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Por que calar uma voz?

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Por: Neves Couras;

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Aproveitando a Semana Santa, trazemos um tema que envolve também sacrifícios, traições e perseguições. Entretanto, o protagonista é outro, ou melhor, a protagonista é outra, mas as causas são parecidas. Na chamada Semana Santa celebramos a paixão de Cristo, seu martírio, da traição ao Calvário e a sua ressureição depois que quase todos já haviam perdido as esperanças. Peço licença ao Criador para compará-lo, em seu martírio, a outra figura, mulher, negra, brasileira, um tantinho mais próxima de nós no tempo, no espaço e na humanidade.

Com as notícias que vêm surgindo na última semana sobre os desdobramentos da investigação que se arrasta há seis anos, e pela perplexidade que tomou conta do Brasil, e o por que não dizer o Mundo, não poderíamos nos calar. A luta da mulher por seu espaço e lugar ao sol, sabemos, não são recentes. O caso Marielle, mexe com nossas entranhas como ser humano e como Mulher.

Se formos buscar na História a nossa luta pelo que é plenamente justo, pelos nossos direitos de igualdade, não para sermos como os homens, mas porque somos seres humanos. Temos cromossomos diferentes não é razão para sermos tratadas como se fossemos inferiores.

Desde os primórdios da história, algumas tribos eram de denominação feminina, pois como e mulher que traz ao mundo um novo habitante, elas eram respeitadas e idolatradas como deusas, depois, a própria mulher começa a compartilhar o poder com o homem, e assim ela perde seu lugar.

Mas neste nosso “bate papo” de hoje, gostaria de relembrar ou para quem não sabe, mostrar a luta que algumas mulheres tiveram para garantir nossos direitos. E não foi em um passado muito distante. Para que a Constituição de 1988 garantisse a participação da mulher na política, foi necessário um movimento que ficou conhecido como o “Lobby do Batom”.

Fizeram parte desse movimento professoras, médicas, jornalistas… mulheres de todas as profissões e regiões do país. Foram 26 constituintes de variados partidos, como PSB, PSDB, PT, PFL, PTB dentre outros. O PMDB – Partido do Movimento Democrático Brasileiro, tinha o maior número de representantes (42,3%). Quando nos aprofundamos um pouco mais na história e nos dados estatísticos, percebemos que pouco foram as mudanças nestes 36 anos de política e de eleições com a participação de mulheres.

Em 1934 a Assembleia Constituinte contou apenas com duas mulheres: Carlota Pereira de Queiroz e Almerinda Farias da Gama. Hoje, temos no Congresso, um total de 107 mulheres. São 92 deputadas e 15 senadoras. No total, representam somente 18% dos parlamentares no Congresso. As mulheres são 51,5% da população brasileira, segundo dados do Censo 2022, precisamos pensar nestes dados. Isso significa que ao votarmos, não pensamos na questão de gênero, e por isso os homens continuam no comando de nossa história.

As constituintes que participaram do Lobby do Batom, reivindicavam: “ampliação dos direitos civis, sociais e econômicos das mulheres e definição do princípio da não discriminação por sexo, raça-etnia, a igualdade de direitos e responsabilidades na família, a proibição das recriminações da mulher no mercado de trabalho, e igualdade jurídica entre homens e mulheres”.

Deste movimento surgiu no Encontro Nacional da Mulher e Constituinte, promovido pelo Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM) para fortalecer a reivindicação feminina por direitos na nova Constituição, foi redigida a “Carta das Mulheres Brasileiras aos Constituintes”, entregue ao Deputado Ulysses Guimarães pela própria presidente da Campanha em 1987, Jaqueline Pitanguy. Na sua abertura, declara:

Nós, mulheres, estamos conscientes de que este país só será verdadeiramente democrático e seus cidadãos verdadeiramente livres quando, sem prejuízo de sexo, raça, cor, classe, orientação sexual, credo político ou religioso, condição física ou idade, for garantido tratamento e igual oportunidade de acesso às ruas, palanques, oficinas, fábricas, escritórios, assembleias e palácios”.

Fiz questão de transcrever essa introdução, pois a partir dele poderemos analisar o que realmente conquistamos e qual a nossa real participação nesse processo de mudança. Quando me referi a Marielle, foi apenas para lembrar e tentarmos fazer um exercício mental de quantas mulheres tentaram chegar onde ela chegou e não conseguiram. E ainda não conseguem.

Imagine o que Marielle, mulher negra, precisou passar, quantas barreiras, quantas piadas, quantos empecilhos foram colocados em seu caminho, e ela conseguiu chegar onde chegou.

Sua voz, defendia a minoria. Incomodava porque defendia pobre, preto e mulher. Por isso, a prepotência dos homens que chegaram num lugar perto dela. Só perto. Por isso a sua voz, como de tantas mulheres, foi calada. Mas nossa voz não é calada apenas na política. A voz da mulher é calada a partir de nossas casas, ao lado de homens que preferem ter um rosto bonito e bem comportado por trás dele, do que a sua frente ou ao seu lado, lutando, ombro a ombro, pelos mesmos direitos. O direito de ser humano.

E o que mais nos causa perplexidade, é que sua voz e sua altivez foram tantas que, não se aliando aos conluios da política, incomodou quem deveria defender não só a mulher, mas a Lei, e esses homens brancos não suportaram o poder, a voz de uma mulher, e só lhes restou um caminho que os déspotas que povoam os poderes constituídos deste país, tão bem conhecem: o nosso silenciamento. No caso da vereadora, os poderosos se juntaram com a própria polícia, para matar, para calar uma voz.

A estes, que foram descobertos, tantos outros estão agindo, como dizemos por aqui, “debaixo dos panos”, mesmo que se passem seis anos, dois mil anos, a verdade, a humanização, a generosidade e as grandes vozes que se levantam em prol da defesa das minorias, jamais conseguirão ser todas caladas. Uma Marielle se foi, mas seus algozes jamais pensaram que sua voz continuaria ecoando em cada mulher que se reconhece como tal e que resolve se unir a outras mulheres e ao Lobby do Baton apenas muda de nome. Ele continua vivo! Marielle continua viva!

 

 

 

 

Fonte Consultada: https://www.politize.com.br/lobby-do-batom/ .

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