Os Fatos que a História Omite

Por: João Vicente Machado Sobrinho;

A escala cronológica das fases da história é tão ampla e tão abrangente, que consegue tornar o nosso tempo de vida um simples grão de areia em meio ao oceano do tempo. Dentro dessa lógica, os séculos vão se sucedendo e os fatos históricos vão acontecendo, de modo que se não tiverem difusão e sustentação pelas novas gerações, poderão se perder no tempo e serem relegados ao esquecimento.

O questionamento feito a vários fatos históricos, tem sido uma constante entre os historiadores. A comprovação maior dessa incredulidade, é o corriqueiro questionamento que é feito por algumas pessoas sobre a veracidade ou não da existência de personagens presentes nas narrativas bíblicas do Antigo Testamento. Alguns historiadores chegam a questionar até mesmo a veracidade da existência do próprio Jesus Cristo.

Como a humanidade, desde os primórdios da comunidade primitiva já atravessou inúmeros conflitos e muitas guerras, a história foi sempre sendo contada e escrita pelos vencedores, os quais cuidaram de fazer valer as suas versões. Até em episódios ocorridos mais recentemente, os quais aconteceram praticamente ontem, como é o caso da 2ª guerra mundial, surgiram várias versões, omissões e distorções de fatos marcantes e decisivos, notadamente em relação as causas verdadeiras do conflito.

Além dos registros tendenciosos de alguns historiadores, ainda hoje temos lido na imprensa e ouvido em rodas de conversa a versão oficial, de que a 2ª guerra mundial teria sido uma continuidade da 1ª guerra e isso não deixa de ter algum fundamento. Porém, dialeticamente seria muito oportuna a pergunta que não deve calar: e quais teriam sido mesmo as causas da 1ª guerra mundial?

Pela versão oficial, a origem do conflito se deveu ao assassinato do arquiduque da Áustria. Essa é uma afirmativa vazia, que a rigor nos parece uma meia verdade. E cá para nós, uma meia verdade que não é merecedora de crédito, pois a causa real da 1ª guerra mundial, sem a menor dúvida foi uma ferrenha disputa de mercado, o que soe ocorrer sempre no regime capitalista. Ou não?

A Alemanha, desde a segunda metade do século XIV, havia feito com muito mérito, uma descoberta revolucionária que foi o motor a explosão. Um engenho que colocou as máquinas a vapor que foram descobertas na 1ª revolução industrial, em segundo plano. Basta perceber com clareza que o motor à explosão foi o embrião de toda navegação aérea e por consequência da corrida espacial.

Pois bem, a Alemanha como autora do invento acontecido em 1866, achou por bem reivindicar por vias diplomáticas um espaço no mercado,  para comercializar a sua produção revolucionaria, o que que lhe foi peremptória e repetidamente negado, principalmente pela potência imperialista reinante que era a Inglaterra e a potencia emergente que eram os USAN.

Então os alemãos resolveram passar em revista a distribuição mercadológica mundial  e ao lançarem o olhar para a Ásia como opção,  lá encontraram os ingleses; a África já era dividida entre a França e Portugal; a Europa era privativa da Inglaterra e da França; as Américas, já estavam de posse dos Estados Unidos da América do Norte-USAN como potência emergente e segundo James Monroe “A américa era dos americanos”. Então, como a diplomacia fracassara por não apresentar quaisquer alternativa que fosse satisfatória, a Alemanha resolveu radicalizar. Para tanto decidiu se unir ao Japão que despontava com os inventos elétricos e eletrônicos e também aspirava um espaço no mercado.

A solução idealizada por ambos, foi redividir o mundo através das armas. Diante de fatos como esse, é pertinente concluir que a 1ª guerra foi realmente a mãe da 2ª guerra e que a motivação tanto da Alemanha quanto do Japão foi eminentemente econômica. Ou não?

Para um melhor entendimento, vejamos então a sequência cronológica dos fatos, a partir do término da 1ª guerra mundial, na qual a Alemanha sairia derrotada. É oportuno lembrarmos que um outro fato histórico relevante ocorreu  ocorreu paralelamente e que viria a partir de então, abalar os fundamentos filosóficos liberais capitalistas no que se refere ao método de divisão do trabalho e da renda, uma novidade que viria a ser um contraponto econômico completamente divergente do método liberal capitalista. Esse fato histórico era a Revolução russa de 1917.

Assustados com a novidade, os capitães da indústria automotora e da navegação aérea e demais agrupamentos econômicos e financeiros, perceberam que mal tinham conseguido preservar seus quinhões de mercado com a 1ª guerra, já se deparavam com a avant première de um novo e inédito método econômico, com uma proposta exótica e ”indecorosa” de inclusão da massa trabalhadora. Diante dessa escolha difícil, não tiveram dúvidas em abraçar o nazi fascismo como mal menor, para depois procurar dar fim a ambos. 

