A palavra espectro é um substantivo que também significa fantasma. Ela tornou-se mundialmente famosa por fazer parte da frase de abertura do livro O Manifesto Comunista, que foi lançado em 1848 pelos filósofos Karl Marx e Friedrich Engels, os teóricos fundadores do socialismo cientifico. A palavra emblemática à qual fazemos referência, nos inspirou a discorrer sobre um fato pitoresco surgido por ocasião da última prova do ENEM que foi realizada no dia 05 de novembro de 2023.
Parafraseando Marx e Engels tomamos por empréstimo a ideia, para chancelar nosso escrito com o título: Um Espectro Ambiental Ronda o Brasil.
Tentaremos apreciar um episódio audacioso, com mais de um capítulo, que se reporta à obra de destruição de dois dos nossos biomas, e o consequente beicinho dos que fazem o agronegócio. As notícias que nos chegam, mostram a face sem máscara de um aglomerado de parlamentares da bancada ruralista, os quais os quais são apoiadores e foram apoiados por latifundiários não muito republicanos, os quais são corresponsáveis diretos pela ameaça concreta à vida animal no Brasil, e por extensão no Planeta Terra.
Ora, é de domínio público que a incontida degradação ambiental que vem desafiando as leis, as normas e as autoridades brasileiras, tem promovido em maior ou menor escala e de forma crescente, uma ousada e suicida agressão a todos os biomas do Brasil. O impacto ambiental tem afetado gravemente o bioma da floresta amazônica, permeando pelo bioma da mata atlântica, o bioma do pampa gaúcho, e até mesmo os biomas do cerrado e do semiárido nordestino, ambos em fase de transição para regiões desérticas.
A devastação dos nossos biomas é uma realidade dolorosa, e os números apresentados acima são incontestáveis. Eles foram coligidos no ano de 2019 ainda na primeira metade do governo de Jair Bolsonaro, diante da neutralidade e da indiferença dos demais poderes do Estado, contando ainda com silêncio remunerado da imprensa oficial e de grande parte das redes sociais.
Pois bem, entre os dias 03 e 05 de novembro de 2023 ocorreram dois fatos graves, e de muita repercussão, os quais pela magnitude e pela relevância devem nos servir a nós todos, como um grande alerta.
O primeiro dos episódios foi ditado pelo clima e teve início na sexta-feira, dia 03/11/2023 quando uma borrasca inesperada se abateu rigorosamente sobre a cidade de São Paulo. Grande parte da maior cidade da América Latina ficou sem energia, num colapso que perdurou por quase uma semana inteira, sem obter uma resposta concreta das autoridades envolvidas nas três instancias de poder. Uns culpavam a “surpresa” ditada pelo clima, outros culpavam a força dos ventos ou até mesmo o porte das árvores, todos tergiversando a dura realidade das mudanças climáticas já em curso e as suas causas e efeitos.
O colapso energético que ocorreu na cidade de São Paulo, serviu para colocar a nus a fragilidade do decantado programa de privatização de estatais, cantado em verso e prosa pelo ultraneoliberalismo. Mesmo assim ele não tem sido suficiente para frear o ímpeto privatista do outsider político Tarcísio Freitas, que insiste em privatizar a SABESP passando por cima de todas as evidências de fracasso.
O segundo episódio, esse de ordem política, foi decorrente da inclusão de três quesitos na prova do ENEM, nos quais foram abordadas a real devastação continuada dos nossos biomas, a contaminação dos Rios da Amazônia, além da galopante destruição da vegetação do cerrado na região do MATOPIBA. ( Maranhão, Tocantins, Piauí e Baia)
Os crimes ambientais recorrentes, que já não são mais novidade para ninguém, provocou o maior Fuzuê nas hostes da bancada ruralista no congresso nacional. Foi quando os ditos “representantes” do povo assumiram a defesa dos seus patronos do agronegócio, passando a exigir a anulação das questões do ENEM, por eles consideradas heréticas.
Sem atentar para o deslize que estavam cometendo, bradaram aos quatro ventos contra o conteúdo das provas propondo a anulação de quesitos. Com esse gesto, colocaram a carapuça nas próprias cabeças, confirmando para a opinião pública que é da autoria do agronegócio e da mineração, o desmatamento criminoso e o uso descontrolado de adubos e biocidas de longo alcance, em regiões agricultáveis dos nossos biomas. Achando pouco, eles ainda fazem uso de metais pesados de efeito cumulativo, no caso o mercúrio, um metal liquido muito usado no garimpo ilegal que praticam no leito e no aluvião dos rios da Amazônia.
Com o dito popular aprendemos desde os tempos de antanho, que:
“o uso do cachimbo faz a boca torta!”
Pois bem, foi com a boca torta pelo uso do cachimbo do lucro fácil, que um grupo de parlamentares se levantou em protesto, à mando da bancada ruralista, para resgatar a fatura do patrocínio financeiro investido nas suas campanhas eleitorais.
Foram muito além na sua audácia, a ponto de exigir do governo federal a anulação das questões citadas, pelo herético conteúdo “ideológico.” Adotaram uma atitude ideológica em defesa do que julgam pernicioso, esquecendo de que em todas as suas ações macroeconômicas, a ideologia de extrema direita está sempre presente e que o mundo todo está muito preocupado com a Amazônia, uma preocupação que uma parte significativa dos agentes políticos brasileiros não têm.
