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Ao Seresteiro Lavrense Ferrier Tomaz Ferrer a minha homenagem

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O universo, do qual, pertenceu Ferrier foi tão grande quanto foi o seu caráter e o seu carisma. Dotado de uma memória invejável, quase fotográfica e de uma inteligência notável, Ferrier carregou numa só alma e numa única existência a nostálgia do seresteiro, a memória criativa dos contadores de Histórias, e o som inconfundível de um exímio violonista. Tocava porque sabia.

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Dono de uma voz barítono, forte e viril se eternizou como o símbolo de uma Lavras antiga, romântica e feliz. Cantou e chorou suas mágoas, seus amores e suas lembranças nas cordas do seu amigo violão, deslizava os dedos com maestria e precisão como flechas nas mãos de um arqueiro, certo dia, quebrou seu violão, destruindo naquela hora uma velha amizade, separando para sempre do seu confidente fiel. Seu amigo de noitadas partiu para nunca mais voltar.

Assim como todo lavrense, Ferrier carregava no peito e na alma a marca e o amor pela terra natal. Pertenceu a uma geração de muitos seresteiros, de grandes poetas e de uma juventude alegre e participativa. Num tempo onde o amor era cantado nas madrugadas, debaixo das janelas da casa da mulher amada, a serenata era mais que uma manifestação, era um presente, uma declaração de amor. Os poetas recitavam, os seresteiros cantavam e os jovens viviam sonhando sob a luz da lua e o palitar do coração.

Ferrier viu e viveu uma Lavras progressista em tempos de apogeu, a Princesa do Salgado, foi terra de homens destemidos, corajosos e prestigiosos, e como toda grande civilização teve seu apogeu, declínio e seu fim. Assim como todos nós que amamos Lavras e a literatura passamos nos contentar com os livros e suas narrativas.

Falar sobre o amigo Ferrier é mais desafiador ainda. De temperamento forte, espírito impaciente, turrão e decidido, não demonstrava qualquer sentimento afável, para ele sentimento era sinal de fraqueza, mas debaixo daquela casca de homem durão existia um grande coração que foi sufocado, ferido e machucado. Nunca encontrei dificuldades em conversar com ele, aprendi sua linguagem e sabia até onde eu poderia ir. Nunca ultrapassei do limite permitido. Foram muitas conversas sobre Lavras e seus primórdios, personalidades importantes, coronelismo, cangaço e velhos acontecimentos de Lavras de outrora. Certo dia e para minha surpresa falou-me de suas doces lembranças, lembranças da sua juventude, de velhos e antigos sonhos não realizados, de atitudes impensadas que lhe custaram sofrimentos e desenganos, da desilusão e arrependimento de ter quebrado seu violão, baixou a cabeça e balbuciou com voz de lamento: OH! Rapaz tão bonito que era meu violão!!!! Mas, de um supetão finalizou: é isso mesmo!!!! Coisa de gente jovem.

Amante da boa musica e apaixonado pela história, Ferrier foi uma figura pública, admirado por muitos, embora nunca se deu conta desse seu lado carismático. Seu nome é sinônimo de referência quando o assunto é história. Ele não se limitou nas suas funções de tabelião, com a curiosidade de um pesquisador leu e registrou em sua memória privilegiada muitos processos e inventários da Comarca de Lavras da Mangabeira. Era um verdadeiro HD externo.

Encerrou sua missão nos últimos dias de dezembro do ano passado. Como toda grande personalidade, Ferrier se despediu da vida e entrou na história. Não só na história de Lavras, mas na história de cada um de nós que fez parte da sua vida. Que Deus o receba com a mesma gentileza e a mesma atenção com que você me recebia na sua casa.

Fica com Deus amigo. Muita luz na sua nova morada.
Obrigada por tudo.
Cristina Couto.

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1 COMENTÁRIO

  1. Cristina Couto não poderia ter sido mais feliz do que nessa homenagem a Ferrier o nosso Ferrari, o velho seresteiro da época de ouro de Lavras da Mangabeira.
    Fui passageiro dessa história e dou o meu testemunho.
    “Meninos eu vivi isso junto com ele”
    Ferrari se encantou! “Perdi meus amigos, não sei quando vou”

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