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O meu modo de cuidar

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Por: Neves Couras;

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Todos nós abraçamos, de certa forma, uma missão em nossa vida. Quando optei ou melhor, fui sendo “direcionada” a escrever, é que já existia em meu íntimo uma necessidade de falar de coisas e vivências de minha existência presente, e, acredito que o escritor é um sonhador, um contador de histórias, e como reencarnacionista sei que nem tudo são apenas sonhos. Guardamos em nosso subconsciente, imagens que já vivemos, que poderemos vir a ver e viver…

Quando pequena, como todas as crianças de minha geração, não tínhamos os recursos tecnológicos de hoje, e acredito por essa razão nossa imaginação era muito fértil.

Olhávamos para as nuvens, ficávamos formando carneirinhos, galinhas, vacas, flores, anjos e imagens que estavam, quem sabe, em nosso inconsciente, mas que despertavam em nós, a responsabilidade de cuidar de cada imagem descoberta, afinal, fora nossa percepção que a descobriu, ela deixaria de existir, portanto era nossa e precisava ser cuidada para que não viesse a desaparecer.

As estrelas nos levavam a um mundo de beleza e fantasia. Aquelas pequenas luzinhas piscando para nós, tinham um significado… não sabíamos exatamente qual, mas tinham sim!

E, nesse aprofundamento, pude sentir como é importante despertar para o cuidar. Sentia que “cuidar” está relacionado a alguém, a alguma coisa… pode ser também…, mas onde fico neste processo?

Cuidar da casa, dos ambientes, dos animais no pasto, dos borreguinhos que foram rejeitados pela mãe por não ter tetas para todos, tudo era cuidar do outro, cuidado para com o outro. E, o cuidar do humano?

Na visão espiritual, o cuidar – que transcende a dimensão física – cuidar de outro ser humano em seus momentos mais difíceis, aqueles que não são verbalizados por falta de palavras que tenham um significado apropriado, aquele que precisa ser cuidado sem nada pedir, sem nada dizer. É o cuidado só do olhar, do abraçar do sentir.

Em nossa infância já estávamos sendo convidados a despertarmos, em cada um de nós, um sentimento diferente. Quando um pássaro que em função de uma queda, quebrava a asinha, uma perninha, ele não nos dizia o que estava sentindo, não nos falava de sua dor, mas sabíamos que precisávamos cuidar dele e como cuidar.

Nesse despertar para o cuidar do que havíamos nos tornando responsável, cuidar daquele bichinho, do objeto sonhado, era preciso. No entanto, o meu cuidar tomou uma dimensão desconhecida. Crescendo percebi que já não cuidamos mais dos pequeninos, dos vulneráveis. Tudo passou. Será?

Você se identificou com alguma coisa de sua vida que descrevi anteriormente? Pois bem, tudo que vivenciamos no passado, foi preparação para o futuro, para o agora. Mas o que aconteceu conosco? Será que perdemos a capacidade de sentir a dor do outro? O tempo agora, o presente, está cheio de carências, não mais só os animaizinhos com asinhas e perninhas fraturadas. Hoje, tem-se mais membros fraturados. Tem corações partidos e solitários, abraços que não abraçam, bocas que não beijam, mãos que não se apertam.

Os serezinhos que víamos nas nuvens e que “pegávamos” para cuidar, estão mais pertos de nós. Se tornaram nossos colegas de trabalho que muitas vezes não cumprimentamos, nossos vizinhos de porta, que não os conhecemos, nossos irmãos de sangue que moram apenas em ruas diferentes da nossa e não os visitamos mais, nossas tias e tios, nossos primos e primas que nem sabemos mais onde moram.

Onde está aquele sentimento que sinto falta em mim? A saudade que sinto de ter um olhar para olhar, uma estrelinha que brilhe e que eu possa olhar para ela, aquele abraço apertado que nada fala, mas tudo diz?

A saudade do café com bolinho no final da tarde, as prosas das paqueras, dos vestidos bonitos das amigas, dos cabelos bem cortados que gostávamos de copiar logo após a festa.

Os olhos hoje, estão tão tristes, e as pessoas tão distantes, quando cumprimentamos alguém ao cruzarmos na rua, é causa de admiração. Tente passar por alguém na caminhada e dizer um bom dia! – Boa tarde! Provoque o sorriso em alguém, surpreenda com uma visita! Tudo se torna via de mão dupla! O prato de bolo que vai, volta com um pedaço de torta. Um cumprimento pode se tornar uma oportunidade de uma boa prosa.

Lembrei-me de nosso pai, quando íamos a feira nos dias de domingo pela manhã, nessa época morávamos em Brasília, eu sempre gostei de feira livre e de gente, por isso o acompanhava para fazer a feira. Eu sempre identificava um conhecido. Logo perguntava:

“Pai aquele não é fulano?” Ele dava as costas e falava: não vá falar com esse povo. Nem o ouvia. Chegava perto e perguntava: – Você é de tal lugar de Pombal? – A pessoa já vinha com um sorriso. – Sou sim e você quem é? – sou filha de Alfredo. Olha ele ali. Evidente, que a essas alturas os dois já se aproximavam e iniciavam uma boa conversa. -Riam das lembranças e saiam felizes. Ao final, ele dizia: Não te trago mais para a feira. No domingo seguinte estava eu novamente, a identificar mais um conhecido.

Sou assim! – É meu jeito. É meu jeito de cuidar sem perguntar, abraçar sem nada dizer. Só amar!
Só sentir que somos pessoas que precisam umas das outras, precisamos dos sorrisos e dos cafezinhos com bolo, um dos outros.

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