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Não é porque você dá conta que você não cansa

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Por: Karen Emília Formiga;

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Depois de algumas semanas tratando inúmeras viroses de repetição, tivemos mais uns dias tumultuados, por aqui.

Gripes que se renovaram. Crianças, que em idade escolar, repetem os ciclos virais como se não existisse outras semanas para adoecer.

Tudo num período só. Em curtos espaços de tempo.
Quando são as crianças que adoecem, tudo fica difícil: noites sem dormir, inapetência atípica, choros a mais, horas do dia a menos.

Difícil é, mas você dá conta. Porque está bem. E estando bem, você consegue ultrapassar os inúmeros desafios que uma quebra de rotina causa.

Mas, quando a mãe adoece junto com as crianças?
E o pai não só adoece também como sofre um acidente doméstico, em que ficará em stand-by por 15 dias?

Como agimos, como recepcionamos as sensações e sentimentos advindos das circunstâncias e promovemos – com celeridade – mudanças de organização de rotina e soluções para as muitas demandas que nos chegam com o que não faz parte da dinâmica da casa?

Como dar conta de lavagens daqueles pequenos narizinhos, remédios com horas certas, supervisionamento de febres, acompanhamentos de estado geral, se você mesmo está com tanta febre quanto seus pequenos?

Certa feita, usando esse mesmo espaço providencial que nos permite pensar sobre a maternidade plena, escrevi sobre a culpa materna. Falei, na ocasião, sobre como os sentimentos de alguma culpa estão inerentes ao exercício da maternagem.

Em algum momento, você se sente insuficiente por não ter feito algo que – acredita – poderia ter desempenhado melhor.

Sente-se culpada por querer voltar ao mercado de trabalho, por exemplo. Mas, também, sente- se culpada por ficar em casa e não sentir a vida progredir.

Acha, numa quarta-feira qualquer, que poderia ter feito um lanche melhor, uma refeição com mais afinco ou ter brincado um pouco mais.

O que não lembramos é que muitos sentimentos surgidos na maternidade são provenientes de cansaços variados que não ousamos denominar com o nome que realmente tem.
Cansaço!

À mãe é pouco permitido sentir-se cansada. E é assim não porque as pessoas que ela cuida não permite tal nomenclatura. Ela mesma não admite estar cansada. Quase sempre, ela sequer consegue entender que o que tem é mesmo cansaço.

Físico – mental – espiritual.
Por vezes, até mesmo hormonal. A mãe doente e com TPM é uma mãe diferente da que ela costuma ser sadia e na janela de hormônios mais tranquila.

Isso não é considerado.
A enxaqueca não é considerada – por ela mesma – como algo que o corpo sente e está fora do seu controle.

A tentativa de ter tudo dentro dos limites de suas possibilidades faz de todas as mães a equivocada super heroína que não admite estar cansada.
Ela não admite!

Ela, antes de tudo, antes de todos, não se permite cansar. Não ousa dizer: “estou exausta é preciso abraçar o meu cansaço para compreender melhor as inúmeras nuances que esse estado está querendo me dizer”.

Não ousa pensar sobre!
Porque se, em algum momento, ela falou sobre, foi banida do grupo de mães perfeitas e das super mulheres que dão conta de tudo.

E ela tenta seguir fazendo exatamente o contrário do que seu corpo implora: descansar.
Seu corpo pede!
Sua alma, coração e mente também.

A maior contradição de não se admitir humana e continuar fazendo tudo como se descansada estivesse está justamente no quão guerreira ela acredita ser – e lá está ela dando conta de tudo, sem ao menos reclamar do quanto a cabeça dói.

Sai tudo mal feito? Sai tudo mal feito. Na percepção dela – e ela conhece- tudo está faltando. Menos ela mesma.

Falta roupa limpa, carreiras alavancadas e a perfeição do Instagram tão propagada no nicho maternidade que ao invés de ajudar, deixa mães culpadas, tristes e ansiosas.
Somente porque ela não se admitiu cansada. E externou seu cansaço, explodindo em boom: “dessa vez, eu não aguento ir mais além”.

Os brinquedos vão ficar espalhados. O concurso vai esperar para ser feito. A louça na pia vai ser lavada quando ela se sentir melhor e a reunião com a diretora chatíssima da escola das crianças vai ser quando der pra ser porque agora, naquele instante, ela está cansada.

E precisa descansar para que as outras coisas possam voltar a fluir de forma mais íntegra.
__
Quando comecei a escrever o artigo da semana, eu tinha uma outra temática para abordar. Mais leve, até mais condizente com a realidade da mãe integral. Falaria do quanto é prazeroso e gratificante estar presente para a minha família -todo o tempo- disponibilizando tempo para que eles pudessem crescer.
(…)

Corta para um marido que num churrasco – de descanso – rasgou a mão com uma faca, tendo que correr para a urgência, levando 6 pontos.

Duas crianças que adoeceram, mais uma vez, igual: no mesmo dia, com os mesmos sintomas, as mesmas urgências, necessidades e solicitações para a mãe.

Durante a madrugada, cuidando de todos os meus convalescentes, fiz um vídeo para guardar como recordação: o pai reclamando da dor da mão, inchada e com os pontos doendo. Augusto em vômitos, decorrentes de tosses sem finais. Manuela com 39.7 de uma febre que não cedia.

Nessa mesma madrugada vi uma postagem que dizia “não é porque carrego bem o fardo que ele não é pesado”.

 

E, ali, naquela madrugada, permiti nomear o que eu sentia, separando de qualquer outro sentimento: eu estava cansada.

Não importava o quanto amo maternar.
O quanto amo meus filhos, minha casa. O quanto tento dar conta de tudo que sou responsável.

Eu estava cansada. Admitir foi libertador e me proporcionou encontrar caminhos que pudessem me fazer descansar.

Um hino de louvor. Um pedido para que Deus me ajudasse.
Um compartilhamento atípico no Instagram da postagem retrô mencionada fez outras mães se identificarem: sim. Damos conta. Mas em algum momento, iremos nos sentir cansadas.

Esse texto é um abraço a todas elas.
Que elas possam dizer dos seus cansaços sem serem subjugadas. Que possam se sentir cansadas sem se sentir culpadas.
E, sobretudo, que possam descansar.

E descansadas voltem a escrever sobre as muitas maravilhas da maternidade.

Em tempo: esse texto contém trechos reais da rotina de quem o escreveu e relatos de outras mães que se sentiram libertas para dizerem: estou cansada!

 

 

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