Quando deixamos nossa terrinha

Por:  Neves Couras;

Fazendo uma das coisas que mais gosto, andar pela feira conversando com os feirantes e as pessoas com quem vou encontrado, e como eu, gostam de um pouquinho de prosa. É uma das minhas áreas de pesquisa. É neste lugar de todos, que encontramos muitas histórias de vida que, por razão desconhecida, resolvem me contar suas histórias, que podem surgir pelo preço ou qualidade de um produto, outra pela forma como somos tratados, ou algo que provoca alguma lembrança.

Eu sempre gostei de conversar. E quando encontro alguém que está esperando quem lhe ouça, é muito bom. Eu falo se for um tema que conheço, ou se não sei, escuto e aprendo. É assim, que as pessoas se conhecem e muitas vezes daí, surge um amigo ou mesmo apenas um conhecido.

Quando morávamos em Brasília, passamos uns anos morando numa das cidades satélites mais próxima do Plano Piloto, onde havia aos domingos uma grande feira. Eu acompanhava meu pai nessa aventura. Ele ficava irado comigo, pois eu conseguia identificar muitas pessoas de Pombal e de sítios vizinhos aos do pai dele. Antes de abordar a pessoa eu perguntava: – Pai, aquele ali não é da família tal? Ele olhava e ia logo dizendo: – é, mas por favor não vá conversar com ninguém que eu não estou afim de falar com esse povo.

Antes dele terminar de falar eu já estava junto a pessoa perguntando: – você é fulano? -Sou e você? Eu sou filha de Alfredo de Antônio Mororó, olha ele ali. Desse encontro rolava uma tempão de conversa e eu ia aprendendo as histórias deles. Quando saiamos dali, ele já dizia: você não vem mais comigo para feira. No outro domingo, já estava cedo pronta para ir pra feira. Sempre foi uma grande diversão para mim, conversar e conhecer pessoas.

Voltando aqui para o presente, estive essa semana nas bancas do Mercado da Torre e da mesma forma de abordagem, encontrei um desses senhores comerciantes que está vendendo seus produtos, mas segundo ele, as pessoas andam tão apressadas, que muitas vezes nem se olham.

Percebi que ele estava meio triste e realmente precisava de alguém para conversar, Eu estava sem pressa, comprei o que queria e fui perguntando algumas coisas a ele, quando veio já a pergunta: – A senhora não é daqui não né? Eu respondi e já fiz a mesma pergunta a ele. Ele foi dizendo que era sertanejo também, e que tinha muita saudade do jeito de povo “lá de nós”;

Tomei a liberdade de perguntar a quanto tempo ele morava aqui, o por que ter vindo para cá, e ele aos poucos foi falando de sua vida, de seus filhos o amor pela esposa, mas que gostaria muito de voltar para a terrinha dele. Apesar de não ser muito idoso, vi naquele homem uma pessoa muito só.

Conversarmos muito e quando sair de lá vi que estava mais alegre e feliz. Quando falamos de casamento, falei que era viúva e ele disse: Vou dizer duas coisas para a Senhora que os homens morrem por dentro, mas não diz a ninguém. Quando leva um chifre e quando precisa tomar os comprimidinhos que quando vamos ficando mais velho precisamos. Deu uma boa risada e ali, fui me despedindo.

A história dele me trouxe grandes lembranças das vezes que minha mãe chorava quando morávamos em Brasília. Nós dizíamos que era sem razão que ela chorava, mas hoje, como eu compreendo como é difícil deixar nossa “terrinha”, nossa família e amigos para morarmos em lugares nos quais não conhecemos ninguém.

Mesmo dentro do mesmo estado ,sentimos a diferença no modo de ser das pessoas. Eu senti isso quando trabalhava com comunidades rurais do Litoral ao Sertão. Temos costumes e jeito de tratarmos as pessoas completamente diferentes. Imaginemos de Um Estado para outro. Sinto o quanto minha sofria, querendo voltar para juntos das pessoas que ela amava e que tinham histórias de vida parecidas. Até hoje eu sinto não saber por onde andam e como vivem minhas amigas do ginásio, hoje primeiro grau. Me mudamos tanto de lugar, que não fizemos verdadeiras amizades.

 

Acho que é por isso que gosto de saber das pessoas, e trocar experiencias. Afinal, vivi e aprendi o jeito de ser de muita gente, mas hoje, o que mais faz falta a todos nós que vamos ficando mais velhos são as amizades sinceras. Como bem disse o Senhor que conversamos lá na feira, as pessoas não confiam mais uma nas outras.

Ele falou muito da politica brasileira, sem se referir a nenhum partido, mas se queixava da falta de caráter de seriedade de muitos que estão nos postos de poder. Ele ainda com voz de saudade falou: “Lembro do meu Pai que falava que no tempo dele as pessoas compravam e pagavam sem ter nenhum documento assinado. Se marcava na caderneta a compra e acertava o dia de pagar, as pessoas pagavam. Não enganavam ninguém. E hoje”

Estamos realmente vivendo tempos difíceis. Eu falo que hoje o que importa é a aparência, a roupa de certa marca, a bolsa o sapato. São esses os valores vistos nos dias de hoje. Precisamos olhar um pouco mais para nossa essência, nosso jeito de ser com o próximo, inclusive o mais próximo.

Deixar nossa “terrinha” não é só deixar nosso lugar, é deixar de sermos honestos, amigos verdadeiros, é olharmos para outro com um pouco de empatia, solidariedade. Pararmos para olhar um pouco para o outro. É dá um bom dia, uma boa tarde mesmo para quem não conhecemos, mas estamos passando um pelo outro.

A solidão está a cada dia deixando pessoas tristes, com a tristeza vem a depressão e com ela outras enfermidades.
Vamos olhar para nossa terrinha interior – nosso coração -e, contribuir para sermos pessoas melhores para uma vida melhor.

 

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