O empenho dos compositores na busca de revelar as letras do coração em seus ritmos vários faz da música esse bem precioso dentre as artes. Afinal o pouso dos sentimentos mora ali em seu calor intenso. Correm-se léguas até chegar. Falam de doces melodias que nascem quase espontaneamente ao som das pulsações inesgotáveis. Lugar de imensas trajetórias de paixões, dramas e desafios, o coração presta, com facilidade, a trazer as melhores composições.
Num retrospectiva da música brasileira, houve época de grandes autores e intérpretes. Mesmo porque a música pede inspiração. Adiante, em face da indústria de massa, vieram os empresários das noitadas que aceleraram o processo criativo a gerar um descompasso, tanto no Brasil quanto no mundo em termos de qualidade e inspiração.
No entanto, graças aos meios de gravação, a herança das melhores produções persiste e temos chance, agora, de ouvir infinitas peças de boa qualidade que vieram do passado. Assim também face às produções cinematográficas de tantas escolas, e vasta literatura de épocas e lugares.
Então, estas gerações atuais dispõem do acervo de todas as demais. através da tecnologia contemporânea, livros, discos, filmes, dando margem ao conhecimento de toda herança humana. Ninguém que seja tem direito de reclamar de ausência no sentido da informação de construir o mundo novo de que tanto falam, de todo tempo. Resta tão só exercitar o aprendizado e construir novos tempos, nova civilização, fruto do potencial de saberes ora existente.
Nesse intervalo entre a cultura e a civilização sobrevivem os sonhos da tecnologia e do sentimento, pela formação do que seja exercitar filosofias e ciências no exercício pleno de uma realidade ideal.
Por tanto amor, por tanta emoção / A vida me fez assim / Doce ou atroz, manso ou feroz / Eu, caçador de mim. / Preso a canções / Entregue a paixões / Que nunca tiveram fim / Vou me encontrar longe do meu lugar / Eu, caçador de mim. Composição de Luís Carlos Sá e Sérgio Magrão.
Seguimos, pois, nesta função de encontrar as notas certas que farão de nossas almas criaturas fortes e altivas naquilo que aprendemos de uma época de riquezas raras, a trilha sonora de nossa geração.
A geração dos anos 80 expressou nas letras de suas canções o amor e os males do seu tempo. Em 1984, numa inspiração sentimental, Lulu Santos diz que “Cada voz que canta o amor não diz tudo o que quer dizer e tudo o que cala fala mais alto ao coração.” Ainda bem que temos a arte como expressão, como alento e como arma. Belo e profundo texto.