Nesses corredores daqui de dentro, entre painéis e luzes incessantes, vou mundo afora rumo desses desconhecidos enigmáticos do futuro. Tanjo os sonhos quais folhas soltas viradas no calendário do Destino. Por vezes, prego peças a mim mesmo, diante dos desejos de ser feliz. No entanto, de comum, busco incessante as fagulhas que iluminem erros do passado, isso através dos espasmos da religiosidade, que mantêm intacto o instinto de sobrevivência durante todo tempo. São aos deuses gravados nos tais painéis que ilustram as salas e os corredores que recorro nos momentos de solidão, a bater nas portas da escuridão que pede luz.
Quase que adormecido sob os ponteiros do relógio das horas, insisto em contar as histórias da tradição de quantos nos trouxeram até hoje nos braços estafados de depois, e resistimos a qualquer preço, no mercado das condições humanas. Firmo pés nos barrancos escarpados e transmito aos outros o poder de alimentar antigas visões. Conquanto dotado dos meios necessários a reviver, nas manhãs, os ideais que morreram na véspera, nalguns amanheceres ainda doem as cicatrizes dessa batalha de viver.
Há, igualmente, o pulsar pertinente do coração, olhos postos no amor das criaturas, talvez o valor inestimável que arrasta todos aos campos de produção. Cercados de espiões da vigilância, somos espécies de trabalhadores forçados da lide imensa.
Desconfiados, apressados e submissos, cabeças baixas às determinações do inexplicável, cá iremos nós ao foco dos céus.
Sísifos a rolar pedras ao cimo das montanhas, silenciosos, presenciamos nascer o Sol e deixamos escorrer o suor das almas rios abaixo, nas ladeiras do Universo.
A isso, porém, de amar e ser amado, eis a única razão de ser e estar em quaisquer das circunstâncias. De nada adiantaria o que quer que fosse não existisse amar e ser amado, viver e continuar em frente, face as bordas do abismo e das eras.