O assunto escolhido para nossa reflexão de hoje, é um tanto delicado. Aproveito para esclarecer que não sou psicóloga, e não tenho a intensão de, com estas reflexões, assumir a o papel de conselheira em qualquer situação. Assumo neste momento, tão somente a posição de mãe, e de outras que também vivenciam os problemas que serão abordados.
A geração de nossos pais e avós, viveram um tempo em que a figura do pai era tão somente a de provedor do lar. Assim sendo, cabia à mãe a educação dos filhos, o cuidado com a casa e administrar o que o “dono da casa” havia preparado para o modo de ser daquela família. Não foram poucas as vezes que presenciei em casa de nossos avós e tios-avôs, a forma que tratavam ou se relacionava com os filhos.
Os filhos quando sentiam a presença do pai, principalmente se estivessem numa roda de amigos ou mesmo com outros familiares, mudavam totalmente de atitude, por respeito. Ao meu ver, acredito ser por medo. Dirigir a palavra ao pai se resumia ou para pedir a opinião sobre algum serviço que necessitava ser executado (me refiro aos familiares da zona rural), ou para pedir a benção ao acordar e ao dormir.
Nunca presenciei, por exemplo, meus tios e tias, irmãos e irmãs de meu pai e mesmo meu pai, como filho mais velho da prole, dirigir a palavra a meu avô, para um conversa sobre algum assunto mais íntimo, por mais superficial que viesse a ser.
Comentei em algum dos artigos já publicados, que convivi muito com meus tios e tias paternos por também morar por alguns períodos no sítio. Como meu avô era o dono da maior parte das terras e lá morarem muitos trabalhadores, inclusive, eram chamados “os moradores”, era costume, uma vez que as relações de trabalho em nada se assemelham com as de hoje, virem à noite para sentarem no pequeno alpendre da Casa Grande e na grande calçada, onde nós, os netos e principalmente as filhas, não tínhamos o direito de sentarmos. Não tínhamos o direito de coabitarmos no mesmo espaço, nem tão pouco emitir alguma opinião a respeito dos assuntos tratados. No meio da conversa, meu avô escolhia uma das filhas para trazer o café para os que ali estavam, mas apenas como se fosse uma pessoa qualquer da casa que servia o café, esperava que todos tomassem, e, logo em seguida, passava recolhendo as xícaras.
Duas questões podemos abordar ainda como sinal dessa divisão ou distanciamento dos outros membros da família com o pai ou dono da casa. Nesta casa de meu avô, existe até hoje, uma porta que separa a grande sala que seria o que chamamos hoje a sala de entrada, para que quando, fossem tratados assuntos que nem os filhos nem as mulheres pudessem participar, essa porta era fechada, e só se abria quando o visitante se ausentava.
Todos esses detalhes não são para encompridar a conversa, mas para acentuar o distanciamento do Pai com os filhos. Nunca vi um filho ou filha abraçar o Pai e vice-versa, nem tão pouco uma palavra de carinho entre eles. Vamos então para a minha geração. Ou seja, como meu pai e meus tios e tias nos criaram. É evidente, que o modelo não mudou muito. Contudo, no caso de nosso Pai, não havia esse distanciamento com os filhos. Foi um filho que não quis estudar, e procurou, logo que atingiu a maior idade, sair de casa. Casou-se muito cedo. Aos 18 anos. Ele era considerado a ovelha negra da família, mas, para nós seus filhos, tínhamos uma relação de muito carinho, e ao modo dele, nos amou demais, mais ao final dessa história, fomos nós o filhos que o terminamos de criar. No entanto sempre existiu muito amor e troca de afetos entre nós.
Quanto aos outros filhos de meu avô, alguns repetiram o mesmo modelo de distanciamento com os filhos, outros, no entanto, já são um pouco diferentes. O que não mudou foi a demonstração de afetividade e do poder patriarcado. Hoje, podemos falar que principalmente por parte das mulheres, apensar de se deixar muito a desejar, mas já acontece relações de afetividade entre seus filhos e netos.
O leitor a essas alturas, pode estar se perguntando, porque essa conversa? Por uma causa que credito ser de extrema necessidade e urgente reflexão. As relações familiares mudaram levando em consideração a de nossos avós para nós, já podemos somar, na maioria dos casos, 100 anos. E como está a família hoje?
Alguns podem responder: mudou muito! Será?
Em função de alguns acontecimentos envolvendo familiares, conhecidos e amigos, resolvi pesquisar um pouco sobre o assunto para trazer para este espaço, não o que penso, sinto e vejo, mas o que a Ciência nos fala dessa questão.
Em função da inserção da mulher no mercado de trabalho, a configuração das famílias sofreu profundas mudanças. O pai e a mãe passaram a compartilhar a responsabilidade no sustento e da educação dos filhos. Essa transformação, para muitas pessoas não foram benéficas, mas pesquisas mostram exatamente o contrário. O compartilhamento do pai na educação dos filhos, fez com desenvolvesse afetividade que só trouxe benefícios à criança. É importante, portanto, ressaltar, que este beneficio só existe quando, encontramos um pai participativo que se coloca realmente como coparticipante na vida de seus filhos. Seja na escola, na vida social e, principalmente, no lar.
