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Entre o Real e o Imaginário

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Nas profundezas das águas doces do Rio Salgado repousam as mais lindas lendas que povoaram meu imaginário infantil. A mãe d’agua, a grande serpente, a corrente de ouro e a princesa encantada estão lá adormecidas e enlevadas, sempre a espera de rapazes desavisados e dispostos a atos heroicos que as livrem dos encantos e das suas eternas maldições.

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Ao anoitecer pairam tranquila e serena os longos cabelos da morena como um véu cobrindo toda a superfície das águas do nosso velho Salgado. A lua cheia aponta no céu iluminando toda aquela beleza, e para completar o cenário surge do interior da velha furna a grande mesa posta das mais finas louças e pratarias, e um imponente carneiro de ouro; seu eterno guardião que se interpõe em meio à pretensa refeição.

Do alto da serra a coruja pia, a onça deixa seu covil para entre as pedras passear como fosse o vigia do sagrado lugar, os sapos coaxam, e a cigarra canta até não mais aguentar; e nessa orquestra polifônica a noite passa entre barulhos, miragens e encantamentos.

Debaixo daquelas águas ainda habita uma grande serpente que botando medo em quem se atreve a encara-la, se enrosca na corrente de ouro que liga a furna ao altar de São Vicente Ferrer na centenária Matriz que magnificentíssima se veste de glória e de majestade, cobrindo a cidade de luz como de um vestido. Agora é o Padroeiro abençoando o sagrado e abençoado altar.

Aos primeiros raios do sol tudo volta ao normal. As suas águas saem entre as pedras e correm pelos vales fertilizando toda a terra. Como um grande milagre essas águas dão de beber a todo o animal que pasta no campo, matando a sua sede e alimentando-os. Nas árvores as aves do céu têm a sua morada e cantam felizes entre seus ramos.

O homem sai ao campo para tirar dele o sustento, a mulher vai à lida para enfrentar o dia a dia, sabendo que dela depende os grandes e os pequenos, as crianças pulam alegres por entre as veredas da pequena e estreita estrada, atrás deles salta ora a frente, ora atrás, o cachorro que feliz abana o rabo num eterna brincadeira. A felicidade é algo tão corriqueiro que nem se ver a vida passar, nem muito menos o tempo correr.

O tempo passou e a vida correu. Mas, foi mergulhando no rio, nadando em suas águas, subindo na ribanceira, escalando a serra e correndo nos vales que passei minha infância, sempre entre o imaginário e o real. Na minha visão de adulto vejo que o real muitas vezes não passava de imaginário e que o imaginário muitas vezes foi real.

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