Era essa a motivação que os grupos econômicos alemãos precisavam para provocar os brios do seu povo e estimulá-lo a reagir a essa dupla ameaça. Para essa árdua missão seria necessário encontrar um líder carismático com a capacidade de mobilizar o povo alemão e magnetizar as massas. Encontraram todos esses predicados e muito mais, na figura exótica e desconhecida de um cabo do exército alemão que havia estado na 1ª guerra mundial servindo na frente de combate como estafeta. Essa figura era um austríaco inconformado com o opróbio e a desonra a que o exército alemão fora submetido no Tratado de Versalhes e vivia a propalar a vingança. Aos olhos entusiasmados do liberalismo capitalista, esse outsider tinha todas as características de um condutor, de um líder, de um Führer. Estava então descoberta a figura insólita de Adolf Hitler na Alemanha. O Führer recém descoberto e por afinidade, se  aliaria a Benito Mussolini na Itália e ainda de quebra ao imperador Hiroito no Japão e ao “generalíssimo” Francisco Franco na Espanha. Estava pronta a salada nazifascista. 

Na sequência, o Partido Nazista foi criado na Alemanha em 1920, em meio a uma crise provocada pela a grande depressão econômica que se prenunciava e que chegaria ao ápice em 1929. Teve um crescimento meteórico emergindo do obscurantismo em que se encontrava, para já em 1932, em apenas 12 anos se transformar no maior partido do político da Alemanha, com 230 representantes no parlamento.

Trajetória mais ou menos semelhante foi a do também nascente Partido Fascista da Itália, sob a liderança e comando de Benito Mussolini. Na Espanha por sua vez e por osmose, surgia a Falange Espanhola sob a liderança e comando do autodenominado generalíssimo Francisco Franco, ambos de matizes fascistas de extrema direita.

Com o término da 1ª guerra mundial e diante da renúncia do Kaiser Guilherme II, ocorreu a extinção da Monarquia Constitucional na Alemanha. A partir de então, foi criada a efêmera República de Weimar, que governou entre os anos de 1918 e 1933, tendo à frente do governo Paul Von Hindenburg. A República de Weimar recém criada, foi um período de governo muito tumultuado, que acabou sendo atropelado por crises sequenciais, de ordem econômica e social. Além disso, na sua fragilidade política não conseguiu conter a ascenção meteórica do nazismo.

Como ideólogo, o nazismo teve a contribuição continua de Alfred Rosenberg, o qual virou uma espécie de Alter Ego de Adolf Hitler, tendo inspirado os escritos do Führer, ao ponto de estimulá-lo a escrever o seu famoso livro Mein Kampf. (Minha Luta). Vejamos a trajetória de Rosenberg:

“Em dezembro de 1918 Rosenberg chegou a Munique, na Alemanha. Seu objetivo era vender seus artigos sobre a Revolução Bolchevique e os males que o judaísmo e o marxismo causaram na Rússia. Lá conseguiu encontrar Dietrich Eckart (1868-1923), jornalista redator do jornal Auf Gut Deutsche (“Em Bom Alemão”). Teria dito a Eckart: “Você precisa de um guerreiro contra Jerusalém?”; (1)

Na esfera religiosa o envolvimento com o nazismo foi intenso e não poupou nenhuma liderança religiosa da época. O ódio ao socialismo nascente  que o nazismo não conseguia esconder, havia também um viés econômicas que agradava  grande parte das religiões. Já que também tinham suas conveniências econômicas e financeiras. Esse perfil agradava  indiferentemente: católicos, luteranos, evangélicos de vários matizes, tais como os batistas entre outros. Por parte da igreja católica os registros históricos dão conta da simpatia dos Papas Pio XI e PioXII, tanto por Hitler como o Führer, quanto por Mussolini como o Duce. O catolicismo estava muito interessado na criação da cidade Estado do Vaticano como sede oficial da Igreja Católica, o que viria a conseguir com a celebração do famoso Tratado de Latrão.

