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A importância dos cuidados paliativos e da espiritualidade no final de nossa existência

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Acredito ter abordado o tema que agora, por uma necessidade humanitária, precisa ser novamente abordado e divulgado. Não me refiro a este artigo especificamente, mas ao tema que trazemos para a reflexão nossa, mas sobretudo do poder público, especificamente dos dirigentes da Saúde deste País.

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O aspecto da espiritualidade vem sendo cada vez mais necessário no exercício de assistência à saúde. Felizmente a ciência tem considerado a importância da espiritualidade na dimensão do ser humano. Ser humano é buscar significado em tudo que está em nós e à nossa volta, considerando que somos seres inacabados vivendo a experiência do autoconhecimento e em busca de nos tornarmos melhores a cada dia.

A prática e o termo “Cuidado Paliativo” ainda são novos para muitos de nós, assim como para o profissional de saúde que trabalha em locais onde essa forma de cuidado ainda não foi recomendada pelos dirigentes da saúde. Mas o que são cuidados paliativos?

“Cuidado paliativo é a modalidade de assistência que abrange as dimensões do ser humano além das dimensões físicas e emocional como prioridades dos cuidados oferecidos, reconhecendo a espiritualidade como fonte de grande bem-estar e de qualidade de vida ao se aproximar a morte (Wachholtz e Keefe, 2006) .

Trocando em miúdos, como dizemos por aqui, o que significa, na pratica, tudo isso? Em primeiro lugar, inúmeras pesquisas já comprovam falar e respeitar a relação da religiosidade e/ou espiritualidade do paciente melhora os indicadores de saúde mental e adaptação ao estresse em pessoas que praticam atividades religiosas. Não é difícil compreender que, se no momento de intensa dor e sofrimento, o médico aborda o paciente sobre sua religiosidade e estimula sua prática, ou seja, o paciente escuta de alguém que cuida dele naquele momento, e aqui eu acrescento que é de suma importância que a equipe de enfermagem também possa ouvir o paciente e estimular suas orações, já contribui, como indicam as pesquisas, para o bem estar do paciente.

Em segundo lugar, o hospital que tem a prática do cuidado paliativo, mesmo o paciente estando na Unidade de Terapia Intensiva ou em uma área conhecida por “área vermelha”, onde ficam os pacientes em situação menos crítica, permite que o paciente seja acompanhado por um membro da família. Aquele paciente mesmo estando sob efeito de fortes medicamentos, em muitos casos, consegue ouvir tudo que acontece ao seu redor.
Considerando essas vivências, é frequente o relato das equipes médicas que trabalham em UTIs, após recuperação de pacientes, depoimentos que relatam alguma experiência que comprovam essa nossa afirmativa.

Nossa abordagem neste espaço vem no sentido de chamar atenção dos Dirigentes e de Políticos, para a necessidade de tornar o cuidado paliativo uma regra nos programas de saúde e não uma exceção.

Por minha vez, presenciei recentemente não como pesquisadora, mas como familiar, a importância não só para a família, mas sobretudo para o paciente de se sentir acolhido, ouvindo a voz de um ente querido, que às vezes não vê, mas sente seu braço ser tocado, sua mão ser acariciada, e para os que praticam uma religião, chegam até a falar da divindade por ele cultuada. Como é importante que a presença de um familiar mesmo que não entenda nada do que está acontecendo em termos técnicos e não saiba o que “falam” as máquinas, mas está ali acompanhando seu familiar que sente que não está sozinho nos momentos mais difíceis de sua existência corpórea.

Em situação oposta, fica o paciente sozinho ao lado de outros pacientes igualmente sozinhos, tendo como companhia apenas a movimentação das equipes médicas que permanecem naquele recinto e o barulho insuportável daquelas máquinas. Ali permanece, sem nenhum conhecimento do que acontece ao seu redor, e tendo apenas 30 minutos por dia para que alguém da família o venha ver e, muitas vezes, não podem nem o tocar. Lembro-me quando uma de minhas tias estava hospitalizada, exatamente na área vermelha, e quando íamos visitá-la, a primeira coisa que erámos orientados: “a paciente não pode ser tocada”.

Quanta falta me fazia não poder tocá-la nem a beijar seu rosto, dizer que estava lá com ela, que mesmo que estivesse “inconsciente”, eu estaria lá o tempo todo cuidando dela. E naquele pouco tempinho não era possível nem fazermos juntas uma oração. O tempo era insuficiente, pois aqueles 30 minutinhos, dividíamos com outros familiares que também queriam vê-la. Como era doído sair dali e deixar alguém que amávamos tanto sozinha. E como de fato aconteceu, recebemos apenas a noticia nas primeiras horas do dia seguinte: “venha buscar o corpo, ela faleceu”.

Como é desumano essa relação de um sistema que de um lado, se propõe cuidar, e, de outro, aquele ser humano que deixa essa vida é colocado em uma “pedra”, a ele é juntado seus pertences e coberto com um lençol como se fosse apenas um objeto que nunca teve vida nem tão pouco teve história. Que nunca amou e foi amado. Faleceu sozinho, sem podermos nos despedir, sem podermos dizer: vai… estamos aqui…

Peço como fazíamos nos requerimentos feitos em outros tempos, “A QUEM INTERESSAR POSSA”, usem seus mandatos, seu poder que foi por nós, outros seres humanos, outorgado, para que pensem nesse momento pelo qual todos nós iremos passar, nossos familiares seus familiares, você.

Para concluir, alguns que nos seguem neste espaço e que temos a honra de tê-los e tê-las como leitores e leitoras, sabem que sou Espiritista ou melhor ainda, sou Espiritualista. E, em um de nossos trabalhos onde recebemos os espíritos para serem assistidos, recebemos a visita de uma amiga muito conhecida que fez o seguinte depoimento: “Como foi difícil eu partir, sem ter nenhum dos meus filhos comigo. Partir sem poder pegar na mão, ouvir ninguém que eu conhecia. Como doeu aquele momento tão solitário”.

Em nome dessa irmã, mãe e esposa que muito amou e também muito amada, vamos cuidar dos nossos entes queridos no momento final de nossas vidas. A vida não se acaba, nós apenas nos mudamos, mas como é bom olhar para trás e ver nossos amigos e familiares nos dando um adeus, e nos desejando uma boa viagem.

 

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