Para aqueles que ainda não sabem, o Brasil contribui com o índice de 13,22% de toda água doce existente no planeta terra. Por conseguinte, não é sem razão toda essa corrida das multinacionais para se apropriarem das nossas fontes de água. As multinacionais sabem muito bem que, em 2030 cerca de 162 países do mundo não terão mais água potável.
Observem a figura acima e percebam que 97,5% da água existente no planeta terra, está nos mares e nos oceanos, portanto é água salgada. Apenas 2,5% da água é doce e desse total 69,8 % está imobilizada nas calotas polares, 29% é de águas subterrâneas, 0,9% está sob forma de vapor e apenas 0,3% está disponível para o consumo, nos Rios e Lagos. Repetindo, só temos 0,3% para nos apropriar a menor custo.
Na figura que se segue vemos que 05 países detêm a posse de 43% de toda água doce do planeta, entre os quais o Brasil que os vira-latas teimam em reduzir em importância e desclassificar.
Como a água é um recurso natural essencial e insubstituível, ela não pode por nenhuma hipótese, ser submetida à logica liberal do lucro fácil para ser transformada em mercadoria, que somente permitirá o acesso a quem tiver dinheiro.
Na figura anterior reside a grande maioria das preocupações do capital. Se observarmos com atenção veremos que 67,2% da agua disponível é usada na irrigação e mais de 90% da água usada na grande irrigação é praticada pelos grandes empresários rurais e ai estará presente o agronegócio; que 11,1% da água é usada para abastecimento animal, que os grandes rebanhos são propriedade dos grandes empresários e ai estará presente o agronegócio; que 9,5% da água é usada na indústria e que a grande indústria pertence aos grandes empresários e mais uma vez ai estará presente o agronegócio; que 0,8% da água é usada pela mineração e que a mineração é propriedade de grandes empresários parceiros do mundo rural; apenas 8,7% de toda água é usada para abastecimento urbano. Mais uma vez aí estarão presentes os grupos econômicos defendendo a transformação da água em valor econômico, ou seja em mercadoria.
Portanto, tudo quanto for contrario aos interesses do grande capital, será atacado por um conteúdo ideológico por parte da classe dominante para e excluir a classe dominada.
Destarte vejamos na figura acima, a apregoada “competitividade” dos mega produtores rurais e o “sacrifício” a que são submetidos para “salvar” o Brasil. Na verdade mais uma amostra dos privilégios auferidos por eles, que são inversamente proporcionais ao processo de desindustrialização engendrado pelo ultraneoliberalismo. O Agronegócio que foi entronizado como o bambambambã da balança comercial brasileira, não paga pela água que consome, não recolhe os impostos devidos, não gera emprego, amparados que são pelo guarda chuvas do Estado e da famigerada Lei Kandir feita para eles e que os isenta do recolhimento.
Como usuário de uma tecnologia de ponta o agronegócio tem um elevado índice de mecanização das suas lavouras. Fazem uso aprofundado da mais valia relativa para pagar um salário irrisório aos poucos trabalhadores que contratam, os chamados boias fria, muitos deles em regime de trabalho escravo. A vista disso, a pequena geração de emprego que proporcionam, representa uma inexpressiva geração de empregos. São, rigor, grandes beneficiário do orçamento e das ações estruturantes do Estado.
Vejamos alguns depoimentos de parlamentares da bancada ruralista:
“O presidente da FPA, deputado Pedro Lupion (PP-PR) afirmou que aguarda uma manifestação do Planalto e do ministro da Educação sobre “a falta de honestidade intelectual e ativismo ideológico” (1) https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias;
“O senador Sergio Moro (União-PR) acusou o governo de utilizar o exame para fazer “doutrinação ideológica e ao mesmo tempo atacar o agronegócio” (1)
https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias;O deputado Tião Medeiros (PP-PR) afirmou que as questões do Enem teriam colocado o agronegócio “contra a juventude do País” (1) https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias;
Bia Kicis (PL-DF) e Nikolas Ferreira (PL-MG). Kicis disse que o governo utilizou ideologicamente o espaço no Exame Nacional do Ensino Médio para a “desinformação. Já Nikolas afirmou que o item “ataca o agro brasileiro, seus trabalhadores e produtores” (1)
https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias;
Finalizando resta-nos a indagação: Que autoridade tem o agronegócio, além do poderio econômico e financeiro predatório, para se imiscuir em questões pedagógicas inerentes ao ensino brasileiro?
Com a palavra a social democracia e a esquerda liberal brasileira!
Referências:
O ¬Brasil ¬reencontra o fantasma do racionamento de energia – Carta Capital;
a distribuição da água no planeta terra – Pesquisa Google;
a contribuição dos países na produção de água doce – Pesquisa Google;
Em busca de um novo modelo de gestão para o uso da água — Senado Notícias;
Agronegócio espanta a crise e gera empregos no interior – Revista Globo Rural | Agricultura;
Bancada do agro quer anular questões do Enem sobre o setor e convocar ministro da Educação (uol.com.br); (1)
Fotografias:
A onda de desmatamento nos biomas brasileiros em 2019 – Outras Palavras;
O ¬Brasil ¬reencontra o fantasma do racionamento de energia – Carta Capital;
a distribuição da água no planeta terra – Pesquisa Google;
a contribuição dos países na produção de água doce – Pesquisa Google
Em busca de um novo modelo de gestão para o uso da água — Senado Notícias;
Agronegócio espanta a crise e gera empregos no interior – Revista Globo Rural | Agricultura;