
Por: Neves Couras;
Gostaria de dedicar este artigo a todas as mães, mas especialmente às mães de filhos atípicos. Sabemos que essas mães também são extraordinárias. Falo aqui das mães de crianças e adolescentes com autismo, Síndrome de Down, TDAH, deficiências intelectuais, transtornos do desenvolvimento, síndromes raras ou quaisquer outras condições que desafiem o padrão socialmente estabelecido.
Estava hoje em um consultório médico assistindo à cobertura sobre a escolha do novo Papa. Senti uma dor profunda ao ouvir o comentário de uma senhora, depois que mencionei torcer por um Papa que seguisse os caminhos de amor e inclusão do Papa Francisco. Ela respondeu: “Contanto que ele não aprove o casamento gay, nem permita que eles entrem nas igrejas”.
Como é difícil compreender o amor. O amor puro, incondicional. É uma pena que, em pleno século XXI, o amor ainda seja visto como um sentimento limitado, inclusive por muitas religiões. Quando iremos compreender que o amor é o sentimento mais belo e mais necessário neste momento em que vivemos no planeta Terra?
Amor é compreensão. Não tem cor, idade ou gênero. É simplesmente amor. Foi esse o amor que Jesus veio nos ensinar. E se aqueles que frequentam igrejas, que se dizem pertencentes a alguma religião, discriminam o outro, esquecem que a primeira pessoa que Jesus acolheu para perdoar foi uma mulher acusada de adultério. Ele perguntou: “E o homem?”. Se houve adultério, ela não estava só. Na falta de amor deles, só ela merecia ser apedrejada.

Até quando vamos continuar “apedrejando” os diferentes, os doentes, os pobres, os negros, os sem-teto, os que são vítimas das drogas? Na maioria dessas situações, não existe apenas um lado da moeda; é necessário conhecer os dois.
Vivemos em uma sociedade onde quem faz o bem é criticado, chamado de ignorante ou de “besta”. Mas quem são os “bestas” dessa história? São os que lutam por seus filhos, pela comida da família, por uma vaga em uma escola digna, os que ajudam com as mãos limpas? Ou os que contribuem para que esta sociedade continue difícil para tantas mães?
Quero dizer, como mãe, que sou testemunha das dores de muitas mulheres. Mulheres que merecem nosso respeito, nossa gratidão e, mais ainda, nossas orações, para que tenham forças para cumprir sua missão aqui na Terra.
Acredito que nossos filhos nos escolhem para sermos suas mães, e também seus pais. É impossível ignorar os desafios enfrentados por uma família que acolhe um ser fora do padrão socialmente estabelecido.
O desafio de ser mãe de uma criança com síndromes raras ou quaisquer outras condições que desafiem o dito “padrão” ou “norma”. Essas mães, muitas vezes, abrem mão de carreiras, sonhos pessoais e até da própria saúde para estarem presentes em cada batalha, consulta, crise ou conquista. São elas que enfrentam sistemas que não acolhem, escolas que não se adaptam, olhares que julgam. São elas que se tornam especialistas, terapeutas, mediadoras, protetoras. Mulheres que renunciam ao anonimato da rotina para se tornarem vozes firmes em defesa dos seus filhos. A essas mães, quero lembrar: vocês são força, colo, coragem. E seus filhos não poderiam ter escolhido abrigo melhor.

E ainda, há o desafio de ter um filho LGBTQIA+. O desafio não é aceitá-los como são, isso fazemos no momento em que sabemos que eles estão para entrar em nossas vidas, sendo gerados ou adotados. O verdadeiro desafio é enfrentarmos, junto com eles, esse mundo tão difícil e cruel. A essas famílias, gostaria de lembrar que nossos filhos, todos eles, merecem amor e acolhimento.
Como mãe, desejo não mais ouvir que a homossexualidade é uma “doença” ou que “foi uma escolha dele ou dela”. Trato aqui de nossos filhos que, por diversos motivos, enfrentam mais barreiras para serem aceitos, compreendidos e amados. Todos eles, sem exceção, vivem em uma sociedade ainda marcada pelo preconceito, pela crueldade e pela desinformação.
Agradeço à nossa mãe por ter feito de nós homens e mulheres de caráter e ética. Peço a Deus que, ao chegar do outro lado, quando Ele me perguntar:
— Que fizeste dos filhos que te confiei?
Eu possa dizer:
— São seguidores dos teus ensinamentos, Senhor.
Parabéns a todas as mulheres e mães que geraram seus filhos, às que os tiveram de coração, aos pais e mães que aceitam o desafio de sozinhos, formarem uma família; aos casais homoafetivos que tomam para si a responsabilidade de criar esses serezinhos que chegam até nós; àqueles que adotam filhos que ninguém na sociedade aceita adotar, porque são diferentes. A tios, avós, e a todos aqueles que enfrentam a maternidade com dignidade, e, mais ainda, àqueles que tomam para si essa responsabilidade de cuidado e carinho.
Parabéns às avós que são mães, aos pais que também são mães, e que nunca abandonaram seus filhos, seja qual for a situação.
Parabéns aos que amam incondicionalmente. Pois foi assim que Jesus nos ensinou a amar.
Parabéns a todos os filhos que, quando os papéis se inverterem e seus pais precisarem de cuidados, saibam amá-los e compreendê-los. Porque lá atrás, foram eles e elas que cuidaram de vocês. Por nós, eles abriram mão de festas, noites de sono e tiveram toda a paciência — mesmo sendo nós os “especiais”.