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Quando nossas figuras públicas se transformaram apenas em Avenidas?

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Por: Alanna Aléssia Rodrigues Pereira;

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Ler sempre foi mais que um hobby para mim. A leitura influenciou na escolha do meu curso, na minha profissão e em tudo o que eu fiz desde que iniciei essa jornada, inclusive no mestrado.

Foi a partir da leitura de algumas obras que senti uma inquietação profunda, principalmente ao observar as referências e notar que tudo o que estudamos nos bancos acadêmicos é “importado” de culturas completamente diferentes da nossa, e não que isso seja algo completamente ruim, mas o meu grande questionamento foi: será que não produzimos nada? Onde estão os nossos referenciais?

A pergunta me levou a pesquisar sobre a personalidade que deu nome a mais agitada avenida da cidade João Pessoa: o paraibano, Epitácio Pessoa. Nascido na cidade de Umbuzeiro, órfão de pai e mãe, aluno da Faculdade de Direito do Recife, o homem que ascendeu tão rapidamente na vida pública e política que conseguiu ocupar cadeiras em todos os centros de poder: legislativo, judiciário e executivo.

Foi Senador, Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) – com o adendo de nunca ter sido voto vencido, e presidente da República. Contudo, a carreira política e o STF não foram os únicos espaços que ocupou, isso porque Epitácio também foi um reconhecido estudioso e intelectual de sua época.

Com o fim da 1ª Guerra Mundial, os representantes de mais alta estima dos países se reuniram em Versalhes para estabelecer os termos do pós-guerra, desde reparações a sanções, e o representante do Brasil foi o próprio Epitácio Pessoa, que não apenas esteve presente, mas foi convidado a participar da mesa mais importante das negociações, sendo na verdade um dos mais consagrados negociadores e conquistando para o Brasil importantes reparações.

Não fosse só isso, o paraibano ainda foi responsável por elaborar um dos mais completos projetos de código de Direito Internacional – como sabemos, as normas que regulam esse ramo do direito não podem ser encontradas em um único arquivo, mas estão espalhadas em diversos Tratados, Convenções e até mesmo nos Costumes e Princípios, mas o anseio por uma codificação chegou para todos e os países da América não foram ilesos a esse processo, e em 1912 o Brasil sediou, no Rio de Janeiro, uma série de reuniões entre os mais ilustres juristas de toda a América, para discutir o projeto de código elaborado por Epitácio Pessoa, que anos depois veio a ser juiz da mais importante Corte Mundial, a Corte Permanente de Justiça Internacional, na Haia.

Mas o ponto não é esse, a minha grande inquietação é que nós não estudamos sobre isso. Não lemos, nem estudamos, nem apreciamos as figuras de nossa própria terra, nossos próprios referenciais. Sei disso sobre Epitácio Pessoa porque tive que buscar em livros escritos que datam de 1960, mas não estão amplamente disponíveis. Não tive uma aula de história sequer que o retratasse da forma que o descobri visitando as folhas de jornais na Hemeroteca Nacional .

Não nos deveria parecer estranho? Não deveríamos nos preocupar? Se não sabemos quem fomos, o que produzimos e tudo o que nossa terra tem, como nos blindar no presente? Corroboro o entendimento de que um povo que não sabe sobre o seu passado não tem qualquer chance de futuro, pois está fadado a incorrer nos mesmos erros. E o pior, incorrer em erros que não são nossos, porque o passado que conhecemos não é o nosso, estudamos os outros, mas não a nós.

Quantas personalidades paraibanas que promoveram a diferença no direito, na ciência, na arte, na literatura, estão esquecidas em alguma biblioteca, empoeirados porque nós nunca os visitamos, nunca demos a eles o lugar que lhes é devido?

Tenho um professor muito querido, que em um de seus livros escreveu conselhos para os jovens, eis o meu trecho preferido dos conselhos:

Estude o seu país. Tenha certeza de que milhares de americanos, europeus e asiáticos fazem o mesmo. Tente pensar nos problemas e nas soluções brasileiras: os gregos já estão muito bem servidos. Nós, brasileiros, precisamos de muita pesquisa, ciência e educação.(Silveira Siqueira, Gustavo. Pequeno Manual de Metodologia da Pesquisa Jurídica: ou roteiro de pesquisa para estudantes de Direito (p. 140). Instituto Pazes. Edição do Kindle.)

Precisamos discutir o Brasil, mas para isso, precisamos ler o Brasil e os brasileiros. No dia que entendermos isso, passaremos por uma avenida ou uma rua e o nome dela terá finalmente um significado, seremos detentores e propagadores de nossa própria história, e quando esse dia chegar, e eu rogo para que chegue, veremos o Brasil que podemos ser, porque teremos na memória o Brasil que já fomos, os lugares que não nos pertencem mais e os que estão só nos esperando.

No que depender de mim, cada brasileiro será lembrado.

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