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Bebendo da água

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Por:Antonio Henrique Couras;

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Acredito que todos nós já passamos por situações nas quais tivemos de fazer coisas que jamais imaginamos passar. São pessoas que dissemos que jamais toleraríamos e a vida os fez nossos companheiros, são situações que em outras épocas dizíamos sermos incapazes de enfrentar… não faltam exemplos.

Nesses momentos me lembro da história da Ilíada que começa, não nos campos de Troia, mas em uma festa celestial onde a harmonia dos deuses é desfeita por um ato simples e devastador: o lançamento de um pomo dourado.

Eris, a deusa da discórdia, excluída do banquete do casamento entre Tétis e Peleu, resolve vingar-se jogando seu pomo em meio aos convidados com a inscrição “à mais bela”. E aí surge o dilema. Três deusas – Hera, Atena e Afrodite – reivindicam o título. Incapazes de decidir, entregam o julgamento ao mortal Páris, príncipe de Troia. Para conquistar o favor de Paris, cada deusa lhe fez uma oferta tentadora. Hera prometeu poder e domínio, assegurando que ele se tornaria o rei mais poderoso do mundo, com vastos territórios sob seu comando. Atena, por sua vez, ofereceu-lhe sabedoria e habilidade incomparável em combate, garantindo que ele seria o mais sábio e invencível dos guerreiros. Já Afrodite, apelando ao desejo de amor, prometeu a ele o coração da mulher mais bela do mundo, Helena de Esparta.

Seduzido pela oferta de Afrodite, Paris a escolheu como a vencedora. Essa decisão, porém, levou ao rapto de Helena e acabou desencadeando a Guerra de Troia, um conflito marcado pela divisão dos deuses e pela luta épica entre gregos e troianos., que, atraído pela promessa de amor de Afrodite, entrega a ela o pomo, ganhando em troca o coração de Helena, a mulher mais bela do mundo. Este ato, de uma leveza enganosa, arrasta com ele o peso de um destino inexorável.

Depois que Paris escolhe a dádiva de Afrodite e reclama seu “prêmio”, Helena, ele viaja a Esparta, onde Helena vivia ao lado de seu marido, o rei Menelau. A deusa Afrodite ajuda Paris a conquistar o coração de Helena, que acaba fugindo com ele para Troia, seja seduzida por sua beleza ou sob influência da própria Afrodite. Esse ato é visto como uma enorme afronta a Menelau, que, traído, busca ajuda para recuperar sua esposa.

Menelau recorre ao seu irmão, o rei Agamenon, e convoca todos os príncipes e guerreiros da Grécia para que honrem um antigo juramento feito para proteger o casamento de Helena, comprometendo-se a lutar por ela em caso de perigo. Esse juramento une os maiores heróis gregos — incluindo Aquiles, Odisseu, Ajax e muitos outros — que se preparam para sitiar Troia.

Assim, Troia e Grécia se preparam para o conflito. Exércitos e reis se alistam, mas a guerra não será travada apenas entre homens: no Olimpo, os deuses tomam lados. Hera e Atena, movidas por ressentimento, se colocam ao lado dos gregos, enquanto Afrodite e Apolo, em apoio a Páris e aos troianos, preparam o terreno para as sangrentas batalhas, onde deuses e mortais se engalfinham para, bem, acho que nem os deuses sabem porquê.

Nesse cenário, alianças divinas e mortais se entrelaçam. Zeus, apesar de seu poder absoluto, busca manter o equilíbrio e, por vezes, observa com imparcialidade, mas até ele é forçado a intervir. Atena guia os gregos com sua sabedoria estratégica, enquanto Apolo inspira os troianos, fazendo-os lutar com uma determinação quase febril. E Afrodite, protetora de Páris, aparece em momentos críticos para resgatar seus favoritos, alheia ao sangue e à devastação ao redor.

As batalhas intensificam-se, enquanto os campos de Troia testemunham feitos heroicos que ecoarão por gerações. Menelau busca vingança contra Páris por roubar-lhe Helena, enquanto Heitor, irmão de Páris e o mais nobre dos troianos, luta para proteger sua cidade e sua família, sabendo dos sacrifícios inevitáveis. O Olimpo se torna um palco de apostas e caprichos, onde a rivalidade entre os deuses decide quem viverá e quem cairá, enquanto a humanidade, impotente, carrega o peso de suas escolhas e de seu destino traçado.

É assim que a Ilíada se constrói: um épico onde a tragédia humana e a interferência divina se entrelaçam, criando um cenário de glória e ruína, onde cada herói é tanto mestre quanto prisioneiro de seu destino.

Fiz esse pequeno arrodeio pelas ilhas gregas e pelos milênios porque me faltam outros exemplos que mostrem que por mais que digamos que de tal ou qual água não beberemos, os deuses, muitas vezes têm outros planos para nós.

Não sei se, como na história de Édipo, temos um destino que nos persegue e talvez ganhe até mais força quando dele fugimos, mas o fato é que as teias da nossa vida nos levam, muitas vezes, a caminhos inesperados. E como Aquiles, que passou quase uma década se negando a lutar na sangrenta guerra entre gregos e troianos, ao ver Pátroclo, seu amor, ser assassinado, aceita cumprir o seu destino de que tanto fugira.

Jamais sabemos os planos que os deuses têm para nós, mas cá estamos, e por mais que tentemos fugir, nossos destinos parecem sempre nos alcançar. Então que bebamos da água que dissemos nunca beber e façamo-lo de cabeça erguida e fingindo que não estamos apavorados pelo porvir.

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