Por; Neves Couras
Como faço parte de parte da população brasileira que já passou dos 60, dizemos que somos sexagenárias, mas ao contrário do que pensam muitos jovens, se quisermos, não seremos as “velhas” como eles e muitos outros velhos se deixam ficar. Vejamos: em primeiro lugar, vamos ter um pouco mais de cuidado com o nosso externo, pois a primeira imagem é a que fica. Esta, é uma frase que escuto desde pequena. Não deixe de se cuidar!
Se você é daquelas mulheres que acham que ao completar 60 anos não podemos mais ser atraentes e inteligentes você precisa rever seus conceitos. O envelhecimento ao qual me refiro neste texto não é apenas da aparência física, mas mental e espiritual.
Falo com todo conhecimento de causa. Acredito que parte das piadas pejorativas que uma mulher não precisa ouvir, já ouvi. Sei que pertenço a uma família de mulheres longevas, elegantes, determinadas e inteligentes. Não estou exagerando nem falando inverdades, coisa que não faz parte do meu jeito de ser. Tudo que neste texto exporei faz parte da minha vivência e de minha história. É evidente, que em alguns desses atributos, me incluo, mas não serei deselegante publicando-os.
Ao me aposentar, considerando que tive minha Carteira de Trabalho assinada aos 14 anos, tive o direito de me aposentar mais cedo que a maioria das pessoas. Como trabalhar sempre foi para mim um enorme prazer, logo que foi assinada minha aposentadoria, fui chamada para trabalhar exercendo vários cargos, não só no âmbito do Estado, como também em Prefeituras de municípios da grande João Pessoa. Em todos os cargos que assumi, procurei desenvolver trabalhos que pudessem melhorar a vida das pessoas, atividade que mesmo não sendo remunerada, procuro ainda realizar.
Essas atividades acredito terem sido responsáveis pela forma que resolvi adotar para minha vida. Nunca deixei de ser dona de casa, acompanhar o desenvolvimento e a vida de meus filhos, e há quatro anos, ganhei uma neta que usa até a cor do batom que eu uso.
Vejam nossa responsabilidade! Mas, antes de chegar neste ponto, gostaria de voltar às questões do preconceito principalmente com a mulher “idosa”. Coloco entre aspas, porque esse termo já nos deixa de corpo curvo, mãos nas costas e nos apoiando numa bengala, como é a característica do bonequinho adotado como símbolo nas placas que nos dão o direito de usarmos os estacionamentos mais próximos dos acessos a lojas, supermercados e ouros estabelecimentos.
Mesmo tendo de inúmeras vezes acordar às cinco da manhã para deixar o almoço e o jantar e até o lanche do dia prontos, para a noite ir para faculdade, ou ainda, preparar tudo isso antes de viajar para passar a semana nas áreas rurais desse estado exercendo minhas atividades, nunca deixei de me cuidar. Sei que nestes entremeios desenvolvi problemas de saúde que até hoje tenho sequelas, mas nada provocado por trabalho ou descuido. Mas sim pelo desrespeito que, em alguns casos, partiram de minha própria família, (essa é uma longa história, que no momento certo será contada), que como já tão falado em outros artigos nesta coluna, foram sentimentos reprimidos que se externaram em minha pele.
Bom, voltando ao preconceito, um dos que mais me marcaram, foi quando um ente idoso da família do pai de meus filhos, ao tomar conhecimento que eu havia montado um escritório em minha casa, muito sutilmente comentou: “Para que uma velha daquela ainda está precisando de escritório, ela devia era se aquietar”. Imaginem que delicadeza e respeito para com o próximo desse, que podemos realmente chamar de velho.
Parto dessa história, mas, de forma alguma, pretendo ser exemplo para ninguém. Não cabe no “meu jeito de ser”, mas contando um pouquinho de minha história, poderei levar a outras mulheres que guardam bem no seu íntimo, um grande sonho e talento, mas por se acharem “velhas incapazes”, têm vergonha de recomeçar. Digo apenas: recomecemos!
Antes mesmo deixar em definitivo as atividades profissionais remuneradas, fiz várias especializações, mas faltava iniciar na a carreira acadêmica. Voltei ao estudo, e a minha primeira conquista na Universidade Federal da Paraíba – UFPB, foi um curso de especialização cuja monografia, de tão difícil, pesquisa e tema – microcrédito – apesar do curso ser na área de Contabilidade Gerencial, foi necessário que um professor de Economia aceitasse ser meu orientador pois o tema não era do domínio de professores da Contabilidade.
Depois, tive com a ajuda do Alto, a oportunidade de realizar meu sonho de fazer o Mestrado, na mesma Universidade. Esse aprendizado me levou à carreira de pesquisadora e para qual, precisava ler mais, buscar mais informações, conhecimentos em outras áreas e iniciar a caminhada como escritora. Já tenho um livro publicado, dois capítulos de livros, estes ainda no período do mestrado. Tenho artigos publicados em diversas revistas, apresentação de trabalhos em Seminários no Brasil e no exterior e, ano passado, tive um excelente presente: ser convidada para fazer parte dos articulistas do Blog de João Vicente Machado. Parte desses artigos, atendendo inúmeros pedidos de leitores, estão sendo compilados em um livro cujo lançamento acredito que se realizará no inicio do ano que vem. Estou com mais dois livros bem encaminhados para novas publicações.
Com todas essas atividades, tenho me mantido com excelente disposição principalmente mental apesar de alguns probleminhas de saúde ainda sequelas dos dissabores já vividos e que se repetiram. Tudo isso tem me feito sentir-me jovem, bem articulada e atualizada, mesmo tendo como tempo já vivido 67 anos, e sabendo que os que tenho pela frente são os que preciso aproveitar para viver e deixar meu exemplo de vida para meus filhos e neta. Pois nosso pensamento, nossa força interior e nossos sonhos só pertencem a nós. Portanto, não deixemos que eles morram.
Recomecemos sempre que necessário. Pois viver, sonhar e amar, são prerrogativas de cada um. Ninguém com seu preconceito, tem o direito e o poder de me tirar a alegria de viver..