Não adianta imãs, colas, pregadores de roupas, grampos… nada disso é capaz de segurar o tempo em que a gente tem paz, serenidade, harmonia e torce que dure pra sempre.
Também não adianta correr, rezar por um vento forte que carregue o tempo ruim, de dor e desmantelo…
“Tudo a seu tempo!”, dizem.
Tudo no tempo das coisas, dos fatos, das experiências, pois elas têm vida própria!
A gente acaba sendo uma peça que vive os efeitos das experiências… experiências que podem duram além da conta ou passam tão rápido que, às vezes, nem nos damos conta do que vivemos.
O tempo passou e não vimos.
Muitas vezes, olhando pra trás, nos perguntamos se vivemos aquilo mesmo, pois algumas experiências o tempo leva consigo e quando vemos, não havíamos percebido à tempo…
Por vezes ele se mistura, se confunde com o passado, presente e futuro e a gente fica no limbo, esperando o tempo passar…
Penso que somos moldados pelo tempo, esse senhor poderoso que vai nos transformando e, quando ele “dá um tempo” , tudo se mistura, nos sentimos largados, sem forma, como se não coubéssemos mais em tempo algum.
Esse espaço de tempo a que me refiro não é o tempo do ócio. O ócio é quando a gente se permite “dar um tempo” pra nós mesmos e isso não por decisão dele.
E esse tempo de ócio é criativo, nos fortalece e nos prepara para os tempos seguintes. O tempo do ócio é um luxo que poucos têm acesso. Ultimamente tenho me encontrado com ele, de longe, de forma meio descompassada, mas tenho! E é tão bom!
Mas, ser largada pelo tempo é outra coisa! É estacionar em lugar algum, é não ver, não enxergar ao redor, não conseguir fazer contato.
Só o tempo tem a possibilidade de lhe tirar desse lugar. Como diz o poeta: “Não serás nem terás sido” – se o tempo não te resgatar.
Pois bem, estou aqui, onde o tempo me colocou. Já achei ruim, já achei bom, já estive tranquila, ansiosa e o tempo, esse bicho arisco, ou passa correndo ou faz de conta que não me vê!
Quem estiver com o tempo aí por perto, dá um toque como quem não quer nada e fale de mim!
Diz pra ele que já passei por tanta coisa, por tanto tempo e agora estou largada aqui sem saber separar o que foi, o que é e o que será.
Os instrumentos que ele me deixou tenho usado: rezo, medito, caminho, pinto, choro, dou gargalhadas sem fim, conheço pessoas, cozinho, bebo, fumo um cigarrinho, tomo banho de mar gelado, contemplo o mar, e danço, danço muito!
Não desperdiço o limbo, pelo contrário, tiro proveito dele. Fico repetindo essas coisas enquanto o tempo passa ou decide não passar.
No fundo, lá dentro do peito, eu acho que ele está se vestindo pra mim, pra chegar bonito, sedutor, irresistível e eu, volúvel que sou, me jogarei em seus braços e correrei com ele para dar conta de tudo o que terei que fazer!!
Não, ele não me pega mais, não! Não posso fazer isso comigo de novo!
Em todo esse tempo tenho que ter aprendido alguma coisa! Não é possível!!!
Quero estar pronta para contemplá-lo, sem pressa. Decifrá-lo, sentí-lo, mas me jogar com tudo na sua força e girar com toda urgência, com a qual sempre fiz para aproveitá-lo, não quero mais!
Quero ter o merecido tempo de vigiar e orar, pensar e agir, fazer e contemplar.
Não tenho mais tempo de agradar ninguém!
Estou beirando os 60 anos e quero ter o tempo de viver em paz.
Quem tiver com o tempo aí, diz a ele que me traga uma bagagem nova, com mais coisas leves que pesadas, mais coisas felizes que tristes. Diz a ele que não quero ser heroína e nem queimar no fogo das bruxas. Quero ser quem sou, simplesmente. Preservando sempre o tempo da luta pelo bem comum!
Em contrapartida, eu o ajudo na modelagem da argila que me forma e me transforma e o usarei de forma sábia e generosa. E assim, será prazeroso dizer:
Que venha um novo tempo!
Dizemos que o tempo é o senhor de tudo. Ele traz, ele leva, contudo, nos ensina que precisamos dele para renascermos. Nos refazermos. Quem sabe, é o tempo que nos faz Mestres na vida?
Excelente texto. Como é bom ouvir o som de uma alma!