Por: João Vicente Machado Sobrinho;
A Imparcialidade total das pessoas é algo muito abstrato e para além disso, é uma utopia. As narrativas da história da humanidade, via de regra são escritas com a caneta da emoção, o que nos induz a colocar sob suspeita muitos dos fatos históricos conhecidos.
A Bíblia Sagrada é o grande exemplo de um livro de grande valor histórico, o qual narra no antigo testamento a história de um povo, enquanto no novo testamento narra a história de um homem chamado Jesus Cristo. Para os que creem, o conteúdo histórico de ambos os livros da Bíblia é inquestionável por se constituir em dogma de fé. Todavia, mesmo assim é um livro questionado na sua essência.
Sem embargo, pela ótica do ateu, a Bíblia é um livro de conteúdo histórico questionável, haja vista ser em grande parte escrita pelos vencedores ou por amigos dos personagens centrais. Por isso seria um grande exemplo de parcialidade.
De nossa parte, por curiosidade histórica nos obrigamos a repetir a leitura da Bíblia por pelo menos três vezes. Afinal de contas trata-se de um dos únicos livros em linguagem acessível que encerra a história da idade antiga do mundo ocidental. A despeito disso e mesmo com a veracidade questionada, é possível ler nas entrelinhas da Bíblia, fatos históricos os mais expressivos, para organizar o encadeamento lógico do curso da história.
A saga dos grandes profetas é um amontoado de dúvidas, tanto pela existência deles quanto pela autenticidade dos seus vaticínios. Mas, nem por isso podemos afirmar que tudo que ali está escrito é inverossímil.
Não há como negar a existência de figuras bíblicas notáveis e sublimes. Assim o quantum de fé contido no vaticínio dos profetas, nos traz à lembrança uma glosa genial que o jovem multimídia pernambucano Lirinha atribui ao popular poeta paraibano Manoel Xudú, a quem segundo ele um dia deram esse mote:
“Um é, porem não parece.
Outro parece e não é!”
Xudú, era paraibano da cidade de Pilar e pela sua genialidade era tido como um dos maiores poetas repentistas do mundo da cantoria de viola. O trocadilho do mote não o intimidou e ele não se fez de rogado. Com a rapidez de raciocínio que lhe era característica, glosou o mote em dez pés, dizendo assim:
“Vê-se um sujeito ladrão
Que tem um porte bonito
Outro de porte esquisito
Que tem um bom coração.
Vê-se um padre no sermão
Pregando Deus sem ter fé
E um bêbado num Cabaré
A Jesus fazendo prece,
Um é porem não parece
Outro parece e não é.”
É justamente em ocasiões como essa que surgem os alfaiates da história, de posse de uma única trena, na vã pretensão de medir com a mesma trena duas ou mais grandezas diferentes.
Uma comprovação bem conhecida está num trecho do Novo Testamento. É a conhecida parábola do fariseu e do publicano, em que narrativa confronta a atitude de dois personagens de índoles diferentes, dotados de códigos de ética completamente antagônicos. O diálogo entre ambos foi provocado pela soberba dos fariseus e foi medido com a trena surrada dos escribas e dos sacerdotes, lídimos representantes da opinião pública da época e permanentemente hostis à ação solidária do Cristo.
Qualquer que seja o período histórico registrado pela Bíblia, a velha trena conservadora sempre esteve presente medindo a personalidade de lideranças distintas. Foi assim com Moisés diante do Faraó; foi assim com João Batista diante da mulher de Potifar; foi assim com o próprio Jesus Cristo ante os judeus, os escribas e sacerdotes que lhes eram hostis.
