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Saudades

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Por: Neves Coura;

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Por que será que esta palavra só existe em nossa bela língua portuguesa? Só sei dizer que, esta semana, o que ela representa chegou muito forte à minha mente. Dizem que relembrar o passado é revivê-lo. Acredito que além de revivê-lo muitas vezes voltamos ao passado que não sei se vivemos ou se apenas sonhamos.

Sei que, assim como algumas palavras são chaves para acessar nossas memórias, algumas imagens nos fazem voltar ao trem do passado. Não gostaria que esse sentimento passasse por uma análise crítica de nenhum poeta, nem tão pouco de um psicólogo. O que quero dizer é que apenas senti saudades.

É costume em nossa casa a fazermos a decoração junina à moda antiga para os festejos dos santos do mês. Dois de Meus filhos nasceram durante estes festejos, e talvez por isso, dão muita importância a essa comemoração. Santo Antônio também tem culpa nisso. Ele possibilitou que Antônio e eu pudéssemos viver, ou melhor, revivermos justamente em seu dia. Em um 13 de junho, para não fugir à regra de meus difíceis partos, Santo Antônio em sua bondade deve ter falado com São João e São Pedro para que nos desse uma nova oportunidade de vida.

Após anos, vêm minha neta que, desde recém nascida, suas cantigas de ninar preferidas são um bom forró, especificamente forró de Luiz Gonzaga, Flavio José ou Santana. Não pode ouvir uma zabumba e uma sanfona que começa a dançar. Essa vai querer dançar os 30 dias de forró de São João. Quando chega os primeiros dias do mês de junho, começa a sua “ladainha” para decorar toda casa. Junta a essa paixão, a mãe nasceu em plena antevéspera de São João. Ainda no hospital, escutávamos o forró que acontecia ao lado do Hospital.

Bem, voltando à saudade, foram essas lembranças acessadas em minha memória, quando estavam todos com boas risadas, colocando os enfeites em nossa grande varanda, e a colocação dos estandartes feitos por mim, de forma rústica, dos três santos do mês, que enfeitam a porta de entrada de nossa casa, que a viagem começou.

Voltei bem lá atrás nas noites de Santo Antônio e São João no sítio de meus avós. Antônio Mororó, apesar de não lembrar de nenhum sorriso dele, mas lembro das grandes fogueiras, que ele mandava preparar, dos grandes tachos de canjica, das pamonhas feitas com muita nata e feitas no moinho mesmo. Não tinha muito requinte em seu feitio, mas quando juntavam-se a essas saborosas comidas o queijo de manteiga e de coalho feitos naquela cozinha que pela quantidade de moças (tias e primas), a festa já estava começada desde o feitio das comidas.

O Melhor era quando a noite caia. A grande fogueira que queimava até o sol sair, e as brincadeiras, as adivinhações que todas as moças faziam para tentarem adivinhar desde o nome do futuro namorado, ou até mesmo se iriam casar e se, fosse, quanto tempo ainda levaria.

Tudo era festa, tudo era alegria. Eu ainda pequena, apesar de não compreender toda aquela algazarra, me sentia como parte daquelas brincadeiras. Alguma das tias ou mesmo minha avó, Maria Monteiro, emprestava a aliança que era colocada em um cabelo da filha ou prima que queria fazer a adivinhação e lá estava balançando em um copo com água. A cada batida da aliança no copo, significava os anos que faltavam para o casamento acontecer.

Havia uma outra numa bacia de ágata branca, que se colocava o rosto e ali, segundo a pretendente, chegava a ver o rosto do seu futuro marido. Bem, se não visse, ficaria para “titia”, coisa que nenhuma obviamente, queria ser.

A mais interessante, era a faca virgem colocada no talo da bananeira. Coitada da bananeira, que de tanto ser furada, acabava deixando as iniciais do futuro marido de alguém. Essa posso garantir que deu certo para uma das tias. Como também, nenhuma ficou pra “titia”.

Não havia bebida, não havia bandas tocando nem luz elétrica para animar aquela grande festa.

No entanto, era pura felicidade que até hoje lembro nos rostos daquelas tias e primas, cuja alegria ainda carregam até hoje. Neste trem da saudade vem junto as imagens dos avós, tios pais e até primos que não estão conosco. Outros que não puderam presenciar toda essa alegria, pois seus nascimentos foram algumas das razões das adivinhações. Lá vai a escritora falar da idade. Não posso esconder, nem gostaria, pois cada momento vivido me fez ser o que sou hoje. Sou a primeira neta de Maria Monteiro e Antônio Mororó.

Vivi experiencias que como diz a música “Luar do Sertão” que um querido amigo me enviou quando estava escrevendo esse texto, que me leva a sonhos ou vivências. Não sei. Elas se confundem, mas posso garantir que as noites de lua que eu, ainda menina, deitada naquela calçada olhando para as estrelas e a lua em todas suas fazes, jamais serão esquecidas. Também não existe um pôr do sol como o do Sertão. Você poderá se perguntar: qual sertão? O meu, o seu, o que está em nosso coração.

Sem contar que é no mês de junho que o nosso sertão paraibano apresenta o clima mais ameno. Aquele friozinho que dá vontade de abraçar e ficar juntinho. Juntinho dos que amamos e dos que se fazem presentes em todas nossas memórias, ou quem sabe, em nossos corações. É em nosso coração que guardamos todas nossas lembranças. As mais especiais. Só para esclarecer, no coração também ficam lembranças, que são guardadas, caso a mente esqueça.

Finalizando esse texto de saudade. Vivamos com alegria os momentos dos festejos de nossas colheitas. Foi para isso que as festas juninas foram criadas para darmos graças à divindade por tudo que recebemos como fruto de nosso trabalho e do amor que plantamos.

Boas festas juninas. Curtam tudo com a alegria do coração! Essas lembranças se tornarão saudades que poderão ser acessadas quando as imagens vividas forem repetidas.

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