Por: Bodão Ferreira;
A linguagem marca a identidade
Um grupo se reconhece no falar
Pois a palavra indica seu lugar
E define o canto em sociedade
Mas parece que a diversidade
Segue ameaçada no Brasil
Uma ruma de termos se extinguiu
Ou foi suspensa do vocabulário
Não sei quando mudaram o dicionário
Que o linguajar mudou e ninguém viu
O patrão agora é “empregador”
E o “autônomo” era desempregado
Não se fala mais proletariado
E o peão não é mais trabalhador
Hoje chamam de colaborador
Mas continua sem ter o que produziu
Charlatão também substituiu
Por “coach”, “mito” e “pastor visionário”
Não sei quando mudaram o dicionário
Que o linguajar mudou e ninguém viu
Emancipação virou “empoderamento”
Fazendeiro é “produtor rural”
Mentiroso é “coach motivacional”
Comércio e agora “empreendimento”
O boicote virou “cancelamento”
A mentira se chama “fake New”
Dirmantelo é “Big Brother Brasil”
E escravo chamam de Funcionário
Não sei quando mudaram o dicionário
Que o linguajar mudou e ninguém viu
A linguagem mudou de um certo jeito
Pra criar na cabeça confusão
Esvaziando a interpretação
Alienando a fala e o sujeito
Liberdade não anda com preconceito
Nem justifica comportamento hostil
Nem adulto com hábito infantil
Pode atacar os grupos minoritários
Não sei quando mudaram o dicionário
Que o linguajar mudou e ninguém viu
Se quem anda armado é “pró vida”
Quem luta pela terra é “vagabundo”
O país que explora é “primeiro mundo”
E quem exige direitos é “suicida”
Quem ajuda o outro na corrida
É taxado de “besta” e não gentil
Quem age indiferente e arredio
É visto como “foco milionário”
Não sei quando mudaram o dicionário
Que o linguajar mudou e ninguém viu
