Por: João Vicente Machado Sobrinho;
A aliança entre a mitra e a coroa é antiga e quase indissociável. Ao longo dos séculos trono e púlpito caminharam lado a lado, ora em harmonia ora em disputa. Essa fusão de interesses-políticos, econômicos e espirituais, moldou civilizações tanto no Ocidente monoteísta, quanto no Oriente politeísta.
Os registros bíblicos encontrados nos seus vários livros, narram em detalhes a saga de profetas e líderes religiosos tais como: Abraão, Davi, Esaú, Jacó, Elias, Salomão, Moisés, Josué, João Batista, além do próprio Jesus Cristo. Não é difícil perceber na narrativa bíblica que os espaços políticos entre o trono e a mitra sempre foram muito estreitos e disputados.
A Bíblia não pode nem deve ser vista como um livro sectário, com exclusividade do Ocidente ou do Oriente. É, antes de tudo, um registro histórico e espiritual, difundido em todo mundo e acessível a qualquer leitor de boa vontade.
Existem outros textos de cunho religioso, dignos da nossa atenção e do nosso respeito. Eles também são considerados sagrados, tais como: o Alcorão (do Islã) o Tora e Tanakh (do judaísmo) os Vedas e o Bhagavad Gita (do Hinduísmo) e o Tripitaka (do Budismo).
Mesmo sendo a religiosidade um tema de ordem muito pessoal, não há como negar a existência de pregadores de diversos matizes, mais ou menos próximos da nobreza do que da plebe, portanto mais próximos do trono do que da mitra. Com certeza, muitos desses pregadores se incluem entre aqueles que o Cristo classificou como maus profetas:
“O Senhor Jesus disse: “Nem todo o que Me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de Meu Pai, que está nos céus. Muitos Me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em Teu nome? e em Teu nome não expulsamos demônios? e em Teu nome não fizemos muitos milagres? Então lhes direi claramente: Nunca vos conheci; apartai-vos de Mim, vós que praticais a iniquidade” (Mateus 7:21-23);”
Essa prática usurária na época contemporânea, não é e nem nunca foi, uma prática cristã. Mateus (7:21-23). Essa avidez insaciável por dinheiro manifestada por alguns pregadores, em nome da divindade, tem características muito mais próximas de uma deformação religiosa, totalmente imiscível com a pregação divina.
Esse é um tema melindroso, o qual, representantes políticos e religiosos evitam. Eles temem o desencadeamento de uma erosão de fé, ou até mesmo eleitoral por parte da multidão de pessoas de boa vontade. A manipulação é uma prática de formato acintoso, usada em proveito dos próprios pregadores e das suas famílias. Munidos de uma oratória apocalíptica eles desenham através do terror, a caricatura de um Deus rigoroso, insensível, severo e vingativo, inculcando nas pessoas um pavor a tudo quanto venha a divergir do receituário do pregador espetaculoso e teatral. Embora existam pregadores e praticantes do verdadeiro evangelho dos deuses que são merecedores de muito respeito, está faltando alguém decidido a incorporar a ira sagrada do Cristo, que de chicote em punho, expulsou os usurários vendilhões do templo.
Essa é uma passagem bíblica que os maus pregadores evitam e relativizam, talvez por considera-la “um mau exemplo.”
Para uma melhor compreensão, é muito importante relembrar que a cena da expulsão dos vendilhões do templo, foi narrada pelos quatro evangelistas: Mt. 21:12-13; Mc.11:15-17; Lc.19:45-46; Jo.2:13-17. Há um detalhe sutil na narrativa dos quatro evangelistas. João coloca o fato da expulsão, no início do seu ministério. Enquanto isso, os chamados evangelistas sinóticos, o colocam no final. Teria sido devido ao grau de importância conferido ao fato? Para nós, outros, é impossível afirmar, todavia não há nenhum impedimento em destacar:
“O Templo de Jerusalém era considerado o lugar da presença de Deus, um espaço reservado para oração, sacrifício e comunhão com o Senhor. Porém, comerciantes vendiam animais para sacrifício e cambistas trocavam moedas comuns por moedas aceitáveis no Templo — tudo isso dentro do átrio, o lugar que deveria estar aberto até para estrangeiros buscarem a Deus. Havia indícios de que esses comerciantes, provavelmente em conluio com líderes religiosos, cobravam preços abusivos e criavam obstáculos para quem vinha oferecer sacrifícios. O culto havia se tornado um negócio — usando o nome de Deus, como fachada para lucro injusto. No contexto bíblico não foi apenas um gesto de indignação moral: foi um sinal profético. Os profetas do Antigo Testamento já haviam denunciado práticas religiosas hipócritas.
