Não é de hoje que se suspeita que a energia eletromagnética emitida pelas antenas de estações rádio-base de sistemas celulares interfere na saúde da população. O primeiro estudo científico que associou a exposição a campos eletromagnéticos de baixa frequência e a ocorrência de câncer foi publicado em 1979. Depois disso, milhares de pesquisas foram realizadas com o intuito de alertar ao poder público sobre as consequências da instalação desses equipamentos sem controle ou atenção merecidos.
Por exemplo, o estudo conduzido na Universidade Federal de Minas Gerais, em 2010, que culminou em uma defesa de tese de doutorado, revelou fortes evidências entre as mortes por câncer e a localização de antenas de celulares em Belo Horizonte, que confirma resultados obtidos na Alemanha e em Israel, ainda é válido e merece atenção.
Utilizando ferramentas de geoprocessamento, a pesquisa constatou que mais de 80% das pessoas que morreram de câncer relacionado à radiação eletromagnética moravam a cerca de 500 metros de distância de alguma antena.
A tese, intitulada Mortalidade por neoplasias e telefonia celular em Belo Horizonte, Minas Gerais, foi defendida em 26 de março de 2010, junto ao Programa de Doutorado em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos (DESA), da Escola e Engenharia da UFMG, e teve como orientadora a professora Mônica Maria Diniz Leão, do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental, da Escola de Engenharia, e coorientadora a professora Waleska Teixeira Caiaffa, do Departamento de Medicina Preventiva, da Faculdade de Medicina.
Entre os 22.543 casos de morte por câncer ocorridos em Belo Horizonte entre 1996 e 2006, Adilza Dode selecionou 4.924, cujos tipos (próstata, mama, pulmão, rins, fígado, por exemplo) são reconhecidos na literatura científica como relacionados à radiação eletromagnética.
Na fase seguinte do estudo, a pesquisadora elaborou metodologia inédita, utilizando o geoprocessamento para descobrir a que distância das antenas moravam as 4.924 pessoas que morreram no período. Foi nessa área dos 500 m que mais de 80% dos casos de óbitos por neoplasias foram encontrados.
Além do desenvolvimento de algum tipo de câncer, a exposição prolongada à radiação eletromagnética pode causar dores de cabeça, fadiga, insônia, depressão, infertilidade, epilepsia, púrpura, leucemia, aborto espontâneo e falta de produção de leites em lactantes, além de outros sintomas.
Estudos mais recentes chegaram às mesmas conclusões da pesquisa realizada em Belo Horizonte, em 2010. O que levou o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, em julho de 2018, alegando que as antenas colocam em risco a saúde das crianças, a recomendar a retirada de 31 antenas pelas empresas de telecomunicações.
A situação pode ainda se agravada, considerando que o Brasil está na iminência de implantar a tecnologia 5G, o que exige um número bem maior de antenas, além de serem mais potentes do que as que estão atualmente em operação.
Deste modo, o Brasil deve adotar os limites de emissão de radiação eletromagnética já seguidos por países como a Suíça. Além disso, o processo de licenciamento ambiental destas torres antenas de estações rádio-base de sistemas celulares deve ter o cuidado para que não permita a transmissão de sinal de tecnologias sem fio próximo a creches, escolas, casas de repouso, residências e hospitais, além de criar infraestrutura para medir e monitorar os campos eletromagnéticos provenientes das estações de telecomunicação e desestimule ou proíba o uso de celulares por crianças e pré-adolescentes.
Individualmente, as pessoas devem se afastar o máximo possível dos aparelhos que emitam radiação eletromagnética, como celulares e fornos de micro-ondas, de modo a se precaver de algum dano à saúde. Sugerimos em se habituar a desligar o celular quando for dormir e manuseá-lo apenas na mais extrema necessidade.
