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Cuidar também é curar

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Os temas aos quais seleciono para abordar nesta coluna sempre têm alguma relação com fatos vivenciados por mim ou, de alguma forma, os recebo através de intuição. Já me aconteceu várias vezes ter “planejado” um tema para abordar, mas no decorrer do exercício de escrever, como se alguém ao meu lado me falasse sussurrando: “ei, volta”!

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Esta semana passei por um probleminha de saúde, que me levou buscar cuidados médicos de emergência. Nada preocupante, mas preferi ir ao hospital. Qual não foi minha surpresa quando durante todo o dia naquele hospital, senti que eu não estava ali para buscar assistência médica, mas cuidados médicos. Não sei se irei conseguir passar para o leitor todas as minúcias por mim vivenciadas naquele dia.

A maioria das pessoas que já me conhecem, tanto através deste espaço em que escrevo, e tantos outros pela minha prática e pesquisa voltadas para a os processos de cura espirituais, sabem que vez ou outra sinto a necessidade de voltar a este vasto tema que me instiga, cada vez mais, a pesquisar divulgar sua eficácia. Ao contrário do que muitos pensam, o tema “Espiritualidade” tem uma imensidão de conceitos, e muitos estudiosos ainda não conseguiram chegar ao consenso de um conceito absoluto.

Gosto de falar do tema e, para mim, a Espiritualidade não pode deixar de ser um fenômeno humano, histórico e multidimensional. Assim, também conceitua Carlos Bezerra Lima no Prefácio do livro “A face oculta do Cuidar” (Dulce Dirclair Huf, 1955).

Acredito que todas experiencias por nós vivenciadas, se bem observadas, são oportunidades de reflexão, mas sobretudo de aprendizado. Talvez pelo olhar de pesquisadora, tento não deixar passar nenhuma oportunidade da observação e avaliação dos fatos.

Durante o tempo que estive no hospital, muitas pessoas entravam, eram medicadas e saiam. Observei que os pacientes mais jovens, enquanto eram atendidos, não tiravam os olhos das telas dos celulares. Fiquei me indagando se este focar no celular seria uma incapacidade intelectual ou social, no sentido de não saberem manter contato com outras pessoas, pois muitos jovens, me parece, transferiram para as redes sociais e seus smartphones o papel da interação humana e até mesmo como única fonte para algum aprendizado.

Seus dedos ávidos nas telas, demonstram que não detinham seus olhares na leitura de um bom livro, ou assistiam a uma aula ou palestra com professores ou cientistas. A impressão que dão é da inabilidade de lidar com o real e a dependência da “recompensa mental” dada pelos algoritmos das redes. Ainda acho que o telefone ainda mantém sua origem: a comunicação. E as redes sociais apesar de nos proporcionarem esse papel, parecem estar exacerbando sua importância em nossas vidas.

Voltando aos jovens os quais observei, ainda podemos acrescentar uma boa dose de péssima educação, quando ignoravam as pessoas ao seu redor. Nesta colocação não cabe a ideia de que eles não se comunicaram só com as pessoas mais velhas que eles, que ali estavam. Nem mesmo dentre eles, existe a comunicação olho no olho, um sorriso, uma troca de opinião, nada disso. Os jovens estão se fechando, em si mesmos, e com o passar dos anos, já podemos identificar uma geração desconectada com o sentir ou o tocar.

Se faz necessária uma análise mais profunda dessa questão. Considerando que o ser humano desenvolvendo sua espiritualidade, busca transformar a convivência com seus semelhantes em espaço de felicidade, busca, primordialmente, evitar que o sofrimento, a doença, seja ela qual for, a dor e o desespero conduzam à infelicidade.

Vivemos uma época de distanciamento das pessoas, das famílias e, quanto aos amigos, muitos consideram ser estes, aqueles que fazem parte de sua rede de contatos no WhatsApp, Facebook ou outras redes sociais. Faltando, em qualquer nível que seja, a interação humana face a face.

