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Feito à mão

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Apesar da minha total falta de ânimo para as decorações natalinas esse ano, tenho uma sobrinha de 3 anos que sutilmente me obriga a desempacotar os ornamentos e a árvore de natal. E lá fomos nós. Árvore montada, luzinhas instaladas e aos poucos vou desembrulhando não apenas ornamentos, mas memórias de um passado que, honestamente, me lembram de um outro eu.

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Acredito que em 2020 ou 2021, resolvi fazer incontáveis ornamentos para a minha árvore. Não lembro quando mas ouvi por cima do obro uma senhora comentar com seus familiares que já tinha feito uma árvore toda decorada com pequenas cabaças, e dentro de cada uma delas um pequeno presépio. Aquilo nunca me saiu da cabeça, até que um ano criei coragem e encomendei um molde de silicone de um pequeníssimo presépio, e comprei cerca de 20 cabaças numa loja de produtos religiosos.

Com o molde, fiz os pequenos presépios de gesso, pintei cada um cuidadosamente com os menores pincéis que tinha, envernizei cada um cuidadosamente e os coloquei dentro das cabaças, nas quais abri uma abertura e pintei seu interior com um azul noturno, fiz um céu estrelado de glitter, fiz um pequeno orifício para colocar uma luzinha das centenas que iluminam a árvore simbolizando a estrela de Belém, fiz um chão de musgo e ali, na quela pequenina estrebaria não muito maior que minha mão, posicionei a sagrada família na noite de nascimento do salvador.

Também fiz algumas dezenas de poinsétias de juta. Comprei o tecido, dei um banho de cola branca para que ficasse com uma textura firme, risquei, cortei, moldei e fiz dezenas das famosas flores natalinas. Ainda fiz mais alguns querubins de gesso pintados de dourado, que são unidos à toda decoração por uma faixa de juta brilhante.

Contudo, os mais antigos ornamentos que possuo hoje foram trazidos de uma viagem a Gramado dez anos atrás. Belíssimas bolas feitas a mão com incríveis detalhes de tecidos, lantejoulas e passamanarias. E um conjunto de guizos dourados (já um pouco enegrecidos pelo tempo) comprados em um museu na famosa cidade gaúcha.

Jamais me esquecerei da decolagem na volta para casa quando insisti em levar os guizos na bagagem de mão, e durante uma turbulência na decolagem causada por uma enorme tempestade, o avião inteiro permanecia em silêncio solene e só se ouvia o tilintar metálico dos sininhos causando um alívio cômico à situação assustadora do avião quase na vertical cercado de nuvens cor de chumbo.

Acredito que data de 2017 ou 2018 um presépio de cerâmica que encomendei a um vendedor das famosas cerâmicas de Tracunhaém – PE, lembro-me da caixa chegando na minha casa com as peças cuidadosamente embaladas em jornal. Prontamente comecei a pintura das peças. Duas ou três camadas de branco para a base, logo os camelos começaram a ganhar vida, os três reis magos, representando os povos da África, Ásia e Europa ganharam, cada um, distintos tons de pele e roupas embelezadas de ouro, prata e cobre. O burrinho, representante da teimosia, e o transporte da sagrada família na fuga de Herodes, ganhou a cruz nas costas que, diz a tradição, foi onde o menino Jesus fizera um xixi que lhe escapara dos cueiros. O boi, símbolo da obediência e paciência, ganhou uma cor parda, como a do gado que existia na palestina daquele tempo. O anjo e os personagens principais da cena ganharam feições do povo médio-oriental, e roupas simples e com tons sóbrios, condizentes com as técnicas de tingimento e tecelagem da época. Quis um presépio feito a mão, por um artesão local, de barro como as criações de Deus, e pintei uma cena simples. Não quis que a essência do Cristo fosse perdida na aparência opulenta.

Diz-se que o primeiro presépio foi montado por São Francisco de Assis ainda no século 13, então não poderia ser diferente. Simplicidade franciscana na representação no nascimento de Jesus.

Já a árvore, tradição do norte da Europa, carrega um simbolismo que me parece muito familiar: a esperança na época mais difícil do ano. Onde surgiu a tradição, o pinheiro é uma das poucas plantas que mantêm suas folhas durante o inverno, quando as árvores ficam secas e o chão duro, impossível de ser cultivado. Não muito diferente da nossa caatinga na falta da chuva. Acredito que o nosso correspondente ao pinheiro alemão seria o juazeiro, que mesmo na mais aguerrida seca mantém-se verde e frondoso. Mas como não vendem juazeiros de plástico e arame para serem montados na sala de casa no auge do nosso verão, me atenho ao tradicional pinheirinho.

As decorações também têm todo um significado desde tempos imemoriais, antes mesmo do cristianismo, quando os povos do norte da Europa adornavam árvores na noite mais longa do ano para reavivar a esperança de uma primavera vindoura. No nosso caso, o dia mais longo do ano, na esperança de chuvas e temperaturas mais amenas. Sempre se pendurou frutos como um símbolo de abundância, tradição mantida no cristianismo e que hoje foi substituído por coloridas bolas, ou no meu caso, em cabaças adornadas com a cena da natividade.

Laços simbolizam a união, as luzes a esperança, sinos e instrumentos musicais relembram o dia do nascimento do Cristo em que os sinos badalaram comemorando seu nascimento, anjos, pássaros ou borboletas simbolizam o anjo da anunciação, e, por fim, a estrela que nos relembra do guia dos reis magos e da anunciação da chegada daquele que viria ao mundo para pregar sua mensagem de amor.

Por mais cansativo que seja adornarmos nossas casas para as festividades (e mais ainda guarda-las depois), mantermos viva, ano após ano a mensagem do amor e da esperança ante as dificuldades humanas, climáticas, familiares e tantas outras é um pequeno preço a se pagar para que a mensagem perdure por mais tempo, enquanto necessário seja o reiterado lembrete de que tudo ficará bem e que temos alguém sempre zelando por nós.

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