Por: Karen Emília Formiga;
Com o fim das comemorações do dia das mães, e de volta aquele limbo em que a mãe só é mãe mesmo, sem grandes visibilidades e festejos, flagrei-me pensando em quantas mulheres questionam sua maternidade.
Quantas delas acreditam estar desempenhando um papel “meia boca” porque não consegue alcançar todas as esferas que maternar denota.
Essa semana, ouvi o relato de uma amiga grávida que disse não conseguir se encontrar na maternidade. Não consegue curtir o tempo de espera, de se curtir grávida, porque para todo lado que ela olha, só enxerga trabalho. Trabalho e inúmeras coisas a serem feitas que ela não conseguirá “com perfeição”, como tantas mães que ela acompanha no Instagram. (Em aspas, aqui usei a exata expressão que ela me disse/ esse trecho, aqui exposto, ainda que sem o nome da pessoa, foi devidamente autorizado).
Escutando-a comecei a pensar quantas mães mais devem se achar menos mães (ou insuficientes) pelos recortes que visualizam em redes sociais.
Não há como julgar nem quem compartilha uma maternidade mais funcional, nem quem publica os muitos perrengues que todas temos.
As redes sociais são recortes, já era para o mundo inteiro ter internalizado essa informação. Por trás da foto e das histórias de que há dias que realmente são leves, há outros tantos tão caóticos que há quem prefira não compartilhar. Eu sou um exemplo disso: uso dos meus sítios virtuais para mostrar o que funciona, o que dá certo por aqui. É preciso dizer, contudo, que muitas outras coisas não funcionam ou não estão tendo minha atenção tanto quanto deveria – a minha carreira é um clássico desenho – suspensa, porque eu não conseguiria fazer como gostaria as coisas que um trajeto profissional exigiria.
Cada pessoa tem uma forma de lidar e usar seu espaço na internet. E como exemplo semanal de trazer para minha própria maternidade algo que ilustre essa premissa, conto-lhes: os meus dias têm momentos quase insanos (no sentido figurado da palavra, claro).
Mas voltando – os meus dias não são compostos somente dessa “perfeição”que alguém com um dia menos rotinizado tenta atribuir. Ali , por volta da hora do almoço, dá vontade de correr. Nem que eu fosse mil ou tivesse mil braços, eu não conseguiria.
Às tardes, costumam ser mais tranquilas e à noite consigo aquela paz de ter conseguido fazer muita coisa sem me flagelar pelo que ficou para o outro dia.
É uma tríade assim: “meu Deus, o que eu fiz da minha vida?”/ “caramba! Eu consigo!”/ “Obrigada, meu Deus, por tê-los, eu nem os mereço”. (Risos).
Você já leu isso em outro lugar, é certo, mas a maternidade é essa montanha russa de sentimentos porque ela é uma montanha russa de movimentos em que quem tá pilotando o carrinho está sem cinto, sem freio e com a certeza de que um grande acidente acontecerá. Então, de repente, você chega em solo firme e desce do carrinho em segurança. E no outro dia, recomeça.
Voltando lá para a minha amiga, disse para ela que essa pretensa perfeição que ela queria e que via em outras mães era inalcançável. E era porque era inexistente. Mesmo o perfil de mãe mais zelosa, mais preparada que ela conhece tem outras esferas da vida, que não vimos, que está lá em stand-by.
Algumas mães, com o passar dos anos, ganham a sabedoria de não expor aquilo que não funciona. Outras, preferem compartilhar seus erros e angústias e acabam por ganhar muitas amigas que estão todas na mesma situação.
Na maternidade, não sabemos com exatidão o que funcionará. Por exemplo, eu tenho um filho alérgico a dipirona, remédio para febre, todos os outros são super receptivos a mesma substância. Para aquele, a dipirona não servirá. E a mãe precisará encontrar outros caminhos e formas de curar a febre e a dor de um que não é como a maioria.
Essas particularidades fazem de nós seres maternos que nunca serão perfeitos. Mas quem é?! Como outros setores de nossa existência, estamos num processo de buscar o nosso melhor, dia após dia, em um dia de cada vez. Há semanas que funcionará, há outras que será um caos. Para todas nós!
Despedi-me da minha amiga dizendo para ela que a perfeição está na intenção. Se ela dá 100% do que ela é para que outra pessoa esteja bem, na maternidade ela é perfeita. Se ela dá esses mesmos 100% para que a carreira dela seja promissora, no trabalho ela é perfeita. E por aí vai… no relacionamento, na vida social, no convívio com seus familiares.
Será perfeito quando no seu coração repousar bons sentimentos de fazer o seu melhor.
Têm dias que conseguimos. Têm dias que não.
Em todos eles, você desempenha um papel de perfeito ser humano em evolução.