O transcorrer de milênios não foi suficiente para alterar essa lógica. No mundo contemporâneo os expoentes históricos, a depender da conveniência econômica, também são useiros e vezeiros em fazer julgamentos auferidos pela mesma velha trena conservadora. Dessa forma, em diversas ocasiões, a velha e surrada trena conservadora foi usada para medir a capacidade de diversas lideranças:
Girondinos x jacobinos; Danton x Robespierre; Karl Marx x Adam Smith; Lênin x Hitler; Keynes x Milton Friedman; Fidel Castro x Fulgêncio Baptista; Peron x Javier Milei; Allende x Pinochet; Lula x Bolsonaro.
No dia 26 de julho de 2024, aconteceram as solenidades de abertura das Olimpíadas de Paris. O belíssimo espetáculo fugiu a todo regramento mercadológico voltado para o consumo, para ressaltar e privilegiar o rico acervo histórico, econômico, político e artístico da França.
A beleza da abertura dos jogos foi inspirada em fatos históricos, prestando uma justa homenagem à França revolucionária de 1789, cujas palavras de ordem foram resgatadas: Liberté, Egalité e Fraternité. O complemento veio com a louvação pública aos seus talentos literários e artísticos e o justo e oportuno reconhecimento às diversidades, no latu sensu da palavra.
A organização criativa da solenidade, abandonou o ambiente fechado dos estádios e dos ginásios de esportes construídos nas gigantescas, suntuosas e caríssimas vilas olímpicas convencionais, para espalhar as competições no espaço urbano da bela Cidade Luz.
O destaque especial foi a beleza fluvial do Rio Sena; o recorte majestoso da Torre Eiffel; a sacralidade da catedral de Notre Dame; a beleza do Jardim das Tulherias; a riqueza artística e cultural de todo acervo do Museu do Louvre entre outros pontos notáveis.
O reconhecimento a todas as espécies de diversidades ganhou dimensão através do som negro vindo do Mali na voz da cantora negra Aya Nakamura que cantou junto e misturada com a guarda nacional. Foi a gota d’água que transbordou e enfureceu a extrema direita do mundo inteiro, inclusive a do Brasil de Caboclo, de Mãe Preta e de Pai João. A velha e surrada trena burguesa foi retirada do armário e quase era rasgada de tanto medir grandeza diferente.
Com os jogos ainda em curso, e ainda atordoada com o choque causado pela abertura das Olimpíadas, os direitopatas se voltaram para a América Latina e cuidaram de engrossar o coro puxado pelos Estados Unidos da América do Norte-USAN, no processo de execração e demonização pública, não de Nicolás Maduro, mas do povo sofrido da Venezuela.
Com os óculos na ponta do nariz e a velha trena pendurada no ombro eles ainda hoje estão cumprindo o protocolo imperialista dos USAN. Usam a mídia oficial para reduzir e desclassificar o presidente Nicolas Maduro, com o olho gordo voltado para o Lago Maracaibo e adjacências, com o seu potencial de exploração de Petróleo e várias outras riquezas minerais da Venezuela, para realizar o sonho antigo dos Estados Unidos da América do Norte-USAN.
Ora, ora, ora senhores alfaiates da extrema direita! onde andavam vocês que nunca se importaram com a democracia mundial espezinhada por várias ditaduras espalhadas pelo resto do mundo? Seria porque os ditadores eram estimulados e apoiados pelo imperialismo estadunidense?
Durante toda guerra fria e bem antes dela, os senhores estiveram o tempo todo silentes e muito bem comportados diante de várias e cruentas ditaduras construídos e/ou apoiados pelos USAN. Querem exemplos?
. A ditadura de Oliveira Salazar em Portugal que durou 41 anos.
. A ditadura do generalíssimo Franco na Espanha que durou 36 anos.
. A ditadura do general Alfredo Strossner no Paraguai que durou 35 anos.
. A própria ditadura militar do Brasil que durou 20 anos.
. A sangrenta ditadura do assassino Augusto Pinochet no Chile que durou 17 anos.
Por onde andavam os senhores, guardiões da democracia que não se posicionaram? Por que não acionaram a imprensa oficial que lhes pertence, com o mesmo mantra direitista de um jornalismo seletivo como fazem agora?
