O Cancioneiro Popular Brasileiro, mais especificamente a Música Sertaneja, possui um número incontável de canções que falam sobre “sofrência”, a qual pode estar relacionada a dor de cotovelo, brigas de amor e ciúmes. Aí vem a pergunta: O ciúme é uma doença ou excesso de amor?
Na cultura latina, infelizmente, é relativamente comum associar o ciúme a uma manifestação clara de amor e cuidado entre parceiros de um relacionamento afetivo; uma afirmação em nada verdadeira.
O ciúme é uma reação psicológica que envolve múltiplos aspectos, geralmente associada a insegurança, a baixa autoestima e como salvaguarda do afeto pessoal, numa tentativa desesperada de manter uma relação considerada importante, seja ela afetiva, familiar ou entre amigos.
A forma mais comum de ciúmes acomete, indistintamente, homens e mulheres. Desse modo, o ciúme nasce de um medo quase inexplicável de perder a atenção e o interesse da pessoa amada, como também de ficar sozinho ou de partilhar o afeto.
De forma geral, sentir ciúmes é algo natural, uma herança deixada pelos nossos ancestrais. O homem primitivo sentia ciúmes de sua parceira e inquietava-se face a possibilidade de que seus filhos não fossem legítimos e, assim, protegia sua linhagem. A mulher primitiva também sentia ciúmes do parceiro e de suas crias, por medo de ser abandonada.
Até mesmo alguns animais de estimação podem apresentar comportamentos possessivos e reações muito simulares ao “ciúme”. Isso pode ocorrer quanto a um espaço, a uma pessoa, a outro animal ou a um objeto. Questões emocionais, relacionadas à instabilidade e insegurança, faz com que o animal possa desenvolver reações agressivas.
Todos nós, profissionais da saúde mental, psicólogos, psicanalistas e psiquiatras estamos acostumados a lidar com casos de ciúmes – tema frequente em sessões de psicoterapia, que acarreta muito sofrimento tanto para quem o sente, quanto para quem é vítima de uma pessoa ciumenta.
A maioria dos especialistas que estuda o ciúme afirma que isso tem a ver com o medo de perder. Mas perder o quê? A pessoa ou o que ela representa emocionalmente para você? Será que o ciúme não tem a ver com o apego excessivo a uma pessoa?
Acredito que tem muito a ver com o que você prioriza em sua vida; quando você coloca em outra(s) pessoa(s) o centro do seu bem-estar, a serenidade, a segurança, o e senso de valor próprio. Isso poderá se tornar uma obsessão pelo outro, como se esse outro tivesse que ser sua propriedade. Dessa forma, entende-se que esse sentimento está relacionado ao desejo de exclusividade.
A Psicanálise acredita que o ciúme se torna patológico (doentio) a medida em que um, ou os dois do par afetivo, tem conflitos relativos à fase edípica não resolvidos. Portanto, o ciúme normal adoece contaminado pela fixação nos conflitos edípicos não integrados e superados. Essa patologia se estende desde as queixas expressas no ciúme delirante até as atuações extremas, os crimes passionais.
São muitos os casos de pessoas que se veem obrigadas a abandonar velhas amizades, velhos hábitos, renunciar sonhos, estudos e empregos por imposições ciumentas de seus parceiros. Isso acompanhado de desconfianças e controle sobre suas vidas que, invariavelmente, culminam em discussões, algumas marcadas pela violência verbal ou mesmo física.
O que falar, então, da violência moral ao ter sua privacidade violada, ao ter bolsos e bolsas revirados, celulares vasculhados à procura de nomes e chamadas de números desconhecidos, e-mails devassados e constantes exigências de explicações para qualquer atitude que seja julgada como suspeita pelo outro?
A boa notícia é que a construção de um projeto de vida é uma tarefa para a vida inteira, pois ela parte de um ponto em que o autoconhecimento, a conscientização e a vontade de mudar são capítulos indispensáveis para a construção de um passaporte capaz de redefinir nossas vidas, nossas posturas emocionais e comportamentais. Qualquer tempo será o tempo certo para uma mudança de vida.
DICAS PARA O CONTROLE DE CRISES DE CIÚMES
1. ANALISE AS RAZÕES E OS MOTIVOS DE SEUS CIÚMES
• Qual é a situação que despertou esse sentimento?
• Por que e de que você sente ciúmes?
• Aconteceu algo no passado para você se sentir assim?
Importante: Se não houver consciência de que o ciúme pode estar em excesso, é pouco provável que a pessoa vá em busca de ajuda. ⠀
2. TRABALHE A CONFIANÇA NO RELACIONAMENTO
• Você confia no seu parceiro(a)?
• Caso você responda “não” a essa questão, o melhor a fazer é conversar sobre isso. Exponha seus pontos de vista ao parceiro ou parceira, e os fatos que causam desconfiança, mas saiba, desde já, que não é possível mudar as pessoas. Tudo o que você pode fazer é expressar os seus sentimentos e observar a reação dele(a).
3. VIVA NO TEMPO PRESENTE E NÃO NO PASSADO.
Se você já experienciou uma traição, é natural ficar com alguns receios. Entretanto, é imprescindível se libertar do passado.
É importante não trazer as inseguranças provenientes de outros relacionamentos para a relação atual. Se perceber que não consegue superar essa situação traumática do passado, recomendamos buscar ajuda de um psicólogo
4. APRENDA A DEMOSTRAR O AMOR DE FORMA DIFERENTE
O ciúme, ao contrário do que algumas pessoas pensam, não é uma expressão de amor, e sim uma forma de possessão. Certamente você presenciou ocorrências de casais que brigaram em um local público por causa de ciúmes. Esta é a verdadeira face do ciúme: visão egocêntrica e desrespeitosa. Em contraste, o amor ideal: altruísta, benevolente, magnânimo e romântico.
5. FORTALEÇA O SEU AMOR-PRÓPRIO
Mais uma vez, reforça-se a importância da autoestima, do amar a si mesmo acima de tudo. Desde os tempos imemoriais a Bíblia nos ensina: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” Mateus-22:39.
Não se trata narcisismo ou egocentrismo, mas sim de respeito consigo mesmo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com moderação e controle, e em raras ocasiões, uma pequena cena de ciúmes pode ser considerada indício de zelo e um sinal de que o parceiro ou a parceira tem importância, jamais uma prova de amor. Isso porque o ciúme é um sentimento egoísta, ou seja, é voltado para si mesmo, sinônimo de posse, propriedade e medo de perder a pessoa amada.
Em casos patológicos, uma pessoa ciumenta é comparável a um prisioneiro que carrega uma amarga dor em seu peito, sofre a todo instante com as sombrias desconfianças de que pode ser traído ou mesmo abandonado pelo outro, o que caracteriza um sentimento voltado para si, para sua dor, para seu orgulho, portanto, um sentimento doentio.
Busque ajuda psicológica: A terapia de casal pode ser uma alternativa para relacionamentos sufocados pelos ciúmes; uma excelente ferramenta que auxilia no processo de resolução dos conflitos internos e ressignificação da forma como nos relacionamos.