Por: Neves Couras;
Acredito que realmente tem algo de mágico que nos envolve no mês de junho. Afinal, são tantos santos; é Santo Antônio, São João e São Pedro. Santo Antônio, facilita a busca do amor para o casamento, São João se envolve com os festejos do casamento e São Pedro, busca a casa e entrega a chave da casa aos noivos. Tomara que eles não fiquem chateados com as funções que acabei de dar para cada um deles. Mas como é festa, o que importa mesmo é a alegria.
Chega de tristeza, afinal, quem tem mesa farta, um amor para chamar de seu e um sanfoneiro para tocar, não vai se importar se o vestido é de chita, ou se a roupa tem pequenos remendos.
Um terreiro de chão bem batido, uma bebidinha para facilitar a desinibição, em todos os lugares tem alegria. Para a fogueira, juntava-se toda madeira das árvores que secavam e caiam, com um único objetivo: homenagear os Santos, juntar a família, sem nem um tostão a pagar.
No Goiás tem o quentão para esquentar o frio quando os braços dos amados não dão conta de esquentar a friagem. Na Paraíba, vou lhes contar algumas versões da bebida antes da chegada do gelo nos sítios.
Em todos os tempos, pelo menos que eu saiba, houve um “forro pé de serra”. Um sanfoneiro, o zabumbeiro e um triângulo. Dificilmente quem está no forró, aguenta dançar a noite inteira, sem tomar uma bebidinha que ajude a “esquentar” o sangue, que na verdade já está bem quente pelo despertar dos hormônios liberados pelo cheiro dos corpos desejado ali em seus braços.
Lembro-me do meu tio avô, que juntamente com meu pai, gostavam de uma branquinha. Geladeira nem pensar. À época, quando se tinha uma geladeira, eram as famílias de alto poder aquisitivo e a geladeira era a gás. Não era para o nosso padrão social.
A festa era além do ponto de encontro de toda parentela na casa o meu avô, se reuniam os contadores de história, as moças fazendo suas adivinhações conforme o Santo da noite, mas a bebida era a cachaça mesmo, que desde o dia anterior ela colocada aos pés dos potes com areia molhada para garantir que na hora de se iniciar a festa estivesse “gelada”.
Na casa de meu avô tinha um ritual para se iniciar a bebedeira para os homens, pois as moças estavam evolvidas com as preparações das pamonhas, canjicas, bolo de milho, milho cozido, e o que iria ser assado já sendo colocado nos grandes espetos para irem para as brasas da fogueira.
Mas o especial da noite, que só depois de moça, cheguei a conhecer a “bezenção” da cachaça. Conta minha Prima Socorro Monteiro que meu Tio Chico começava com a garrafa acima de sua cabeça, quando todos paravam para ouvir as “santas palavras”: “A cachaça era pagã, Zé Henrique batizou, e Bingo apresentou, Vital deu viva quando cachaça chegou” – Após esses versos, era dado um grande “viva!”, boas gargalhadas e a festança iniciava de verdade.
O que pretendo trazer a vocês, caros leitores, são nossas histórias que não sei se aconteciam apenas em nossa família, mas desde menina aprendi a conviver com toda essa alegria. Não lembro de briga, nem tão pouco de desavenças.
Na verdade, o que quero mostrar, é nosso simples modo de ser, e que a felicidade pode existir sim entre os mais simples. A alegria deve existir em nossos corações e para tanto só se faz necessário lembrarmos que as famílias e os amigos podem, em qualquer situação social, viver a alegria, a busca dos amores e como é dito por muitos poetas e cantores, a alegria das estrelas no céu, nos faz grande, nos traz paz e alegria.
De tudo isso, guardo boas lembranças e a vontade de repetir tudo que vivemos a tempos atrás.
Muitos que guardamos no coração não estão entre nós, mas certamente, lá no céu, existem os que, além de terem as lembranças dos grandes amores, guardam a certeza de terem vivido dias de muita alegria.
Viva todos os santos que alegram nossos corações mesmo que não tenhamos braços que nos aqueçam, nestas grandes noites de festas. Quem tiver a quem abraçar, façam isso com todo amor, pois festa combina com amor e com forró.