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A ancestralidade e a hereditariedade nas canções de Chico Buarque

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Na música “Para Todos” Chico Buarque de Hollanda nos revela sua ancestralidade com os nordestinos e os mineiros; relembrando suas origens, lembra ainda, que o Brasil começou no Nordeste, seu “descobrimento” foi em terras baianas, sua colonização nas mesmas terras, os primeiros europeus chegaram na Bahia, se firmaram na Bahia, constituíram famílias e enriqueceram na Bahia. Não quero aqui exaltar o povo europeu, ao contrário, reitero meu pensamento a respeito dele e suas conquistas, afirmando que a dívida da Europa com o Continente Africano e com o Continente Americano é enorme, incalculável.

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Mas, essa é outra questão que se desdobraria em outro texto.
Voltando a letra da canção e observando a nossa ancestralidade (povo brasileiro) descobri que descendemos de baianos, pernambucanos, cearenses, portugueses, africanos e indígenas, dessa grande nação que formou todo o território brasileiro. Enquanto, Chico tinha pai paulista, avô pernambucano, bisavô mineiro e tataravô baiano. Eu tenho um pai cearense, um avô paraibano, um bisavô caririense e um tataravô pernambucano. E asseguro ao leitor é apaixonante saber quem somos e se achar na ponta desse grande novelo étnico. Nós pertencemos a essa miscigenação, essa mistura, estamos com um pé fincado na tribo, outro na senzala e com as mãos Além-Mar.

Depois de esclarecer a naturalidade dos seus familiares, Chico Buarque diz ser Tom Jobim (Antônio Brasileiro) seu pai musical, que traz no nome, um sobrenome nacionalista (Brasileiro), como representando todos os artistas do Brasil, ele é brasileiro na nacionalidade e na identidade. E segue citando grandes artistas dos mais diversos Estados brasileiros, de idade e tempo distinto, dos mais velhos (Pinxiguinha, Cartola e Dorival Caymmi) aos mais jovens (Evoé Jovens a vista), e citados como antídoto para todos os males e todas as dores.

Na letra da canção “Fado Tropical” Chico Buarque descreve o sentimentalismo português e sua hereditariedade no povo brasileiro, dos muitos sentimentos que nos une e nos separa como: a gentileza e a consternação, a ingratidão e o amor, e a sífilis, como doença hereditária, transmitida pelo Europeu. A dualidade entre o coração e as mãos, o primeiro sente e perdoa e o segundo contesta e executa, como se esses órgãos não tivesse nenhuma ligação entre si. Enquanto as mãos torturavam, esganavam e trucidavam; o coração se fechava sereno, desabotoava e chorava. Era a emoção e a razão em duelo constante, em eterno conflito.

Nesta música a dualidade aparece em vários sentidos, do gesto e do sentimento, da distância e da proximidade, da serenidade e da violência, da causa e do efeito, da vida e da morte, da liberdade e da escravidão. Ele fala da distância entre as mãos e o coração, da distância entre a intenção (coração) e o gesto (mãos), e quando as mãos consegue estreitar o coração através da mudez e da cegueira há uma certa repugnância, causando a impressão de incesto, de gesto proibido ou fora dos padrões. E no desenrolar da canção ele faz uma “comparação,” outra vez a dualidade entre os costumes portugueses que foram trazidos e implantados no Brasil. Ele ver as plantações de avencas (Portugal) em plena caatinga (Brasil), dos alecrins (Portugal) nos canaviais (Brasil), dos licores (Portugal) guardados em moringas (Brasil) e do vinho tropical fabricados em solo brasileiro. E numa verdadeira exaltação a miscigenação ele veste a linda mulata com rendas do Alentejo, mostrando a sensualidade da cor e num ato de provocação rouba-lhe dos lábios carnudos e sedutores um beijo. Denunciando a violência sexual, quando as escravas engravidavam dos seus senhores, muitas vezes usadas e abusadas por eles.

E segue comparando os sons dos instrumentos musicais, a sanfona trazida da Europa e a guitarra invenção brasileira, os jasmins que enfeitavam e perfumavam os jardins dos casarões no Brasil e dos coqueiros que embelezavam e matavam a sede em todo litoral desta terra gigante chamada Brasil; a sardinha, peixe dos mares portugueses e a mandioca, tubérculo brasileiro sendo servidos em azulejo português numa mistura de sabor e elegância.

E para finalizar ele faz referência aos dois principais rios, símbolo de riqueza e identidade para o povo português e o povo brasileiro: O Tejo e o Amazonas, e suas características se unem numa fusão imaginária, quando na transposição do Rio Amazonas correndo Trás-os-Montes (limite administrativo português ou fronteira-mor) que numa pororoca (fenômeno do Rio Amazonas quando suas águas entram no mar) deságua no Tejo, numa demonstração de importância econômica, cultural e sentimental para os dois países e seus habitantes.

Chico Buarque usa o estribilho como fechamento na última estrofe da canção, e lembra um antigo desejo das coroas absolutistas europeias que planejava a conservação do regime, acordo fechado no Congresso de Viena, no ano de 1815, vendo o Brasil como o lugar ideal para implantação de um império colonial, um poderoso império, ou, tornar-se um imenso Portugal, como era o desejo das Cortes de Lisboa em 1821. Desejos abortados pelo Nordeste brasileiro, em especial, pelo Cariri cearense na Guerra da Independência, em 1823.

E depois de navegar tanto mar Chico continua na estrada. Ele é um artista brasileiro.
Aplausos para Chico Buarque! Viva a música brasileira!

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