Nos anos 1950, os conjuntos vocais alcançavam, nos Estados Unidos, a sua época de maior evidência. E dentre uma infinidade de grupos que existiam no gênero, que era conhecido como “doo wop”, se sobressaíam The Platters. Após um início sem muita repercussão, os Platters passaram a ser produzidos e empresariados pelo arranjador e compositor Samuel Buck Ram, que conseguiu torná-los um sucesso mundial. Buck Ram compôs alguns dos principais êxitos dos Platters, entre eles “Twilight Time”, “The Great Pretender”, “Remember when”, “I’m sorry” e a conhecidíssima canção “Only You”.
De família musical (o pai tocava alaúde e os irmãos vários instrumentos) o menino Tito também enveredou pela música, tocando e cantando em festas na escola. Ele e os irmãos instalaram um serviço de Alto-falante na cidade, embrião da futura rádio de Pirajuí, na qual Tito Madi foi locutor, redator, cantor e diretor. Com a intenção de ser professor, Tito fez o curso normal, mas, ao concluir os estudos, resolveu tentar a carreira artística em São Paulo, aonde chegou, em 1954, aos 22 anos.
Na capital paulista, Tito Madi começou a cantar no rádio e conseguiu um emprego na orquestra do maestro francês Georges Henry. Já com algumas músicas compostas, Tito Madi fez, naquele mesmo ano, a sua primeira gravação, o samba-canção “Não diga não” e recebeu da crítica especializada em música o prêmio de cantor revelação do ano.
Buck Ram e Tito Madi – Revista Radiolândia |
Foi por essa época que Buck Ram conheceu Tito Madi e fez o convite para que ele participasse de uma excursão dos Platters pela Europa. Tito recusou o convite e, nas suas palavras, “isso foi a maior burrice da minha carreira […] mas tive medo; o contrato dizia que ficaria nulo quando uma das partes quisesse se retirar. Eu não arrisquei”.
As músicas compostas por Tito Madi (da mesma forma que aquelas que eram feitas pela sua contemporânea Dolores Duran) antecipavam a renovação na nossa música popular que aconteceria no final da década de 1950. Para o crítico Tárik de Souza, “ambas eram despretensiosamente afinadas ideologicamente” e tornava-se difícil “precisar onde termina o samba-canção dos anos 50 e principia a bossa nova”.
Em 1959, Tito Madi gravou um dos maiores êxitos da sua carreira, a canção “Menina Moça”, do compositor carioca Luiz Antonio e que foi incluída em um filme nacional de grande sucesso na época.
A música que a juventude passou a consumir a partir de meados da década de 1960 foi gradualmente afastando a voz suave e os refinados sambas-canções de Tito Madi das chamadas “paradas de sucessos” e da mídia em geral. Em 2001, o cantor e compositor teve que bancar a produção de um disco autoral. Ao responder a uma pergunta do jornalista Pedro Alexandre Sanches acerca da razão pela qual um artista da sua importância precisava custear o seu próprio trabalho, Tito respondeu resignado:
“É o passar dos tempos, que muda tudo. Gravei em quase todas as companhias. Hoje, quando apareço para receber direitos, ninguém me conhece. Tenho que explicar quem sou, é muito desagradável”
Após catorze anos fora do mercado fonográfico, Tito Madi fez, em 2015, (quando ainda se recuperava de um AVC que havia sofrido), o lançamento do seu último disco, que teve arranjos do pianista e maestro Gilson Peranzzetta. Na ocasião, o jornalista e escritor Ruy Castro escreveu: “se, nos últimos anos, tivemos muito menos Tito Madi do que merecíamos, culpe o mercado, o sistema, a conjuntura. Os tempos não estão propícios à sensibilidade”.
Em 2018, em um hospital, já muito doente, Tito Madi recebeu uma cópia de um disco que acabara de ser gravado, só com músicas suas: “Nana Caymmi canta Tito Madi”. A iniciativa da cantora reparava uma promessa nunca cumprida pelo cantor Roberto Carlos. Em 1977, em uma solenidade, Roberto declarou publicamente: “Está presente aquele que foi e continua sendo meu grande ídolo, com ele aprendi tudo que sei sobre cantar”. E depois, no camarim, segundo as palavras do próprio Tito Madi, “(Roberto) disse que faria um disco ‘Roberto Carlos canta Tito Madi’, com participação minha”.
Tito Madi morreu, no Rio de Janeiro, em setembro de 2018, aos 89 anos. Roberto Carlos, até hoje, não gravou nenhuma música daquele que ele dizia ser seu grande ídolo.
Tito Madri sem nenhum favor é uma das vozes mais canoras a afinadas da da época de ouro da canção. Uma voz educada, de muita classe e afinadíssima, o que é muito raro nos dias atuais.