Pelo centro, hoje seguia
Contemplando a estrutura
Quando uma criatura
Decidiu ser o meu guia
Ainda cedo do dia
O sol no céu feito brasa
O moço que não se atrasa
Pra contar da vida sua
Hoje um morador de rua
Me mostrou a sua casa
Prédios deteriorados
Vazios, são seus vizinhos
Me explicou direitinho
Que “tá tudo abandonado”
Centro marginalizado
Por uma política rasa
“Amigo, o povo diz ‘vaza’
Me bate, insulta ou recua ”
Hoje um morador de rua
Me mostrou a sua casa
Me disse que pelo dia
Tem movimento e à noite
Um breu cobre de açoite
O centro que se esvazia
Cem réis, duque de Caxias
Hotel Globo se defasa
Na Pólvora não se apraza
Na General, só a lua
Hoje um morador de rua
Me mostrou a sua casa
O centro, parte precária
Na marginalização
Serve à especulação
Cruel, imobiliária
Enquanto a casta empresária
Desce à praia e arrasa
Alarga, destrói, atrasa
Deixa a natureza nua
Hoje um morador de rua
Me mostrou a sua casa
Mote: Ângelo Emílio
Glosa: Matheus Ferreira