Vocês escamoteiam a verdade mas sabem que a intervenção dos USAN na Venezuela não é por generosidade e em defesa da democracia. Estivesse o presidente da republica Maduro ou verde a agressão ocorreria de quaisquer maneira. O que motiva mais de 50% do povo venezuelano é a defesa da sua autonomia e do seu patrimônio ameaçado de usurpação pelo maior regente de golpes de estado da história da humanidade que são os USAN.
Leiam a seguir de onde vem a agressão nessa matéria jornalística do ano de 2020 e mais atual do que nunca:
“Em seis anos de bloqueio, Venezuela foi alvo de 150 sanções e 11 tentativas de golpe:
“Há quase seis anos, a Venezuela é alvo de um conjunto de leis e decretos presidenciais dos Estados Unidos. É o chamado bloqueio econômico. A medida faz parte das ações dos EUA para tentar interferir no regime político no país. Em paralelo, 11 tentativas de golpe ocorreram no período, planejadas entre a direita venezuelana, a Casa Branca e aliados regionais. (grifo nosso)
A história do bloqueio começa em dezembro de 2014, o congresso dos Estados Unidos aprovou a Lei de Defesa dos Direitos Humanos na Venezuela nº113-278, que previa a aplicação de sanções contra os venezuelanos. Já em março de 2015, Barack Obama assinou a Ordem Executiva nº13692 declarando o país sul-americano como uma “ameaça inusual para a segurança interna do Estados Unidos.
. Estima-se que metade do planeta sofra direta ou indiretamente com sanções econômicas. Somente o Conselho da União Europeia sanciona uma lista de 33 países, enquanto os Estados Unidos penalizam 34 nações.
Nem o Petróleo
No caso venezuelano, o país ficou impedido de realizar transações internacionais com o dólar estadunidense, o que aumentou os gastos cambiários do Estado em US$ 20 bilhões.
Outro impacto são as chamadas retenções bancárias. Um pagamento emitido por agentes venezuelanos pode tardar entre 10 e 20 dias para ser efetuado, quando o período normal seriam 48 horas. Para completar, também estão autorizadas multas a terceiros países que comercializem com a República Bolivariana.
:: Entrevista | EUA acreditam ter “missão messiânica” contra comunismo, diz vice-ministro venezuelano ::
Dessa forma, a Venezuela registrou uma redução de 99% nos seus ingressos em moedas estrangeiras nos últimos cinco anos. Saindo de US$ 56 bilhões para US$ 400 milhões. Junto com as divisas, o país perde seu poder de compra.
Em um país onde cerca de 80% do consumo interno é suprido com produtos importados, perder poder de compra tornou-se automaticamente um problema no abastecimento nacional. Somente da Europa, as importações caíram 65% de 2015 para 2019.
Por conta das sanções, o tempo de entrega dos produtos aumentou 33%, enquanto os gastos extras, estima o governo, somam US$ 37 bilhões.
Por conta da dificuldade de compra de peças para a manutenção da infraestrutura e de químicos usados no refino do petróleo, a indústria petrolífera, carro-chefe do país, diminuiu sua produção em aproximadamente 60%. Os rendimentos do setor caíram de US$ 16,16 bilhões, em 2015, para US$ 8,7 bilhões, em 2018. (grifo nosso)
A estimativa é que o prejuízo anual do bloqueio seja de US$ 30 bilhões. Como consequência, o PIB venezuelano caiu 60%, de acordo com o governo e o Banco Central da Venezuela.
:: Dólar à vista: como a moeda estadunidense circula em uma Venezuela bloqueada ::
Uma pesquisa do Centro de Pesquisa Econômica e Política (CEPR pelas siglas em inglês) aponta que consequências do bloqueio podem ter gerado cerca de 40 mil mortes entre 2017 e 2018 na Venezuela.
