Percebendo que a tentativa de golpe frustrada levou ao fortalecimento do governo Lula e a consolidação do discurso em defesa da democracia, nas mãos do governo, a oposição de matiz bolsonarista procura desesperadamente superar essa página da história, e recolocar o debate entre esquerda e direita como campo de disputa permanente. Já tentaram até construir uma narrativa sobre eventual participação, por omissão, do próprio governo vítima da tentativa de golpe. Tal absurdo não se sustenta nem nos meios mais engajados do bolsonarismo.
Neste caso parece até que os fundamentalistas também têm seus limites para os absurdos. Mas é importante perceber que a frente ampla contra o golpismo vai se esgotar mais cedo ou mais tarde e o governo precisa dizer a que veio e a quem serve. Não é apenas uma questão de distribuição de renda e redirecionamento dos gastos públicos, embora isto seja muito importante nesta quadra.
Precisamos relembrar que as classes dominantes temem mais a distribuição de renda que um suposto governo autoritário legal, a ser gestado dentro da oposição nos próximos quatro anos. Uma parte do atual governo poderá até aderir a essa ideia.
Diante de uma grave crise de legitimidade da democracia liberal, diante de um verdadeiro movimento fascista bem articulado, o fundamental é construir mecanismos de fortalecimento dos organismos de classe dos trabalhadores com capacidade de ação e reação em tempo real.
Reorganizar e oxigenar velhos mecanismos como o movimento sindical e popular, fortalecer e fazer funcionar os conselhos já existentes com participação popular e, sobretudo, incentivar a criação de novos organismos representativos das massas populares para defesa dos direitos fundamentais já conquistados, é a tarefa que se impõe.
Negligenciar neste aspecto pode significar apenas um governo de transição para o mesmo, ou até para o pior. O tempo urge. As eleições de meio de mandato, quando serão eleitos prefeitos e vereadores já estão sendo articuladas, e são um excelente momento para aferir o nível médio de consciência do povo sobre a real situação política do país. Como dizíamos antigamente …. a luta continua.