Resumindo: Jesus expulsou os vendilhões porque o espaço de oração havia sido profanado e transformado em um mercado corrupto, explorador e excludente. O ato foi ao mesmo tempo uma denúncia contra a hipocrisia religiosa e um sinal messiânico de purificação e renovação do culto a Deus.”
Quando a imprensa divulga, de forma muito superficial, o ranking dos pregadores mais ricos do mundo, inclusive os do Brasil, há uma informação adicional: alegam não existir uma relação atualizada em 2024. Em assim sendo, por escassez de informações confiáveis, só poderemos mostrar uma lista publicada na revista Forbes no ano de 2013. Mesmo com valores históricos e passiveis de atualização monetária, os números são espantosos. Vejamos:
1- Edir Macedo. US$950 milhões
2- Waldemiro Santiago. US$220 milhões
3- Silas Malafaia. US$150 milhões
4- RR Soares. US$125 milhões
5- Estevan Hernandes Filho e a esposa
6- Sônia. US$ 65 milhões.
Se considerarmos que esses pregadores têm dedicação exclusiva ao seu ministério, e além disso que as suas atividades laborais se restringem exclusivamente ao púlpito, é fácil deduzir que essa generosa receita que auferem, é originaria dos seus fieis seguidores. Vem de um extrato social pobre e é generosamente doado por pessoas de bom caráter, de muita fé e boa vontade.
Quando os pregadores são indagados sobre essa extorsão cruel, são céleres em usar como álibi as palavras do próprio Cristo em resposta aos fariseus.
“Os fariseus tentaram encurralar Jesus, perguntando se era lícito pagar o imposto a César, o imperador romano. Se Jesus dissesse que não era, seria acusado por eles de rebelião contra Roma; se dissesse que sim, muitos judeus considerariam uma traição ao seu povo, devido ao ressentimento contra o domínio romano. Os adversários agiram com “malícia”, buscando uma forma de acusá-lo.”
A resposta do Cristo foi incisiva e imediata: “Portanto, dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”. Ora, se na moeda usada pelos Fariseus estava estampada a efigie de Cesar, o imperador romano, Cristo não poderia ter dado outra resposta que não fosse essa: A César o que é de César!
Em seguida com a perspicácia divina de que era possuidor, ele que sempre afirmou que seu reino não era desse mundo, completou a frase dizendo: “e a Deus o que é de Deus.”
Na resposta do Cristo ficou patenteada para a história e para a posteridade, a mensagem que até os dias de hoje ainda é subestimada por muitos. Cabe aqui algumas perguntas que não querem calar:
Será que a primazia para com os deveres perante Deus está sendo observada? Será que não está havendo um exagero nas homenagens à Cesar? Será que aqueles que se dizem pastores estão obedecendo à primazia de cumprimento dos deveres para com Deus? Será que os pregadores contemporâneos estão pondo em prática os ensinamentos do Cristo, como um bom exemplo?
O que aconteceu com o Cristo todos sabem. Num só dia ele foi julgado sumariamente em dois tribunais e condenado em ambos.
O primeiro deles um tribunal judeu: composto por escribas e sacerdotes que condenaram o Cristo à crucificação, um castigo que à época era imposto aos presos políticos.
O segundo deles um Tribunal Romano: que por sua vez também o condenou o Cristo no momento em que Pilatos encenou uma lavagem de mãos demagógica, sugerindo neutralidade. Aquela atitude era no mínimo uma demonstração pública de neutralidade e acumpliciamento.
Conclusão:
Cristo escolheu a a cruz em vez do trono. Moisés preferiu o púlpito ao palácio. E nós, hoje, a quem estamos servindo? Ao Deus da justiça ou ao César dos tempos modernos? Será que os pregadores que se autodenominam pastores e bispos, que exemplificamos, não estariam exacerbando no servilismo ao Trono em detrimento do Púlpito.?
Que acham?
Referências:
O que respondeu Cristo sobre o pagamento de tributos à Cesar? Bíblia-Livro-Edição Pastoral Mateus 22;
Fotografias:
MUITAS CRENÇAS E RELIGIÕES NO MUNDO, POUCO CONDUÇÃO AO CÉU – Pedro …;
Coroa De Imperador | MercadoLivre 📦;
O Púlpito – Wikipédia, a enciclopédia livre;
Os Vendilhões do Templo;
Lista Forbes dos pastores mais ricos do Brasil » Castro Digital;
As nulidades no julgamento de Cristo | Jusbrasil;