Novo Cenário Geopolitico: Tendências e Perspectivas

Por: João Vicente Machado;

A palavra geopolítica, nunca esteve tão presente no cotidiano das pessoas, como tem acontecido nos últimos tempos. A rigor trata-se de um neologismo, do início do século XX, de autoria do cientista político sueco Rudolf Kjellén. Ele cunhou esse verbete para enfatizar a importância e a influência da geografia, nas relações políticas e estratégicas, entre os diversos Estados nacionais.

A geopolítica é uma prática histórica recorrente, que mesmo não tendo uma nomenclatura própria, já existia e era presente na expansão territorial dos impérios da idade antiga e medieval. Naquela época já envolvia as conquistas militares, as crises econômicas e as transformações culturais. Foi uma pratica recorrente em tempos pretéritos e na gangorra cronológica marcada pela ascensão e pela  queda de vários impérios ao longo dos milênios.

 

Nesse passo, e fazendo uso antecipado do que hoje em dia é denominado geopolítica, a humanidade atravessou o domínio dos impérios da antiguidade, tais como aqueles da idade antiga:  egípcio, grego e romano, quanto os impérios medievais, os impérios mongol, islâmicos e otomanos e até os impérios dos povos originários como é o caso dos impérios asteca e inca. Por fim, vem atravessando  os impérios coloniais e econômicos como, aconteceu com o  império inglês e mais recentemente o império dos Estados Unidos da América do Norte-USAN.

Ao fim da 2ª guerra mundial, o mundo foi  dividido em dois blocos ideologicamente antagônicos, ambos com uma filosofia político-econômica própria e um método próprio, no que concerne à divisão do trabalho e da renda. Um deles era o bloco liberal capitalista, liderado pelos USAN e o outro era o bloco socialista Liderado pela União das Republicas Socialistas Soviéticas-URSS.

“A 7 de maio de 1945, em Berlim, o que restava do exército alemão rendeu-se às tropas russas. Nesse dia assinava-se um primeiro documento de rendição. A 8 de maio de 1945, os responsáveis nazistas assinavam o armistício com os aliados ocidentais e no dia seguinte assinaram um outro  com os Russos. A guerra na Europa estava terminada, mas para trás ficaram mais de 60 milhões de mortos, no conflito mais sangrento e traumático da História da humanidade.” (1)

Em e 4 de abril de 1949, logo após a vitória da revolução socialista chinesa, os Estados Unidos da América do Norte e mais 12 países aliados criaram em Washington D.C, a Organização do Tratado do Atlântico Norte- OTAN.

A OTAN foi gestada no final da 2ª guerra mundial, quando os USAN assistiram a bravura da URSS naquela que denominam até hoje como guerra pátria, e na qual perderam 27 milhões de soviéticos. Além disso assistiram também a vitória das tropas socialistas chinesas em 1948.  Portanto não é nenhum exagero afirmar que a OTAN e a guerra fria são irmãs siamesas.

         

A disputa geopolítica entre os blocos socialista e capitalista, se iniciou com à guerra da Indochina, (1946-1954) onde de um dos lados estava a França e do outro lado o Vietnam. A celebração da paz entre ambos  custou o preço geopolítico  da divisão do Vietnam em dois países. Sendo que o país do Norte optou pelo socialismo e o país do Sul resolveu permanecer capitalista.  O conflito com a Coreia, (1950-1954) também resultou no pagamento de um preço geopolítico que foi a  divisão do país em dois, sendo que a parte Norte aderiu ao modelo  socialista  soviético e chinês, enquanto a parte Sul se aliou ao capitalismo estadunidense.

Em 14 de maio de 1955 a Rússia objetivando um equilíbrio geopolítico, criou o Pacto de Varsóvia, com a adesão de 07 países aliados que foram  signatários. O objetivo da criação foi tanto no sentido de fazer valer a presença da União das Republicas Socialistas Soviéticas-URSS na Europa Oriental, quanto para se precaver contra possíveis ataques por parte da OTAN contra os seus integrantes e correligionários, como já ocorrera na Coreia e no Vietnam.

