Acordei. Dou graças à divindade pela oportunidade de um novo dia, peço aos meus Guardiões que me protejam, fortaleçam e que eu possa ser agraciada com instrumentos para resolução de meus problemas, que em alguns casos, no dia anterior os coloquei na gaveta da escrivaninha para serem reabertos no dia que se inicia.
Acordo disposta, bem humorada e convicta de que este dia resolverei as pendências e ainda adiantarei outras, tudo relacionado às finanças, problemas familiares, de saúde, pendências no trabalho e, assim, retomo o novo dia.
Certamente, pela experiência que já adquiri, pelos problemas vivenciados, pela formação acadêmica e pelas leituras e orientações de muitos sábios, conto corriqueiramente com a ajuda de um Anjo que me dita algumas saídas, que de vez em quando ouso dizer que foram frutos de minha inteligência. Será mesmo?
Sei que precisamos ter foco no que queremos para nossa vida. Quando mais jovem, a leitura de um texto me marcou muito, o tempo não me deixou guardar seu autor, mas algumas das palavras ali escritas me serviram em alguns momentos difíceis, para que eu pudesse acreditar que foco e determinação para que “as pedras que eu fosse encontrando pelo caminho as guardasse para construção de meu sonho” me foram muito uteis.
O que me tornei e o que busquei ser em minha vida, tive como padrão, assim como um engenheiro precisa, para construção de sua obra, uma planta com todos os detalhes para que seu trabalho tenha sucesso, também tracei como princípios, o cuidado para não querer ser melhor que ninguém, respeitar todos independentemente de cor, sexo, idade, situação financeira ou cargo que estivesse ocupando. Evidente, que as coisas não foram fáceis e continuam não sendo.
Até pensei que com o passar dos anos, os problemas iriam diminuindo, a família seguiria seu próprio caminho, e eu cá com meus livros, meus discos e a família que sempre gostei de “juntar” com meu jeito quieto de ser, não teria muita dificuldade. Gosto muito de gente, de conversar, de descobrir coisas e, por isso, apesar de ter escolhido ser economista, nunca deixei de lado a História e a filosofia que sempre me encantaram. Tinha e ainda mantenho uma memória para fatos históricos e talvez porque sempre me colocava como algum personagem da História, vivi muitas vidas, aprendi também com seus personagens.
Mas confesso que os personagens que mais me inspiraram e também me ensinaram e continuam me desafiando, são os da família. Sobre isso, desnecessário falar que é a base da sociedade, dos ensinamentos etc. Para não encompridar demais esta conversa, como bem dizia uma personagem da televisão: vamos sair dos entretanto e vamos direto aos finalmentes.
Descobri estudando um pouquinho mais a Doutrina Espírita a razão de ser baseada na Ciência, Filosofia e Religião, sendo essa última, de foro íntimo. Seus ensinamentos éticos se baseiam nos ensinamentos cristãos. Ou seja, no Cristianismo primitivo. Sem dogmas criados pelos homens no transcorrer da história.
Pois bem, me vejo no momento com uma série de problemas para resolver, e, pensando ser minha a incapacidade para encontrar as soluções, me chega às mãos um Livro “Epiteto – A arte de viver (Encheiridion) uma edição especial com prefácio maravilhoso de Lucia Helena Galvão Maya. A obra é, na verdade, um manual do filósofo Epiteto mostrando um modelo de vida “factível para qualquer humano, sendo capaz de lhe garantir serenidade e felicidade”. Pensei: Achei o que tanto procurava!
Em seu primeiro item diz o Filósofo:
“Existem coisas que estão em nosso poder e outras estão além do que podemos. Em nosso poder está a opinião, o objetivo, o desejo, a aversão; em uma palavra, tudo o esteja relacionado a nós mesmos. Além de nosso poder está o corpo, a propriedade, a reputação, o cargo, enfim, tudo o que não é propriamente nosso”
E mais interessante:
“As coisas sob nosso poder são por natureza livres, irrestritas, desimpedidas; mas aquelas que estão além do nosso poder são fracas, dependentes, restritas, estranhas.
Ele ainda nos lembra que se atribuímos liberdade às coisas que por sua natureza são dependentes e toma para si o que pertence aos outros, você será prejudicado, lamentará, ficará insatisfeito e encontrará culpa tanto nos deuses quanto nos outros”
Continua sua bela lição, dizendo que se ao contrário, tomamos para nós apenas o que é nosso reconhecendo o que é do outro, ninguém jamais nos obrigará nem nos restringirá. Não culparemos ninguém nem faremos nada contra nossa vontade; ninguém nos ferirá e, portanto, não faremos inimigos e nem sofreremos danos.
São lições tão simples no que diz respeito e desapego. Para mim, essas lições são valorosíssimas e mostram que, na maioria das vezes, nossa vida se torna difícil por não compreendermos e respeitarmos a individualidade, o tempo das coisas e das pessoas. O que é nosso, precisamos cuidar com todo carinho e dedicação, mas jamais queimar etapas para alcançarmos nossos objetivos.
Por outro lado, se assimilarmos a importância da liberdade que podemos desfrutar, quando não interferimos no modo de vida de outro ser humano, porque discordamos dele, não é nosso direito, não nos pertence essa questão.
Finalmente, a vida se torna simples, porque viveremos de acordo com aquilo que conquistamos, que se torna nosso, por direito, por merecimento, por amor. O amor sem amarras, a nada que não seja nosso. Deixemos ir tudo que não pode ser nosso, que não nos diz respeito.
O tempo em muitas situações, é protagonista. Não significa que não temos meta nem foco, mas que assim como o se fabrica uma peça de argila, ela precisa do tempo de maturação até a queima. A Natureza não avança queimando etapas. A humanidade se aperfeiçoa de acordo com a necessidade da divindade, nossa necessidade. Como são belos estes ensinamentos. Talvez por sua simplicidade, foram esquecidos pelo homem que insiste em intervir nas questões e no tempo que ele nem domina, nem conhece.