No dizer de Matheus Ferreira, o nosso querido Bodão, o poeta violeiro e repentista tem o dom divino da psicografia cantada. Essa assertiva, podem crer, não é nenhum exagero.
Hoje trazemos com muito prazer uma amostra da genialidade de uma dupla de poetas violeiros, um deles de saudosa memoria que é o poeta Antonio Nunes de França e o outro é o poeta Geraldo Amâncio Pereira, poeta membro da Academia Cearense de Letras e no nosso julgamento o maior repentista vivo desse Brasil de Caboclo de Mãe Preta e Pai João.
Deram à dupla o seguinte mote e vejam a maravilha glosada num martelo agalopado:
O Nordeste se enche de alegria, na chegada da chuva no sertão.
Por: Geraldo Amâncio;
Numa tarde de inverno o céu se agita
Uma nuvem pesada esconde o sol
Aparece relâmpago, caracol
A cascata do rio enche e vomita
Desce raio de fogo o trovão grita
Na cabeça de um grande torreão
Passa o vento entoando uma canção
Que o porão do açude se arrepia
O nordeste se enche de alegria
Na chegada da chuva no sertão
Na esperança o campônio se agarra
Do fantasma da seca sente medo
Quando chega o natal, acorda cedo
Para ver se aurora trás a barra
Inimiga da seca é a cigarra
Que só canta no tempo do verão
O profeta do inverno é o carão
Quando está pra chover ele anuncia
O nordeste se enche de alegria
Na chegada da chuva no sertão
Quando chove na entrada de janeiro
O riacho transborda e soltam roncos
Lambe os galhos do mato, arrastra troncos
De raízes que encontra em todo aceiro
Passam sapos montado no balseiro
Parecendo um chofer de caminhão
Não dirige, mas dá a impressão
Onde tem um perigo ele desvia
O nordeste se enche de alegria
Na chegada da chuva no sertão
No inverno o vaqueiro tangem bois
O roceiro na luta mete a cara
Queima a broca o que sobra faz coivara
Deixa arranca de touco pra depois
Corta a terra na baixa de arroz
Faz remonte de cerca aduba o chão
Abre cova semeia e enterra o grão
Tudo quanto plantar a terra cria
O nordeste se enche de alegria
Na chegada da chuva no sertão