Há dias passados, tivemos a oportunidade de ler uma publicação do Diário do Centro do Mundo, o qual traz uma matéria de autoria do Pastor Hermes Fernandes, publicada em 24 de setembro de 2019, na qual ele cita nominalmente os pastores que nutriam grande simpatia por Hitler. Vejamos como exemplo o que disse o pastor John W. Bradbury, de Boston Massachussetts:

“A nova Alemanha queimou montanhas de revistas corrompidas e fizeram fogueiras com livrarias [compostas] de livros comunistas e judeus… A nova Alemanha é de mentalidade séria. Seria bom que todas as outras nações também agissem com seriedade. Noventa por cento das pessoas estão seguindo Hitler. Viajei por muitas cidades e não ouvi uma nota de jazz sequer!” (Watchman-Examiner XXII 37 ,13 de setembro de 1934).” (2)

Afora o aparelho ideológico que foi cuidadosamente montado em apoio à figura de Hitler, é pertinente ressaltar que, sem o forte respaldo de uma vigorosa infraestrutura econômico-financeira, o nazismo não teria tido amplitude e nem alcançado a repercussão que chegou a ter. Há de se perguntar o porquê dessa estratégia posta em prática pelos grupos econômicos e financeiros. Qual viria a ser os dividendos que poderiam ser obtidos do nazi fascismo, em troca do apoio a essa situação de instabilidade política, decorrente da gestação do nazi fascismo? Com certeza não foi pela cor e a forma do bigode de Hitler ele recebeu apoio de:

Ford, BMW, Volkswagen, IG Farben (Bayer), Hugo Boss, Kruper, Chase Bank, Fiat, Siemens, IBM, General Eletric entre outras. Segundo informam alguns historiadores, essas empresas, ou algumas delas, fizeram uso inescrupuloso da mão de obra escrava dos prisioneiros nazifascistas.

O fato é que havia na vitrine política e socioeconômica, dois métodos econômicos, diametralmente opostos ideologicamente e ambos não eram do interesse do liberalismo capitalista. Nem o nazi fascismo por ser absolutista, nem o socialismo que era inclusivo da massa trabalhadora. Então que tal se eles se autodestruíssem? Foi nisso que os “aliados” apostaram e ainda tentaram implementar!

Entre 1933 e 1939, houve uma serie longa de agressões, invasões e anexações por parte das forças nazifascistas tais como: a invasão da Manchúria pelo Japão; a anexação da Etiópia pela Itália; a criação do eixo Roma-Berlim; a invasão da China pelo Japão; a anexação da Áustria; a celebração do “Pacto Anticomintern” direcionado contra a URSS e o movimento comunista internacional; a união com a Itália de Mussolini; o Acordo de Munique forçando a Tchecoslováquia a ceder a região dos Sudetos para a Alemanha nazista e assinado por Alemanha, Itália, Grã-Bretanha e França; anexação da Albânia pela Itália; assinatura do pacto de não agressão com a URSS; finalmente a invasão da Polônia em 1° de setembro de 1939, ano em que foi oficialmente declarada a guerra à Europa.

Em 3 de setembro de 1939, somente depois de 6 anos assistindo e contemplando o crescimento e a robustez do nazismo, foi que a Grã-Bretanha e a França se dignaram declarar guerra à Alemanha. Daí em diante os países foram desabando sob a ação do nazi fascismo, tal qual as pedras de um jogo de dominós e um banho de sangue inundou a Europa, a África e a Ásia: Dinamarca, Noruega, Bélgica, Holanda, Luxemburgo, parte da França, Bulgária, Iugoslávia, Rússia entre outros;

Entre junho e novembro de 1941 a Alemanha juntamente com os países do eixo e seus parceiros invadem a União Soviética, desrespeitando o tratado de não agressão e tudo mais.

A destemida contraofensiva Soviética teve início em dezembro de 1941 e os Estados Unidos da América do Norte-USAN, que até então estavam sentados na praça dando milho aos pombos, somente vieram a entrar na guerra, após o surpreendente ataque japonês à base naval de Pearl Harbour no Havaí.

A grande verdade é que as chamadas forças aliadas que estavam sendo agredidas na Europa Ocidental e que diziam se contrapor à saga insaciável de Hitler, assistiam a tudo isso silentes e inoperantes. Pensavam eles que ao deixar o nazi fascismo se entreter com os preparativos para invadir a URSS com vistas ao petróleo do Cáucaso, assistiriam de camarote os dois se consumirem e nesse caso matariam dois coelhos com uma só cajadada.

É preciso entender de uma vez por todas que Hitler não foi obra do acaso. Ele acumulou toda aquela força entre 1933 até 1° de setembro de 1939, sob o olhar complacente dos “aliados, mui amigos”, até transformar a Polônia num amplo corredor para alcançar a Rússia.