Importante que saibamos avaliar que os benefícios que listaremos não existiu nas gerações passadas, mas que muitos de nós conseguimos superar a falta da figura paterna e sua afetividade, outros nem tanto. Mas que possamos contar com uma análise do tempo em que os problemas aconteceram e que saibamos compreender nossos pais, e suas atitudes.
Dando continuidade ao que nos dizem as pesquisas, elas nos mostram que quando o pai realmente se faz presente na vida educacional do filho, estes desenvolvem a autoestima elevada, mais segurança emocional, menos problemas com os estudos, problemas drogas, e ainda contribui para que esse filho tenha relações sociais e afetivas mais saudáveis. Além de tudo isso, ainda sãos alunos com melhor desempenho na escola e mais inteligência emocional.
Essa afetividade vinda dos pais, também interfere no desenvolvimento das filhas. Quando estas se sentem mais amadas, correm menos risco de gravidez precoce e de se envolverem em relacionamentos abusivos.
As pesquisas mostram ainda “que quando o pai participa da educação, se é solidário e afetuoso, ele pode contribuir bastante para o desenvolvimento cognitivo da criança”.
Por outro lado, se a criança tem um pai ausente pode causar feridas emocionais que persistem toda a vida. Um Estudo feito pelo National Fatherhood Initiative “descobriu que a ausência paterna pode gerar problemas econômicos, sociais, e, inclusive, prejudicar a saúde física e mental do indivíduo. Segundo a organização, os Estado Unidos gastam anualmente US$ 100 bilhões em programas sociais para reduzir os impactos da ausência paterna.
As pesquisas nos mostram muitas sequelas deixadas nos filhos quando o pai se ausenta de sua responsabilidade. No passado, por exemplo, na geração dos meus avós, de nossos pais, essas informações ainda não haviam sido descobertas pela ciência, mas nem por isso as marcas não foram sentidas por essa geração.
Fico imaginando, quem sabe, se muitos dos casamentos mal sucedidos, famílias em total desalinho, não sejam causas dessa falta de amor ou mesmo da afetividade não existente. Sabe-se que exatamente a falta da afetividade são causas de imaturidade emocional, que podem ter sido causada por trauma de infância. Essas pessoas tem dificuldade em seus relacionamentos, às vezes, agindo como crianças.
Entretanto, não podemos mais admitir relacionamentos como existiram no passado. Os pais ainda ignorarem seus filhos. Existe nas campanhas contra drogas, alguma coisa do tipo: “adote seu filho, antes que um traficante adote”. Se não for exatamente com essas palavras, mas o recado está dado. As crianças e adolescentes de hoje, precisam serem adotados por seus pais. Pode parecer incoerência de nossa parte, mas acredite. Não é. Procure ser mais participativo na vida de seus filhos, procurem passar para eles que são importantes em sua vida, que você se importa com eles. Não são presentes, nem viagens, nem carros e festas que demonstram isso.
Procure apoiar seu filho em suas dificuldades, estimule e elogie quando for possível. Deixe de ver no filho do vizinho ou de outro familiar, o sucesso, e em seu filho o fracasso. Cem anos se passaram. Muita coisa mudou. Já não nos comunicamos por telegrama, ou recebemos as noticias através do rádio. Nossos filhos já nascem com predisposição para coisas que as gerações anteriores nem imaginavam. Só uma coisa não mudou e nunca mudará: A necessidade de amar e ser amado.
No entanto, não podemos nos deixar levar apenas pelos dados estatísticos. Somos pessoas capazes, e nascemos com essa capacidade, de superar as dificuldades e como bem diz meu filho, não podemos deixar que todos os limões que recebemos na vida, esfreguemos em nossos olhos. O homem de bem tem a capacidade de superar as piores dificuldades, e pensando do ponto de vista da espiritualidade, a fé e prática do bem, podem nos tornar fortes e podemos, sim, superar a falta de um pai, que na maioria das vezes, não sabe, não reconhece nem imagina seu papel quando gera um filho.
A nossa reflexão, mostra as dificuldades que podem nos trazer a falta de um pai, seja ele afetuoso ou não, mas não podemos deixar de lado que podemos tirar de todas as dificuldades, as lições de que, quando vencidas, nos tornamos invencíveis. Que esta força divina, esta luz que reside no íntimo de cada um de nós possa superar a falta de um pai ausente, e acima de tudo, não reproduzirmos nas famílias que haveremos de construir o que passamos. Se sofremos, identificamos a causa, somos capazes de não nos tornamos modelos do que foi errado. Podemos sim, sermos exemplos de superação e ajudarmos outros que não têm a mesma força que nós.
Sejamos para nossos filhos o queríamos ter recebido de nossos pais. E se, tivemos a sorte tê-los junto a nós, saibamos multiplicar esse amor com nossos filhos e netos, assim, poderemos quebrar esse paradigma, que tanto prejudica a nossa sociedade.
Sejamos felizes, e façamos outros felizes pela intensidade de nosso amor e de nossa solidariedade.