Reflexões Aleatórias

Por: Ulisses Barbosa – jornalista;

“10 anos a 1000” – o redemoinho golpista

Nenhum cidadão, nem no pior pesadelo, poderia imaginar a tragédia política e social que se abateria sobre o Brasil a partir das “jornadas de 2013”. O movimento pela redução do preço das passagens (20 centavos) em São Paulo, foi rapidamente capturado pelo MBL e por grupos fascistas teleguiados pelo capital externo. Abriu-se uma fenda institucional, ética, política e social.

A mídia hegemônica — cerca de dez grandes conglomerados corporativos e familiares — abraçou a causa e, aproveitando a insatisfação popular localizada, apontou para outro alvo: o governo Dilma Rousseff. Ali começou a construção do golpe parlamentar, midiático e jurídico que, em 2016, derrubaria a presidenta. A acusação? “Pedaladas fiscais” (que TODOS ex presidentes cometeram). Dilma seria inocentada 2 anos depois (a “lei” só valeu pra ela em 2016).

O golpe culminou com a votação de 17 de abril, marcada por discursos grotescos. Entre eles, o de Jair Bolsonaro, exaltando um notório torturador da ditadura, o condenado brilhante ulstra (minúsculo mesmo). Foi um erro não prendê-lo naquele triste dia. Ali ficou claro o golpismo atávico (9 golpes ou tentativas ao longo de nossa história). Vários parlamentares paraibanos votaram pelo golpe (com discursos exaltando a família, ou seja, a oligarquia) — muitos deles, continuam no mesmo caminho até hoje. Pense nisso em 2026.

Com Dilma deposta, o golpista/traidor Michel Temer assumiu. A conta chegou (o “deux mercado” cobrando o “investimento”): direitos trabalhistas e previdenciários atacados, uberização do trabalho e retrocessos sociais graves. Aqueles que foram às ruas “contra a corrupção” viram na prática o preço de sua ingenuidade. Mas nada é tão ruim que não possa piorar.

A mídia corporativa e o poder econômico (Faria Lima/agronegócio/rentistas) abraçaram Bolsonaro, o mesmo deputado que idolatra um torturador. Criaram o “mito”: um outsider que nunca foi. Ignorante, racista, misógino, homofóbico, anti-povo, anti-trabalhador — embalado para presente como “renovação” na política, anti-sistema… Muitos jornalistas “isentões” ajudaram a vender essa farsa, viu?

Assim, em 2018, parte da sociedade mergulhou em um delírio neo fascista coletivo. A história se repetiu como farsa. Criminalizaram a política e as esquerdas, lincharam reputações, ressuscitaram as velhas oligarquias e as “raposas” hereditárias do Congresso. Assim, abriu-se caminho para o inferno da extrema-direita: ódio, violência, preconceito, higienismo e crimes contra a administração pública com as bênçãos do fundamentalismo politico religioso (ou vice versa).

Diante desse cenário não surpreende que o bolsonarismo (flexibilizando leis e normas econômicas) abriu o caminho para células do crime organizado dentro do próprio Estado, alinhado com a Faria Lima (lavanderia com vasta expertise).

O Brasil então conheceu seu pior momento desde a ditadura. Quatro anos de retrocessos civilizatórios, sociais, políticos e econômicos. A pandemia agravou tudo: mais de 700 mil mortos, vítimas da negligência e do negacionismo de um presidente que ria da dor de famílias enlutadas.

Foram 1460 dias de crimes diários, de ataques à democracia e articulações golpistas com militares, políticos, empresários e líderes religiosos. Perdemos batalhas, inclusive a comunicacional, mas não a guerra. Voltamos às ruas. Com Lula livre, após a farsa da Lava Jato ser desmascarada, recuperamos forças e vencemos nas urnas.

A vitória veio, apesar das trapaças de Bolsonaro: compra de votos com bilhões em benefícios ilegais, uso da máquina pública, interferência policial, ataques ao processo eleitoral. Jogaram o “tudo ou nada”. Se vencessem, tudo desapareceria. Assim, Brasília foi atacado dia 12/12 2022, tentaram explodir o aeroporto no natal. Enquanto isso, o “mito” fugia para os EUA (viralatismo puro). Perderam de novo. Então partiram para o ato ainda mais extremo: a tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023. Perderam mais um vez, as instituições funcionaram e reagiram. Hoje, toda a organização criminosa está em julgamento. Todos estão no banco dos réus, exumando o cadáver de 1979, a maldita anistia ampla geral e irrestrita. Um erro que começa a ser reparado hoje.

Ironias da história: hoje, Bolsonaro e comparsas estão sendo julgados com base na lei que o próprio Bolsonaro aprovou. Outra, nestes dez anos vimos amigos, familiares e artistas se revelarem bolsonazifascistas. Muitos permanecem em transe, outros, acordaram e perceberam o engodo político, social e humano representado pelo “mito” — Lobão (um ex zumbi bolsonazifascista) e “decance avec elegance” me vieram à memória (1990), “viver dez anos a mil ou mil anos a dez…”

Foram 10 anos a mil, de retrocessos (ódios, violências, fome, pobreza, preconceitos, desrespeitos e desprezo pela vida). Agora precisamos de mais 5 anos a 10 mil para reconstruir os parâmetros civilizacionais para voltarmos a ser uma nação soberana e um povo livre. A polarização não é esquerda x direita, é sobre civilidade x barbárie, sempre foi sobre isso. Só os isentões defendem o contrário. Lutar sempre!

Resumo: o amor venceu o ódio. Venceremos de novo!

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