Ao iniciarmos nossa caminhada como articulista neste Blog, abordamos vários temas que tangenciavam a espiritualidade e a saúde, assim como algumas questões que envolvem diretamente a religiosidade.
Com o passar do tempo, chegamos à conclusão de que poderíamos não apenas falar de forma hipotética, mas trazendo para o nosso dia a dia as informações que nos são repassadas pela divindade e pelos Espíritos. Assim, iniciamos as nossas práticas a partir de vivências que muitos de nós, seja através de amigos, familiares ou apenas temas abordados em pesquisas, mas que precisam ser refletidos de uma forma ou de outra.
As relações familiares são temas abordados por todas religiões, então sem falarmos de nossas experiencias, as palavras se tornariam vazias. Estamos passando por tempos difíceis em todo planeta. Alguns chegam a afirmar, inclusive, que o nosso fim está próximo. Contudo, a vida se renova a cada instante, num ciclo de constante renovação. E, se acontece a renovação, significa dizer, que algo acabou e teve início uma nova.
Voltando às questões familiares, abordamos as relações com narcisistas, com ênfase na relação conjugal ou de trabalho. Mas têm descortinado em nossas vidas a necessidade urgente de serem abordados temas que sejam mais esclarecedores e que possam contribuir com as melhores relações entre pais e filhos, que em nosso entendimento, e de muitos pesquisadores, ou até mesmo de pessoas que vivenciam em suas famílias dificuldades inconcebíveis. Quem já não ouviu dizer, que na escola, na família, nada é como antes?
Já cheguei a falar da questão da escola e das relações aluno-professores. Muitos profissionais com enorme talento para ensinar desistem de suas carreiras, não só pela questão salarial, mas, sobretudo, pela forma desrespeitosa que são tratados em sala de aula por seus alunos, e, por consequência, pelos pais de seus alunos. O que será que mudou tanto de minha geração para a de meus filhos e, hoje, na geração de meus netos?
Eu me atrevo a dizer que o que mudou, foi a forma que os pais tratam seus filhos, e estes, sem conhecerem limites de respeito e educação doméstica, desrespeitam todos fora de casa.
Um dia desses estava em uma loja em um shopping na cidade, quando gritos de uma criança me chamam a atenção. Ao observar a cena, nada mais era que uma menina que aparentava ter por volta de 7 ou 8 anos, com palavrões e atitudes de desrespeito com a mãe, que não quis comprar uma certa peça de roupa que atraiu a criança. A mãe, de tão envergonhada, sentou-se no chão em prantos, enquanto a criança continuava a desrespeitar a mãe. Fiquei, ou melhor todos que viram aquele acontecimento, ficaram incrédulos com o episódio. A quem devemos culpar, ou talvez culpa, seja uma palavra muito ligada à religiosidade, e não caberia aqui.
Seria melhor perguntar: qual a causa da atitude daquela criança, que com tão poucos anos de vida, já leva a mãe a passar por momentos tão difíceis, nos quais pelo que pudemos observar pela reação da mãe, ela não sabia o que fazer.
Bem, falamos do narcisismo dos companheiros. Agora, vamos refletir levando em consideração a mesma questão, só que, neste caso, acrescentaremos um novo termo: o narcisismo parental. Ou seja, os pais, que vivem através das lentes do alheio, pautam suas vidas em alcançar o “sucesso”, seja ele econômico, social ou profissional, e caso não consigam (ou ainda que consigam) eles mesmos, alcançar tais objetivos passam a projetar em seus filhos todos os desejos que têm para si.
Para tanto, idealiza-se a promessa de que seus filhos alcancem o gozo pleno, e cada vez mais encontramos na sociedade o discurso no qual as crianças surgem como a esperança de concretizar tal demanda de cordo com o laço social demarcado pela lei simbólica. Vamos tentar detalhar um pouco mais: não é surpresa para ninguém que quem tem crianças em seu círculo familiar, sabem que as crianças recebem estímulos em excesso, desde muito novas, e, muitas vezes, esses estímulos vêm com a expectativa que elas alcancem o ideal cultivado socialmente, nos moldes do próprio do narcisismo.
