expoente.
Nascido em Cabaceiras, hoje denominada a Roliude do Nordeste pela acolhida a grupos cinematográficos, dentre os quais o elenco do filme O Auto da Compadecida e, por ser sede da folclórica festa do Bode Rei. Mudou-se para Campina ainda jovem onde hoje reside. Fez e ainda faz história, recebeu e ainda recebe o carinho da cidade onde é unanimemente reconhecido.
Pois bem, transcorria o ano de 1989 e o Dr. Tarcísio Burity acabara de ser eleito governador pela via indireta, modelagem eleitoral do golpe militar de 1964 que governava o Brasil a manu militare, é verdade, mas com viés nacionalista diferentemente dos dias atuais.
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Dr. Tarcísio Burity |
O contágio psicológico da violência política que se verificava dentro das masmorras da ditadura, influenciava qualquer inspetor de quarteirão a se autoproclamar “otoridade” e sair distribuindo justiça com as próprias mãos. Era o embrião das milícias sofisticadas de hoje, que praticavam atrocidades de maneira primária.
Como Campina Grande sempre tem no pioneirismo à sua marca, surgiu na época um esquadrão de justiceiros autodenominado Mão Branca, que executava sumariamente suas vítimas e as depositava num local ermo, próximo ao Clube Recreativo dos Sargentos e Subtenentes do Exército, conhecido como GRESSE, que realizava festas animadas e as calientes vesperais dos domingos.
Ao assumir o governo, aliás operoso governo que realizou no Burity I, Tarcisio Burity que fora colega de faculdade de Agnello, o escolheu e nomeou para apurar os fatos macabros e apresentar um relatório conclusivo.
Agnello não somente aceitou a missão como, em tempo recorde, apurou os fatos e concluiu atestando que o grupo de extermínio estava dentro do aparelho policial e apontava nominalmente os autores, oficializando o que muitos tinham vontade de dizer e não tinham coragem.
Os envolvidos, seu apoiadores e torcedores ficaram furibundos e tentaram reduzir a importância da investigação, acusando Agnello de só ouvir bandidos, ao que ele do alto da sua verve inigualável respondeu, mais ou menos assim:
“Não me foi pedido para apurar fatos ocorridos em mosteiros, conventos, ou na cúria metropolitana. Estamos apurando crimes de sicários, justiceiros e exterminadores cuja ação a cidade conhece. Então queriam que eu fosse ouvir as freiras do Convento das Clarissas ou do Colégio das Damas cristãs ou ainda D. Manoel Pereira?” Nada mais disse nem lhe foi perguntado.
Conclusão: o caso foi encerrado, os autores foram presos como réus confessos e encerrou-se a ciranda da morte anunciada diariamente.
Se hoje surgisse no Rio de Janeiro um personagem da estirpe e da coragem de Agnello Amorim, o processo da execução sumária da vereadora Marielle Franco já teria sido desvendado há muito tempo.
Tem muitas de Agnello que irei contar depois. Aguardem!