A situação que presenciei me trouxe muitas indagações. Recebi, de um dos médicos de plantão, um atendimento tão humano, tão cuidadoso, que não pude deixar de pensar nos processos do cuidar dos quais Lévi-Strauss fala: “A cura consistiria, pois, em tornar pensável uma situação dada inicialmente em termos afetivos, e aceitáveis para o espírito as dores que o corpo se recusa a tolerar”.

O Médico e toda equipe que se envolvem no atendimento naquele momento, talvez, se tivessem um olhar mais profundo, voltado para a dor da alma do paciente, em muitas situações, talvez, não seriam necessários tantos medicamentos.

Me vieram à mente situações que vivenciamos todos os dias, principalmente com relação ao cuidado com o idoso. Os filhos que não desenvolvem empatia por seus pais e avós, as vezes nem sequer carinho, respeito e muito menos uma profunda afeição por àqueles que te deram a vida e cuidaram. Da mesma forma que percebi a indiferença daqueles jovens naquele lugar de cuidado, certamente, ao verem seus entes, que deveriam ser os mais queridos, ao chegarem ao tempo de receberem o afeto, o carinho e cuidado, não irão fazê-lo.

Toda existência humana, é baseada em princípios éticos e morais, e o maior de todos os Códigos, repassado a Moisés, muito antes de nossa era e, depois com a vinda do Filho de Deus, sendo reforçado, através do exemplo de amor filial que Jesus tinha por seus pais, no que se referia ao nosso dever de amar nossos pais.

Mas esse amor, não pode ser exercido apenas como se fossemos executores de um Decreto. Ou como se diz no Brasil, uma “Lei que não pega”. Todos nós, com raríssimas exceções, adoecemos. E as doenças que nos acometem podem ser resultado de nossas imprudências, ou mesmo descuido. Ainda adoecemos pelos sentimentos em desequilíbrio que provocam descompensações orgânicas que ao longo do tempo vão nos enfermando.

O afeto, o tocar, o querer bem, o respeito mútuo nos traz tranquilidade, serenidade e, claro, um certo equilíbrio que nos deixa mais felizes. Nosso organismo reconhece esse bem querer e, através de nossos hormônios promotores do bem estar retardam nosso adoecimento e envelhecimento. É neste momento que tudo que plantamos ao longo de nossa vida começa a ser colhido. Essa colheita, não é opcional: plantou, colheu. E se não plantamos afeto, cuidado, respeito, amor aos companheiros de jornada, aos nossos filhos, netos, enfim, a todos os membros de nossa família, como podemos esperar a colheita de bons produtos?

Neste plantio, volto a questão da cura que tanto almejamos quando adoecemos. Neste processo, não estão envolvidos apenas, a medicação os profissionais de saúde, ou o dinheiro que temos. Muitos julgam que tendo o dinheiro é suficiente. As doenças que em muitos casos nos afetam, não são cuidadas em suas causas, e sim, em seus efeitos. Neste momento, o nosso médico tem papel fundamental em nossa cura, assim como nossa família. Porque na maioria das vezes, o maior medicamento que precisamos, não é vendido em farmácia nem está à disposição nos hospitais.

Enquanto não compreendermos que precisamos de afeto, de olhar verdadeiramente uns aos outros, enquanto não descobrirmos que nós humanos, além de toda tecnologia, precisamos do cuidado e do afeto do curador, cuidado e afeto de nossa família. Precisamos segurar na mão uns dos outros, sentir que nas pontas dos dedos, assim como em nosso peito palpita um coração, que ele se alimenta e transmite amor, amor indispensável no processo de cura e de viver com equilíbrio, seremos e estaremos sempre doentes.

A causa das doenças, tornou-se moda dizer, é virose! Quem poderá afirmar, se é justamente a doença que mais se diagnostica nos hospitais, sem se olhar o paciente, ou se perguntar: como se sente, Senhor ou Senhora, ou jovem? Como estão seus sentimentos, sua vida, sua vivência? Viroses são oportunistas de sistemas imunológicos debilitados. E o que os debilitou?

Talvez, o curador precise aprender com o Xamã: Vamos envolver carinho afeto, espiritualidade, fé e, sim, amor. Muito amor.

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