Por: Neves Couras;
Essa semana, foi comemorado o dia do amigo. A princípio, eu sou meio aversa a essas datas que, apenas por um dia, se comemora algo ou alguém que tem muita importância em nossa vida. Por isso, não pode ser apenas um dia. Assim, nossos amigos, essas pessoas que se tornam tão importantes para nós, têm que receber de nós toda gratidão todos os dias do ano.
Acordei com várias mensagens se referindo a esse dia, e percebi o quanto é importante sermos lembrados, principalmente sabendo que, na grande maioria, são amigos de todas as horas e não apenas por um dia.
Alguns deles, gostaria de carregar, dentro do peito como bem diz a música, pois é lá que meus amigos estão. Alguns nem precisam pagar aluguel. Têm moradia definitiva, e por longos anos os levarei, levo, comigo, assim como sei que estou em alguns corações de amigos que já partiram, mas ainda sinto a presença deles, exatamente naqueles momentos que eu gostaria de tê-los comigo, sentados na cadeira ao lado, tomando uma xícara de café ou apenas, quem sabe, ouvindo seu coração silenciosamente.
Retiro as minhas antigas impressões, com relação aos amigos serem lembrados apenas por um dia. Que seja! Mas que esse sentimento seja realmente recíproco, pois o que seria de nós se não fossem os verdadeiros amigos. Amigo, não é só aquele que te aplaude que te agrada, ou que se exime de te dizer as verdades sobre nossos defeitos, que muitas vezes, por orgulho, não percebemos.
Não poderia falar de amigo sem recordar a história contada na Odisseia, que nos traz a história de Argos, o amigo de quatro patas de Ulisses. Quando o herói, depois de muita luta, consegue voltar para casa e para sua amada ilha de Ítaca, onde, pelo longo tempo que ficara fora, desconhece os perigos que o esperava em sua casa. Por precaução, Atena, sua deusa protetora (vejam que os nossos amigos protetores existem de longas datas), transforma-o num velho decrépito para que ninguém o reconhecesse, nem mesmo Penélope sua amada esposa que o esperava havia vinte anos.
Quando Ulisses se aproxima de seu palácio, no entanto, se depara com um cão moribundo no meio de toda a sujeira vinda dos estábulos. Argos, o seu cão de caça, era apenas um filhote quando ele tinha partido de Tróia; Naquele retorno Ulisses o encontra velhíssimo, estava já jogado para morrer naquele terreno de imundices.
Ao ver que Ulisses se aproximava, deitou as orelhas e abandonou a cauda, felicitando o amigo que voltara. Conta Homero que a sombra da morte desceu finalmente sobre Argos: ele agora podia morrer, pois tinha encontrado seu dono.
Na filosofia grega, temos inúmeros casos de grandes amigos, mas neste momento, vou dedicar um espaço a alguns amigos que tive. Quando pequena tive um papagaio, na verdade era de nosso pai, mas, ele se afeiçoou a mim de uma forma que eu o deixava colocar o bico segurando meus lábios, por longo tempo. Era incapaz de me machucar. No entanto, tive um namorado, que ele não permitia se aproximar. Talvez devesse ter escutado o conselho do meu papagaio…
Em nossa casa hoje, apareceram inúmeros gatos, digo que apareceram, pois não sabemos a procedência, mas foram ficando. Como algumas pessoas dizem que os gatos escolhem as casas para morarem, eles nos escolheram. Dentre eles, tem uma linda a charmosa gatinha, que minha neta e meu filho passaram a chamá-la de “Geni”. Não tenho muito aconchego com eles, eu confesso, mas Geni sem dúvida nenhuma cuida de mim. Todas as vezes que deixo a porta de meu quarto aberta, ela sorrateiramente sobe em meu guarda roupa, muito quieta, até que a descubro. Há momentos em que angústias e tristezas me vêm ao coração, e nesses momentos ela surge nos pés vindo de não sei onde. Depois de alguns minutos se acariciando em minhas pernas, passa para o terraço que eles escolheram para ficar, ou embaixo de alguma planta que além da sombra a ofereça uma terrinha fria, como quem vem prestar um serviço e depois segue sua rotina.
Assim, caros amigos, quero neste espaço e nesta oportunidade agradecer a amizade de grandes amigos que a vida me presenteou e sei que faço parte da vida de muitos outros. Que nossa amizade assim, como a de Argos por Ulisses, possa durar até ao final de nossas vidas. Também assim, como os tenho em meu coração, que eu tenha um cantinho no de vocês.
ATENÇÃO!
Sou, Gorette editora deste site, mas principalmente amiga/irmã desta colunista que hoje fez este belo artigo.
Aproveito para invadir seu artigo, peço desculpas mas não poderia perder esta oportunidade e prestar minha homenagem a esse presente que a vida me deu nessa caminhada e ofereço a próxima musica com carinho a você Neves Couras.