Em decorrência disso, a Venezuela denunciou os Estados Unidos por crime de lesa humanidade na Corte Penal Internacional. Anualmente também reitera o pedido de fim ao bloqueio na Assembleia Geral das Nações Unidas. Neste ano, um relatório intitulado “A Verdade da Venezuela”, compilando as informações descritas acima, foi entregue à organização pelo governo venezuelano.
Apesar de apoiarem o chamado da Venezuela, tanto o secretário geral da ONU, Antonio Guterres, como a alta comissária para os direitos humanos, Michelle Bachelet, nunca assumiram uma postura ativa no combate às medidas coercitivas.”
Os mapas ilustrativos que se seguem, mostram os três principais objetos da cobiça dos Estados Unidos da América do Norte-USAN, não apenas em relação à Venezuela, mas à América Latina como um todo, Brasil no meio.
. A faixa equatorial brasileira que vai do Amapá até o Rio Grande do Norte, que em termos de reserva de petróleo é considerada um novo Pré-Sal.
. O petróleo e toda a riqueza mineral da Venezuela que é um pais de subsolo rico e de povo pobre.
. Por fim, e de enorme importância para o futuro, o aquífero Alter do Chão situado no distrito de mesmo nome e pertencente à cidade de Santarém no Pará, com 86,4 mil Km2 de água acumulada, considerado a maior reserva de água subterrânea conhecida no planeta terra. É bom lembrar que num futuro que não está distante, a água vai valer muito mais do que ouro e petróleo.
Concluindo devemos lembrar que, se a imprensa oficial faz coro com os USAN é porque ela pertence a grupos econômicos monopolistas e estará como sempre esteve, a serviço do imperialismo estadunidense, disposta a distorcer os fatos a bel prazer dos patrões. O jornalismo praticado pelo Globo News nos últimos dias faz nojo e está 24 horas à serviço da pirataria dos USAN.
Os povos dos países latino-americanos não podem nem devem embarcar nessa campanha sórdida dos USAN, sob sob pena de sermos todos transformados na Venezuela do amanhã, onde o que é Maduro se tornará Verde e Amarelo.
O resto? Como diria o saudoso jornalista Humberto de Campos de Campina Grande, “ o resto é conversa flácida para bovino dormitar”.
Quem quiser servir de massa e manobra e caixa de ressonância para o império do mal que o faça. Como diria Adalberto Moura, o querido Bebé: TÔ FORA!
Referencias:
Há 236 anos nascia Simón Bolívar, o libertador da | Internacional (brasildefato.com.br);
Venezuela: chave para distribuição de petróleo no | Internacional (brasildefato.com.br);
Como o bloqueio imposto pelos Estados Unidos afeta a | Internacional (brasildefato.com.br);
Em seis anos de bloqueio, Venezuela foi alvo de 150 | Internacional (brasildefato.com.br);
Fotografias:
O Deus de Abraão – Dr. Paulo Maciel (drpaulomaciel.com.br);
Série bíblia: A história de Moisés | CNSA JOVEM de cara nova! – Página Inicial;
Rei Davi – 10 curiosidades mostram porque ele foi um dos maiores reis do mundo – IGEC;
A história de Salomão: rei de Israel – Bíblia (bibliaon.com);
MANOEL XUDÚ E LOURIVAL BATISTA – Depois Da Mágoa Da Ausência, Quis Voltar Ao Meu Sertão (youtube.com);
Karl Marx x adam Smith – Pesquisa Google;
Bateau Mouche das olimpíadas no rio sena – Pesquisa Google;
www.olimpiadatododia.com.br; estádio torre Eiffel;
El mapa del petróleo y el gás en Venezuela – Mapas de El Orden Mundial – EOM;
Por que não explorar petróleo na foz do Amazonas – Outras Palavras;
Aquífero Alter do Chão, artigo de Roberto Naime (ecodebate.com.br);
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