Vivemos numa sociedade na qual os pais não sabem como proceder quanto à educação dos filhos. Compreender o que é o narcisismo parental é de suma importância para compreendermos algumas questões que envolvem o relacionamento entre pais e filhos e suas dificuldades na imposição e aceitação de leis, regras, tanto naturais como culturais. Isso, traduz-se:
Meu filho não passará pelo que eu passei, ele terá toda liberdade e não permitirei que ele passe por nenhum tipo de sofrimento. Em outras palavras: “(…) nossa cultura atual exige cada vez mais que nossas crianças sejam livres de qualquer tipo de sofrimento, fazendo muitas vezes, como afiança Bemgochea:
Poulichet (1977) afirma que a primeira vez que o termo narcisismo foi utilizado na psiquiatria foi com Paul Näcke, em 1899, definindo o termo como um estado de amor por si mesmo, constituindo uma nova categoria de perversão. Freud também se utiliza da teoria do mesmo autor para definir narcisismo, fazendo a leitura do termo da seguinte forma:
“a conduta em que o indivíduo trata o próprio corpo como se fosse o de um objeto sexual, isto é, olha-o, toca nele e o acaricia com prazer sexual até atingir plena satisfação mediante esses atos” (1914 p. 14)
Trazendo essa citação para a sociedade atual, nos chama atenção a busca pela satisfação plena, um fator muito importante no que que diz respeito às características da sociedade em que vivemos. É esta busca incessante que os pais transmitem a nossas crianças para que sejam vistas como os principais personagens que poderiam, com o mínimo sofrimento, alcançar tais ou quais estágios.
O que vemos são pais que projetam em seus filhos homens e mulheres de sucesso. Esses jovens não admitem a derrota, a tolerância e a compreensão, além de não saberem conviver com qualquer tipo de decepção.
A questão que procuro trazer para nossa reflexão e análise é: Que tipo de sociedade, estamos construindo com crianças e jovens sendo preparadas para uma guerra, onde só se admite o sucesso e a perfeição?
Me pergunto se o vazio existencial desses jovens que encontramos diariamente em nossa sociedade, não gerará uma sociedade de homens e mulheres que além de não admitirem a derrota ou que buscam incessantemente a conquista de tudo que pode se interpretar como sucesso, e esses são os mesmos que não tem além do respeito por seus pais e mestres. Se tornam pessoas insatisfeitas, que colocam o prazer e a satisfação pessoal acima de todas as leis. Não estaríamos contribuindo para a formação de pessoas que praticarão qualquer tipo de delito e desrespeito às Leis morais? Não são esses jovens que se envolvem, quando não alcançam o sucesso para os quais foram induzidos a terem como certo, buscam, nas drogas, prostituição e se envolvem em todos os tipos de delitos para terem o que, lá atrás, foram preparados para ter?
Me incomoda profundamente ver que é exatamente esse público desrespeitoso e alienado, do ponto de vista cultural e espiritual, que formarão outros narcisistas, que, à medida que o tempo passa, se tornarão mais exigentes e mais dispostos a cometerem todos os atos de violência com seus pais e com a sociedade.
Precisamos urgentemente repensarmos nossa educação, nossos valores e nossa responsabilidade como pais. E para não dizer que não falei de divindade, quando será que a energia de amor de compreensão e caridade, chegará até esses homens e mulheres? Quando estes acordarem e perceberem que não terão vida de príncipes e princesas, o que acontecerá com eles? Como ficará nossa consciência diante desse caos, criado pela falta de limites e preparação desses homens que não aprenderam que nem sempre se ganha, e que não existe para todos um Castelo onde viverão, como seus pais queriam que fossem?
O mundo não é um reino onde existem Reis, príncipes e vassalos. Precisamos trazer esses jovens à realidade de uma sociedade que a cada dia exige menos arrogância e mais empatia e humildade com trato humano.
Pensemos o que estamos fazendo com nossos filhos! A dor e sofrimento são inerentes a condição humana. Que são nossos filhos afinal?