Os liberaloides e direitopatas, ainda hoje insistem na tese de que que Hitler era socialista. A intenção deles não é outro senão, justificar e até mascarar a omissão pela qual foram responsáveis, por falta de leitura ou quem sabe por má fé. Se tiverem lido, entendido e interpretado o conteúdo do livro de autoria de Hitler, Mein Kampf, (Minha Luta) certamente continuam a insistir nessa tese por má fé e uma abominável ingratidão para com a Rússia. Vejamos o que diz um dos trechos do livro de Hitler:

“Nos anos 1913 e 1914, eu, pela primeira vez, em vários círculos que hoje apoiam fielmente o movimento nacional-socialista, expressei a convicção de que a questão do futuro da nação era a questão de destruir o marxismo.”

A adjetivação de Hitler em relação ao socialismo sempre foi clara, ríspida e contundente no sentido de destruir, de extirpar, de aniquilar e de arrasar toda a teoria “pecaminosa” de Karl Marx e Friedrich Engels. Como esse era também, o objetivo colimado do liberalismo capitalista, nada mal se num confronto direto com o nazismo o marxismo também fosse varrido do mapa. Não foi outra a razão do abandono da Rússia  pelos chamados “aliados” ocidentais, que foram “mui amigos!”, ao largar a URSS à própria sorte.

Ao se ver sozinha e abandonada, a URSS sob o comando do Marechal George Zukov recuou todas as suas forças, destruiu toda forma de sobrevivência no seu recuo, atraindo os alemães para o rigoroso inverno soviético, na mesma estratégia usada para derrotar as tropas de  Napoleão.

Não é à toa que os russos sempre denominaram a 2ª guerra mundial como a Guerra Pátria. Nela eles  enfrentaram o nazi fascismo sem ajuda e de forma brava, heroica e corajosa, durante longos e penosos 1418 dias de dores, privações e perdas. Mesmo com todo sacrifício e à custo da vida de aproximadamente 27 milhões de jovens soviéticos, os russos venceram a guerra e livraram o mundo da tirania nazifascista.

Ao contrário do que fizeram os ocidentais, os quais  estiveram indiferentes no ápice da agressão sofrida pelos russos, o exército vermelho não discriminou ninguém e nenhum habitante dos países ocupados pelos nazifascistas. Muito pelo contrário, além de libertarem todos os países invadidos, os soviéticos romperam os portões e os grilhões dos campos de concentração, libertando todos os prisioneiros que estavam escalados para a morte, um misto de: intelectuais, religiosos, deficientes físicos e mentais, pretos, ciganos, homossexuais, judeus e soviéticos, sem indagar as suas ideologias.

Portanto a celebração do dia da vitória em 9 de maio de todos os anos, para o heroico povo soviético, além de ser pertinente é também merecida, oportuna e justa. É uma data que deveria também ser comemorada por todo mundo que foi arrancado das garras do nazi fascismo, pelo heroísmo e pelo sangue dos que morreram para nos dar a vida.

A poucos dias passados, assistimos com muita indignação, a fala de uma das apresentadoras do Globonews do turno da manhã, se não estivermos enganados Camila Bomfim. Muito irritada e até furiosa, essa senhora descompunha o presidente Lula pelo fato de ter comparecido às solenidades comemorativas da data em Moscou. Queixava-se aquela senhora que o presidente ao invés de ir à Moscou, deveria ir ao encontro e dar apoio às pantomimas e peripécias perdulárias bravatas do comediante Volodimir Zelensky.

Se Camila Bonfim ao falar não tivesse de posse do microfone da Globo, nos arriscaríamos a incluí-la no rol dos mal informados, o que para ela seria menos mal!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Referências:
A Subida dos Nazistas ao Poder | Enciclopédia do Holocausto;
República de Weimar – Toda Matéria;
Alfred Rosenberg: a mente por trás de Hitler; (1)
“History of Christianity” de Paul Johnson, “Mães da Pátria” da historiadora Claudia Koonz, “O Santo Reicher” de Ricahrd Steigmann;
Como os evangélicos garantiram a vitória de Adolf Hitler na Alemanha. Por Hermes Fernandes, pastor;
Como os evangélicos garantiram a vitória de Adolf Hitler na Alemanha. Por Hermes Fernandes, pastor; (2)
Linha cronológica da Segunda Guerra Mundial | Enciclopédia do Holocausto;
Como as empresas financiaram o Terceiro Reich;
Fotografias:
A escala da divisão das eras – Pesquisar Imagens;
Aulas On-Line de História;
Hitler, Mussolini, Hiroito e Franco – Pesquisa Google
Mapa batalhas russas na segunda guerra – Pesquisar Imagens;
A sangrenta batalha na frente oriental de guerra – Pesquisar Imagens;
Putin assiste desfile do Dia da Vitória junto a líderes mundiais em Moscou | CNN Brasil;

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