Por: Neves Couras;
Alguns temas que surgem em nosso dia a dia, podem parecer banais se não forem vistos com um olhar mais crítico e, por essa suposta banalidade, não parecem merecer nossa atenção, até que surgem algumas situações que nos fazem parar para refletir. Temas como responsabilidade e ética ou nos são comuns, por já fazerem parte do nosso eu, ou são irrelevantes quando não damos nenhuma importância aos mesmos.
Com relação à ética, Étienne de La Boétie (1530-1563), dizia: só as pessoas éticas têm amigos, os não éticos têm comparsas. Passei a analisar esta frase, como sempre faço, considerando fatos e pessoas diante de situações, complexas para uns e banais pra outros.
Diante das afirmativas do filósofo, pude me lembrar de situações que vivenciei no passado ocupando cargos de relativa importância, pude passar por momentos de extrema dificuldade que exigiram de mim o que costumamos chamar de “jogo de cintura”. Precisei de muita maestria para não ferir meus princípios de honestidade e respeito, para manter em seus devidos lugares os interesses de Estado e os privados.
Jamais tive interesse por Poder. Nunca deixei que nenhum cargo me fizesse esquecer que ao sair daquele ambiente e ao voltar para casa, eu encontraria, em primeiro lugar, estacionado ao lado de meu trabalho, um pequeno automóvel, muito simples, que me levava para uma casa igualmente simples, mas condizente com o salário que recebia e, jamais esqueci que o salário e o “poder” que por um tempo eram atrelados ao meu cargo como funcionária pública, eram temporários.
Leandro Karnal em uma de suas palestras disse algo que chamou minha atenção: “Amigos são poucos e escassos ao longo da vida. Essa foi uma lição que duramente aprendi. Nós temos centenas de conhecidos, mas poucos amigos”. Ele se refere ainda a ética e acrescenta: “a vida com ética é uma vida mais fácil” (…) Só pessoas éticas têm amigos. As não éticas, têm apenas cúmplices”. Quanta verdade em tão poucas palavras. Os não éticos são capazes de oferecer uma grande festa e dela fazerem parte muitos conhecidos. Mas, se tempos depois esta pessoa por alguma razão, perder seu status e oferecer uma outra festa, certamente contará com muitos poucos convidados.
O homem ético e honrado jamais deverá esquecer que tudo que ele fizer deve ser realizado com transparência, além do que, acredito que acima de todos os costumes para se viver em sociedade, devemos viver o que verdadeiramente somos, e ainda, o respeito ao direito do outro. O meu, termina onde começa o seu. Isso, podemos chamar ainda de responsabilidade.
Não poderia abordar esse tema sem beber não só do que convencionamos chamar de filosofia, sem me aproximar dos ensinamentos da divindade. Na obra “Jesus e Atualidade” de Divaldo Franco pelo Espirito de Joana de Ângelis, ao se comentar sobre a responsabilidade, esta diz:
Há, no homem, latente, um forte mecanismo que o leva a fugir da responsabilidade, (…) A responsabilidade resulta da consciência que discerne e compreende a razão da existência humana, sua finalidade e suas metas, trabalhando por assumir o papel que lhe está destinado pela vida (pág., 65).
Lendo estas citações, fica claro para o homem de bem, que é nossa responsabilidade sermos éticos. Ética, apesar de ser estudada e falada por muitos filósofos desde a antiguidade, além dos livros sagrados, é um seguro roteiro para ser seguido por toda humanidade. Infelizmente, assim como em alguns textos sagrados para se chegar ao paraíso ou algo que o valha, existe o caminho mais fácil onde os prazeres da vida é o que mais importa, ou o da porta estreita que apesar de ser de difícil aceso é o mais seguro.
Sei que definir ética, não é uma missão das mais fáceis, já que teria que abranger todas as áreas de conhecimento, falar de vários nomes da filosofia, mas, vou me ater à ética na vida cotidiana de qualquer ser humano. Precisamos compreender que ser ético não é nenhum adjetivo que possa elevar alguém. Acredito e persigo esse compromisso comigo e tento passar para meus filhos. Ser ético nada mais é que cumprir com os princípios tão falados e ensinados nos livros sagrados ou, em nosso caso, nos ensinamentos de Jesus. Acredito que quando optamos por sermos éticos, somos dignos, honestos e, acima de tudo, reconhecemos nossos direitos, respeitando o direito do outro.
Lembro da fala de alguns antigos como meu avô. Dizia que não seria necessário a assinatura de um papel como garantia de alguma dívida assumida ou compromisso. Ele, assim como eu, ainda acredito que quando empenhamos nossa palavra ela deve ter força do direito. Embora encontremos na atualidade homens que mesmo assinando um papel não cumprem com sua palavra. São os mentirosos. Fico imaginando como é difícil a vida de um mentiroso. Se não quiser ser desmascarado, precisa ter uma excelente memória.
Precisa saber o que disse e a quem disse. Imagine numa vida inteira, se ter domínio de todas suas mentiras… conheço alguns e posso afirmar, como é terrível conviver com eles!
Me torno repetitiva ao dizer que falo das situações que presenciei ou que vivi. E, neste momento, estas duas questões estão me mostrando o quanto o ser humano prefere fugir de suas responsabilidades por pura falta de caráter. É evidente que é muito mais fácil não cumprirmos com nossas responsabilidades, deixando que alguém as assuma, ou não nos preocuparmos com as consequências de nossos atos, acreditando, inclusive, que muitos deles jamais serão descobertos, ou que nunca iremos responder por eles.
Quantos lares são destruídos exatamente, porque um dos responsáveis ter resolvido não reconhecer seu papel de mãe, pai ou cônjuge. Quando esse papel é exercido naturalmente, não se percebe a lucidez de quem o pratica e sua importância. A vida dos envolvidos, quando acontece alguma dificuldade, é tão mais fácil de ser resolvida, se torna tão suave a existência e a convivência. Quando por opção toma o caminho mais fácil, não imagina as dores e o sofrimento que deixam sua marca por quem com eles viveu.
Ainda bebendo da sabedoria de Joanna de Ângelis, para se exercer a responsabilidade, em muitos casos nos é exigido extremo sacrifício, abnegação e até mesmo renúncia. Entretanto, não podemos esquecer que Jesus nos fez responsáveis nos lembrando de nossos deveres como legítimos objetivos de nossa vida.
Estamos vivendo tempos de muita carência de caráter, ética e responsabilidade. Não pensemos que esses são maioria e, por oportunismo, queiramos engrossar essas fileiras. Existe mais prudência em sermos pessoas de bem que apenas participarmos de um grande rebanho cujo chefe não sabe onde nos levará.
.
.