A Otan e o Pacto de Varsóvia eram alianças rivais durante a Guerra Fria, com a Otan representando o bloco ocidental e o Pacto de Varsóvia, o bloco comunista, em uma divisão ideológica e militar que perdurou por décadas. (2)

 Tendo em vista a pressão político, econômica e ideológica que foi feito pela OTAN, tanto contra à própria URSS quanto aos seus aliados, a partir da década de 1980 e ainda sob a liderança de Leonid Brejnev, teve inicio à desconstrução da aliança socialista soviética.

Com a morte de Brejnev acontecida no ano de 1982, houve a passagem meteórica  de dois líderes na chefia do estado soviético: Yuri Andropov entre 1982 e 1984 e Konstantin Chernenko (1984 a 1985). Em 11 de março de 1985 Mikhail Gorbatchov assumiu o papel de último líder da URSS, até a sua dissolução no ano de 1991.

Coincidência ou não, o fato é que em abril de 1978 tinha assumido como Papa e chefe de Estado do Vaticano, um polonês de nome Karol Wojtyla com opção pessoal de nome João Paulo II. Ele sucedeu ao italiano João Paulo I, nascido Albino Luciani, que falecera há apenas 1 mês da sua posse como Papa. Aliás a morte do pontífice sorridente  de apenas 66 anos, ainda hoje se reveste de mistério e não foi convincentemente explicada.

No ano de 1980, surgiria na Polônia, a terra do Papa João Paulo II, um movimento social e sindical, autodenominado   independente. Em 17 de setembro do mesmo ano, foi criado um sindicato e uma federação, ambos autônomos, nos estaleiros Lênin na cidade de Gdansk, liderados por um eletricista polonês de nome Lech Walesa que estabeleceu uma ligação estreita com Wojtyla que passou a ser seu conselheiro.

A trajetória dos USAN desde a década de 1950 até os dias atuais, foi marcada pela sua ascensão à condição de superpotência mundial após a 2ª guerra. Nessa condição a travessia de todo período da guerra fria, foi maraca pela dicotomia com a URSS. Além disso passou a experimentar a dificuldade de convivência com os novos desafios, principalmente com o surgimento de países socialistas emergentes, tendo à frente Cuba e China.

     

Diante dessas intercorrências a   política externa adotada pelos USAN, foi marcada por:  ações de contensão a qualquer custo do modelo socialista; aplicação indiscriminada da doutrina Truman; ações substitutivas do que restou do plano Marshall para aliviar o pesado  ônus; fortalecimento militar da OTAN que veio a se transformar num braço armado do liberalismo capitalista. Baseados nesse ideário, as intervenções dos Estados Unidos da América do Norte no período que sucedeu a 2ª guerra passaram a acontecer em escalas e duração diferenciadas. Em larga escala tivemos as Guerras do Vietnam, do Iraque e do Afeganistão e até intervenções diretas mais limitadas como foi o caso do Panamá e de Granada.

As justificativas para essas atitudes ousadas e controversas, sempre eram dadas escamoteando os verdadeiros motivos, todos eles iminentemente geopolíticos. As justificativas para todo esse patrulhamento ideológico sempre são recheadas dos mais diversos subterfúgios, tais como:  o restabelecimento da democracia interna; a derrubada de regimes considerados hostis aos USAN; a luta contra o terrorismo; a defesa de aliados; a proteção de direitos econômicos, entre outros.

Os países da América Central, da América do Sul e do Caribe, talvez por serem considerados por eles como meros porta aviões, talvez estejam incluídos no script dos bonés de Donald Trump: MAKE AMERICA GREAT AGAIN que traduzido significa: TORNAR A AMERICA GRANDE NOVAMENTE.

Vejam a empáfia de quem aparenta desconhecer a geografia ou tem na realidade um pensamento autoritário e neocolonialista. Esse egocentrismo é antigo e foi declarado nos idos de 1823 na frase emblemática do então presidente James Monroe: “A AMERICA PARA OS AMERICANOS”.

