
Por: Mirtzi Lima Ribeiro;
Em meio ao burburinho e ao estresse tão comuns no final do ano, tudo parou de repente como se alguma mão invisível tivesse dado uma pausa no controle remoto para um filme de algum streaming.
Para onde e revestidos de que motivações estavam indo e vindo aquelas pessoas com tanta pressa? Nesse instante a multidão parou, todos suspenderam as ações e passos, os olhares e gestos, os pensamentos e desejos, os alvoroços e urgências.
Agora parecem bonecos de cera encarnando um flash de alguma peça teatral da era antiga. Eram gregos, romanos, samurais ou aborígenes? E isso importa? Não, não importa. O que importa era como elas viviam, falavam, agiam, amavam e se emocionavam.
De suas sensações, recordações e comoções angustiantes, eu não tenho interesse em saber nenhum detalhe. Imaginei-lhes acionando suas capacidades de transformá-las, curá-las, de suavizar seus efeitos e de usá-las apenas como aprendizado. Afinal, estar curado é lembrar sem sentir dor ou desconforto.

E nessa pausa abrupta, aquele presente não foi comprado, o bilhete não foi enviado, o e-mail não foi respondido, nem houve curtidas nas postagens dos amigos e até aquela mensagem de voz urgente não foi ouvida. E a lâmpada ficou acesa ou não deu tempo de ligar, a água não continuou a jorrar, a brisa parou, as flores não desabrocharam e esse momento ganhou um tipo de leveza desconhecida pela estagnação ou pela sensação de impotência imediata.
Racionalmente as pessoas não perceberam que o tempo parou, que estavam imóveis, inertes, sem movimento e sem raciocínio ativo. Ficaram letárgicas, numa espécie de hibernação instantânea, uma pausa na pulsação acalorada, na preocupação com os ponteiros do relógio e o tempo exíguo.
Ali estava clara uma ruptura, um lapso no tempo, uma pausa inesperada e forçada vinda dos Céus! Talvez porque fosse preciso desacelerar o passo e seguir em outro compasso. Era tempo de compreender que aquela agitação não tinha nexo e nem lógica, assim como o mundo não iria se acabar amanhã.

Consegui visualizar ondas de suavidade sutilmente descendo dos Céus, como o maná bíblico, como uma aurora boreal translúcida que trazia uma sensação de paz, de acolhimento e de bonanças. Talvez os anjos estivessem derramando ondas de amor e de luz. Afinal, a humanidade está mais do que necessitada dessa luz, desse amor e dessa sensibilidade afetiva.
Vi essas ondas se espalharem por todo o globo, enquanto uma luz focalizava os corações das pessoas. Então, o semblante delas, antes tomado de angústia, passou a esboçar um leve sorriso de Monalisa.
Os bombardeios também cessaram, os banqueiros compreenderam que não deveriam querer a maior parte do bolo e das iguarias mais seletas, os juízes receberam um banho do real senso de justiça e equanimidade, os governantes entenderam que precisam ter o foco na coletividade e não nos interesses meramente partidários ou ideológicos.
Talvez uma nova programação mental tenha vindo com as ondas de amor e luz derramadas. Eu estava testemunhando um evento cósmico? Vi que as ondulações tocaram a todos como um grande plasma. Estávamos imersos nelas.

Aos poucos e muito lentamente os movimentos foram voltando, agora o sol iluminava faces mais serenas entre as pessoas, um ar de suavidade se fez presente, a letargia dos bonecos de cera foi interrompida para que se movessem, andassem e ficassem ativos novamente.
E então eu consegui ver que as pessoas voltaram ao movimento menos densas, mais suaves na emoção e nos passos. A esperança estava pousada em suas testas, borboletas voavam nas cercanias, flores em vasos e nos braços das pessoas encantavam pelo visual colorido e as faces humanas pareciam mais iluminadas.
Enfim, o coração delas compreendeu que não era o fim do mundo, eram apenas os últimos dias de um ano. Amanhã, haveria continuidade, portanto, deviam ter alegria e jamais estresse nessa fase do ano.




