Por:Neves Couras;
Desde nossa saída da Universidade ou mesmo quando entramos em nosso primeiro emprego, surge em nossa cabeça a ideia de um dia podermos nos aposentar. Essa vontade não se justifica claramente. Alguns cultivam essa conquista pelo esforço de um trabalho difícil, outros por não gostar de cumprir ordens, horários… outros por não se identificarem com trabalho que sonharam um dia, mas que ao vivenciá-lo mostrou-se diferente do que pensavam. Às vezes, por comodidade, não buscam uma saída para um dia a dia mais feliz em seu trabalho e, eu diria mais, em sua vida.
Acredito que quando trabalhamos naquilo que nos faz bem, nem vemos como um “trabalho”, ou mesmo não vemos o tempo passar. Nossas carreiras profissionais podem ser cheias de desafios que nos impulsionam a ser melhores, a cada dia. Não me refiro a uma espécie de corrida para quem chega primeiro, ou mesmo para quem alcança o melhor cargo. Sou partidária da busca do melhor por ser inerente à nossa condição humana, de sermos melhores para alguém, não melhores que alguém.
Confesso que o tema que ora abordamos não é tão tranquilo de se viver, principalmente quando não se prepara financeira e emocionalmente para essa nova fase em nossas vidas. Com a discrepância salarial que existe em várias categorias de trabalhadores em nosso país, essa questão pode vir a ser um grande pesadelo, dificultando a solicitação de seu direito, o que leva alguns a viverem para trabalhar o que pode contribuir para enfermidades de nossos idosos.
Podemos avaliar esse tema sob vários pontos de vista, mas escolhi as questões do ponto de vista ocupacional e emocional. Não irei falar de meu caso em particular, por não me parecer ético, mas posso contribuir apenas dizendo que sou uma aposentada equilibrada, mas me preparei a cada dia que trabalhei para quando essa fase chegasse. É bem verdade que não foi no tempo que eu quis, mas por questões políticas achei melhor “tirar meu time de campo”, como é comum dizer.
No entanto, para outros, a aposentadoria pode se tornar um grande problema particular e familiar. Tive a oportunidade de conversar com algumas pessoas que se aposentaram com o pensamento de “viver a vida” sem compromisso, sem horário a cumprir ou mesmo como sinal de liberdade.
Nos primeiros meses, ou até mesmo no primeiro ano da aposentadoria, ou da nova fase da vida tudo pode parecer um mar de rosas. Ir aos lugares que gostaria de ir, mas o trabalho não permitia, participar de alguma atividade recreativa que só se pode participar quando se tem tempo livre, mas depois de algum tempo sem uma atividade que ocupe sua mente, isso pode dar início a alguns problemas.
Quando a família é numerosa e existe a participação assídua de todos, resultando essas em visitas ou mesmo convivência salutar, não se tem muito do que reclamar. Mas encontrei casos de pessoas que se aposentaram numa idade que podemos chamar ainda de produtiva (aqui vai o economês que não me deixa).
Quando a aposentadoria é de uma mulher, com filhos e netos, na maioria dos casos, ela tem melhor capacidade para utilizar seu tempo. Mas mesmo assim essa mulher precisará de atenção de seus familiares para que não comece a ser dispensada das atividades da família e da casa, o que o levará aos poucos à solidão e, posteriormente, pode se transformar em depressão ou outras enfermidades a ela associadas.
Neste grupo de pessoas que tive a oportunidade de conhecer a situação ficou mais complicada. Ouvi o depoimento da esposa de um senhor que também já está na idade de solicitar sua aposentadoria, mas não o faz pois os filhos são casados e ele resolveu, desde que se aposentou, a participar com outros idosos, de jogos de cartas acompanhado de bebida. Ou seja, já se tornou alcoólatra com desenvolvimento de outros problemas de saúde em decorrência da bebida. Pelo relato da esposa, vai ficar trabalhando, pois, além de gostar do que faz, pode contar com a companhia das colegas de trabalho.
A falta de um planejamento ou, se preferir, de um plano “B”, para ser aplicado após a aposentadoria, pode contribuir para uma frustação existencial ou uma falta de sentido para a vida. Sobre essa questão que pode parecer apenas uma rotina, Dr. Viktor Frankl nos apresenta algumas questões que precisamos ficar alertas.
É evidente que precisamos ter um sentido para nossa existência. Pode ser o amor à carreira, à família, um projeto que nos dê prazer… isso é ponto chave para nossa saúde mental. Quando esse sentido, ou a falta dele desaparece e se torna uma frustração, buscamos fazer coisas que venham preencher esse vazio.
Em muitos casos, além dos vícios que nos referimos, podemos buscar algo que venha preencher esse vazio. Nesta busca podemos querer preencher esse vazio com a compensação sexual. Ou seja, a libido sexual assume proporções descabidas. Esse fato não é desconhecido, por exemplo, por pessoas que trabalham na Rua da República aqui em João Pessoa, onde estão localizadas “pensões” destinadas à prostituição, onde infelizmente muitos idosos perdem suas vidas, por uma libido potencializada pelos estimulantes sexuais.
Sei que essa é uma questão muito delicada, mas precisamos ter conhecimento de certas informações, que por falta dessas, muitos idosos, acabam cometendo um tipo de suicídio.
Como para o homem perder sua potência sexual chega a ser confundida com a falta de masculinidade, precisamos, sim, observar o que nossos maridos, pais e amigos estão fazendo de seu vazio existencial. Apenas afirmando, não se trata de uma brincadeirinha para os idosos se divertirem, mas uma questão de doença mental que pode estar por trás de tais “brincadeirinhas”.
O que fazer diante dessa questão? Não nos acomodar. Aposentadoria não é finitude de vida, pode ser o início de uma nova carreira, de uma nova vida. Sejamos criativos, mas observemos o que queremos fazer quando não precisarmos mais ser chefes ou sermos chefiados.