A maioria dos apoiadores de Bolsonaro vivia dizendo que “Deus está no comando”, e que “os governantes são escolhidos por Deus”. Pois bem, aí está o resultado que, segundo os crentes, é a vontade de Deus. Quem é que está agora questionando essa vontade? A crença acabou ou era uma farsa? O problema real é outro. A eleição presidencial de 2022 revelou a profundidade da ideologia fascista na sociedade brasileira. Não é apenas uma onda fundamentalista. É uma articulação consciente de muitas pessoas determinadas a implantar um regime autoritário, capaz de impor um modelo econômico, uma moral e uma religião oficial destruindo as liberdades e os direitos individuais arduamente conquistados nos últimos tempos. Eles ainda não estão suficientemente organizados para dar um golpe de Estado, mas estão se preparando para isso. O grau de organização dessas pessoas, usando instituições civis e do Estado, iniciando articulações paramilitares, criando um credo ideológico e rituais de cumprimentos, onde tudo o que é dito pelos chefes das organizações cooptadas pelo fascismo deve ser validado sem questionamentos, é um dos sinais de que haverá um confronto aberto, mais cedo ou mais tarde, entre as organizações fascistas e as organizações livres da sociedade civil. Depois da eleição presidencial vem as disputas pelos aparelhos ideológicos do Estado que podem ser ocupados por um ou por outro lado. Não podemos descartar a possibilidade desse confronto transbordar para a ruptura da ordem atual. Precisamos nos preparar para isto. Fortalecer as instituições civis democráticas, sindicatos, organizações populares, comunidades de base, frentes partidárias antifascistas, etc. O destino do Brasil está sendo disputado seriamente para além das eleições presidenciais. Os fascistas vão tentar criar todo tipo de crise e pretexto para manterem seu pessoal mobilizado e em permanente estado de concentração e organização. Caberá aos democratas de todas as espécies (liberais, socialistas, etc.) construírem uma agenda de lutas e um discurso capaz de convencer à grande maioria do povo que o fascismo tenta nos levar para um abismo como já fez em outros lugares e todas as vezes em que conquistou a hegemonia na sociedade.
Ora de reunir, planejar e agir.