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Passei só para te dizer adeus

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Por: Neves Couras;

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Nestes últimos anos pelos quais passamos, em que tudo passou tão rápido, quanta coisa mudou em nossa vida. Nesta terça-feira, partiu nossa última guerreira. Vendo-a naquele lugar para receber a visita e as últimas homenagens que tanto merecia, pude observar tantas coisas… Em meio a choros, risos, caras retorcidas, outras pensativas, e ao meio desse ambiente, um corpo que esperava o trem para leva-lo em sua última viagem.

Eu ali ao lado dela, com pouco tempo para observar e sentir todas as emoções que pareciam vir de meu cérebro, passando pelo meu coração, emoções e lembranças que se misturavam num turbilhão de cenas vividas, e, como na tela do cinema, uma grande história se descortinou. Entre os que estavam presentes para a despedida se encontravam os que tinham um pouco dela, outros que talvez estivessem ali por educação e precisavam se fazer presentes.

Mas em mim ficou uma grande parte daquela que ocupou aquele corpo por 97 anos. Quase um século! Desses 97 mais de 60 convivi com ela. Na verdade, com elas. Ela apenas concluiu um ciclo de uma passagem de um grupo de mulheres, que aqui chegou no primeiro ano do século XX, quando aportou neste lado de cá, Anália Formiga. Foi através de Anália, que mais tarde se encontrou com Francisco Antônio, que trouxeram para este mundo três homens e cinco mulheres.

Dos nossos parentes e amigos que estavam presentes na despedida, poucos lembravam de Anália, que se tornou conhecida como “Dondom”. As lembranças que guardo dela são distantes, ela nos deixou logo, mas não esqueço dela sentada em seu banquinho, em frente a sua almofada de bilros, tecendo lindos bicos de linha, ou, quando sentava de cócoras e pelo juntar da saia entre as pernas, formava uma “redinha” que ela ali me acolhia. Partiu cedo, mas deixou seus filhos uns já prontos para enfrentar a vida e o ultimo, havia chegado há apenas 12 anos.

Mas, é sobre as mulheres que eu quero neste texto prestar a minha homenagem, e ao mesmo tempo refletir um pouco a respeito do enredo do filme que envolve cinco mulheres que se tornam órfãs nos anos 60 do século passado. Anália deixou mulheres que, apesar da época, eram fortes, determinadas e senhoras de suas vidas. Aí, me pergunto: dessas cinco, três não casaram, quatro não tiveram filhos, mas o que elas deixaram em cada um de nós?

Deixaram um grande exemplo de luta pela sobrevivência. Que ser mulher em qualquer lugar e época, é sempre um grande desafio. Contudo, a ética, a elegância no modo de ser e viver, o respeito ao outro e acima de tudo o amor a si própria. Estas, são marcas que aprendi e faço uso em minha vida.

Aquela mulher que viveu quase um século, foi capaz de deixar um grande legado. O legado que está tão pouco em uso. A sinceridade e a dignidade. Mas tudo isso não esquecendo de nos ensinar que ser humilde não é ser submissa.

Assim, chegou a hora, e o trem chegou à estação para apanhar “a última das Formiguinhas”, mas que nos deixou saudade e a certeza que um dia nos juntaremos todas que estivermos ligadas pela mesma sintonia de amor e respeito.

Até a próxima minha querida tia. O dia não sabemos, mas acredito que ainda nos juntaremos entorno de uma grande mesa para rimos muito de tudo que vivemos e aprendemos.

 

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