Houve ainda a síndrome anticomunista do senador Joseph MacCarthy, que pugnou pela expulsão do  imenso e indefectivel Charles Chaplin, o qual foi expulso dos USAN, acusado de fazer críticas ao capitalismo e à sociedade estadunidense que o considerava libertino.

Países como: Guatemala, Cuba, Nicarágua, Chile, Republica Dominicana, Venezuela, Equador, Bolívia, Paraguai, Uruguai, Argentina, Brasil já foram ocupados, ou desestabilizados politicamente por governos títeres apoiadas pelos USAN. Assim também aconteceu na Europa, na África, na Ásia e na Oceania.  É como se tudo fosse um grande condado em que o Xerife é indicado pelos USAN. A Bola da vez  da prepotência é o arbitrário, arrogante e plutocrata Donald Trump que agora parece com maiores dificuldades em intervir, dar um passeio armado e calar o mundo.

A tentativa de implementação generalizada do projeto neoliberal, que seduziu e influenciou o modelo capitalista de desenvolvimento a partir do Consenso de Washington em 1989, hoje encontra muita dificuldade em prosperar, principalmente nos países do leste europeu, pela qualidade de vida que esses países alcançaram no período socialista. De modo que a expansão geopolítica dos USAN, não foi e nem está sendo fácil como OTAN imaginava.

É verdade que a OTAN, braço armado do imperialismo estadunidense, tinha 12 filiados na época da sua fundação, hoje tem 32 países membros; É verdade que depois da 2ª guerra os USAN expandiram sua presença militar em todo planeta terra e hoje em dia tem mais de 750 bases militares em mais de 80 países do mundo; É verdade que conflitos como o da Ucrânia, são de ordem meramente geopolítica.

A propósito do conflito da Ucrânia, ele  tem como questão de fundo, o que a imprensa oficial esconde que é a intenção dos USAN de instalar uma base militar na Ucrânia, fronteira com a Rússia e colada com o velho e conhecido corredor polonês, com o que  a Rússia não concorda.  Como nesse convento não existe freiras, o que menos preocupa a ambos é a população da Ucrânia que está virando um monte de escombros numa guerra que consome segundo o próprio ministro das finanças da Ucrânia, 120 milhões de euros por dia, que equivale a R$ 644 milhões.

Hoje a grande e incessante dor de cabeça que tem tirado o sono, o sossego e o juízo de Donald Trump são os BRICS. Esse bloco já nasceu grande, com 37% do PIB mundial e não para de crescer. A proposta principal dos BRICS é libertar os países de boa vontade tutela do dólar e do tacão dos USAN. Essa é a questão de fundo da guerra da Ucrânia,  que tem motivado as tropelias e os tarifaços coléricos e desesperados  de Donald Trump.

Fechamos o nosso artigo com a citação do  trecho final do romance de José de Alencar Iracema. Ele   finalizou  com a frase atualíssima que cabe muito bem no final desse artigo:

“Tudo passa sobre a terra!”

 

 

 

 

 

 

 

 

Referências:

A Segunda Guerra Fria: Geopolítica e dimensão estratégica dos Estados Unidos: das rebeliões na Eurásia à África do Norte e ao Oriente Médio Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira;;

O fim da II Guerra Mundial – RTP Ensina; (1)

Pacto de Varsóvia: o que foi, resumo, objetivos – História do Mundo; (2)

  1. João Paulo II, papa – Informações sobre o Santo do dia – Vatican News;

Fim da Guerra Fria: resumo, causas, como foi – Brasil Escola;

Brasil, Argentina e Estados Unidos: conflito e integração na América do Sul : da Tríplice Aliança ao Mercosul Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira;

Fotografias:

A geopolítica no atual momento – Pesquisa Google;

Mapa do Império Romano durante a época de Jesus de Nazaré : r/brasil;

Solidarność – Pesquisa Google;

Mapa Guerra Fria.gif:: Jcmontteiro;

A Otan – Pesquisa Google

 

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