A vitória de Javier Milei na Argentina possui várias explicações, algumas já previstas. Porém, toda explicação é carregada de viés. Precisamos olhar atentamente para a consistência dos perfis vitoriosos dos candidatos de direita ao redor do mundo. Há uma transformação substantiva em curso no que antes era considerado o espectro da direita política. E quanto à esquerda? Vamos simplesmente permanecer defensores da ordem e da legalidade? Isso contradiz diretamente a essência da esquerda e sua concepção, sendo estranho vê-la associada a um legalismo, formalismo e, francamente, conservadorismo.
Situações semelhantes de inversão de papéis surgiram como prenúncios de grandes catástrofes no passado. Para reestabelecer a credibilidade na prática política, é imperativo uma mudança radical no discurso, no comportamento e, em última instância, nas práticas políticas tangíveis. A direita deve ocupar seu espaço à direita, e a esquerda deve se posicionar verdadeiramente como esquerda. Isso requer uma mudança significativa de eixo, uma revisão completa de ideias e ações políticas.
Desconfio que o velho Trótsky tinha razão ao dizer que o principal obstáculo ao pleno desenvolvimento da sociedade humana, numa direção de mais igualdade e mais solidariedade, é o oportunismo das direções políticas. Estas, com variadas matizes e discursos mais ou menos organizados, pretendem se eternizar em um mundo em que nada é eterno.