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Como foi rápido

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As lembranças que ainda estão muito vivas em minha memória, são da menina que brincava de esconde-esconde, pulava corda, dos banhos de açude, das brincadeiras e festas de aniversário na casa dos amigos e familiares. Mais fortes ainda, as lembranças das festas, dos primeiros flertes (era assim que se chamava as paqueras), os primeiros bailes, o primeiro beijo, o casamento filhos e netos.

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Essa é a trajetória que acredito pelo menos a maioria de nós, tem em mente e vive feliz, “dentro da medida do possível”, como diria minha mãe. Até que um belo dia você descobre ao chegar em um determinado lugar para ser atendido, o atendente diz: “a senhora tire a senha de idoso. Como? Eu estou idosa e ainda tenho direito a uma senha especial? Responde o rapaz: Sim é um direito da senhora!

A princípio, confesso que fiquei feliz em saber que tinha direito garantido por força da Lei, mesmo não me sentindo com dificuldades para me locomover, pensar e agir, mas tem uma Lei que protege o meu direito de ter prioridade em atendimentos. Mas logo descobri que não era tão simples assim só ter uma Lei que protege nós “idosos”. Ou seja, se estou acima de 60 anos, tenho alguns direitos diferentes, que na visão de alguns, são privilégios.

Ainda bem jovem, passei por uma situação que confesso não foi uma dessas atitudes da qual me orgulho muito, mas por outro lado, agora como já tenho mais de 60, vejo que apesar da reação que provoquei em meu marido, valeu apena, o que fiz. Vou lhes contar com todos os detalhes: Houve um tempo, lá pelo ano de 1984, fui, como de costume, ao caixa de meu banco (vou falar qual banco foi, porque não existe mais, por outro lado, vou refrescar a memória de alguns que já viram a cena que presenciei). Não sei se pela força da idade, ou seja, pela imaturidade, ou por revolta mesmo diante da cena, eu tive que reagir.

A referida agência, localizava-se na Praça 1817, no Centro da Cidade. Uma bela instalação do BANESPA. Era esse o Banco. Chegamos lá por volta de umas 11h30, estacionamos o carro na garagem do subsolo, e adentramos ao espaço de atendimento. Uma agência enorme, ar-condicionado, cafezinho, água e etc.

Quando olho para fora da Agência, vejo uma enorme fila de idosos, mas idosos mesmo, no ardente sol de nossa capital, que deveria estar a uma temperatura de pelo menos 35°C. Muitos daqueles, estavam ali desde cedo. Importante falar que essa cena era comum em todas as agências bancárias de João Pessoa e do interior.

Mas ali, ao ver aquela cena, o sangue me subiu à cabeça, fiquei irada pois a agencia tinha espaço suficiente para acolher aquelas pessoas. Fui logo em voz alta, procurando pelo gerente. A essas alturas, meu marido já foi dizendo: “vá sozinha e faça de conta que não me conhece”. Logo respondi: Saia daqui!.

Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo

Ao indagar ao gerente a causa daquela desumanidade, ele apenas respondeu que mesmo a agencia abrindo a partir das dez horas, os idosos só iriam ser chamados a partir do meio dia. A essas alturas, já fui perguntando se por acaso, a mãe dele estivesse naquela fila, ela também teria o mesmo tratamento. Concluindo a minha pequena cena, achei que não houvesse adiantado muito eu esbravejar com gerente, nem com ninguém, mas não presenciei mais filas de idosos no sol. O que já me aliviou um pouco, e de certa forma eu teria tido uma justificativa para minha falta de paciência e, talvez, de educação. Não sei. Só sei que eu não podia ficar calada vendo aquela cena chocante.

Anos se passaram, hoje tenho mais de 60 anos. E por incrível que pareça, apesar da Lei que protege nosso direito de ter um atendimento prioritário, somos ainda desrespeitados e quase sempre, ao fazermos uso de nosso direito somos criticados, com palavras do tipo “Aqui tem mais velho que gente!”.

Mas jovens, não se preocupem, dados do IBGE apontam que no Brasil 13% da população tem mais de 60 anos, a partir de 2031 ou seja, em menos de 10 anos haverá mais idosos do que crianças e adolescentes, em 2042 essa população alcançará o número de 57 milhões de brasileiros.

A velhice precisa ser respeitada. Com algumas exceções, a velhice traz sabedoria. Ela precisa ser vista com outros olhos. A Lei 10.741 e 1º de outubro de 2003, instituiu o Estatuto do Idoso, nele são previstas uma série de normas com vistas a proteção dos direitos da pessoa idosa.

O” etarismo”, para os menos avisados, é o nome que se dá ao mal ainda latente entre os mais jovens do preconceito e ao desrespeito à pessoa idosa. Neste país, como boa parte das Leis “não pega”, essa, foi mais uma que me parece só serviu para que nos estacionamentos fossem desenhados, no lugar designado ao idoso, um bonequinho de bengala parecendo que carrega uma enorme dor nas costas. Nem todos os idosos, são incapazes, estão com demência, nem tampouco perderam a noção de seus direitos.

Estamos diante de uma importante eleição para nosso país e para o mundo. Não identificamos, contudo, em nenhum dos candidatos, nenhuma proposta para melhorar a qualidade de vida dessa população (aliás pouco se fala de direitos a populações vulneráveis).

O idoso precisa sim de atenção, carinho, respeito e que os órgãos de governo e seus governantes prestem atenção à idade de sua população, como a deles próprias. O salário do idoso, é reduzido quando seu companheiro ou companheira morre. O idoso, precisa ter salários melhores para terem suas despesas custeadas e que nós possamos viver com dignidade. Não é de pena que precisamos, e sim, de RESPEITO.

No dia da eleição, quando cheguei para votar e exigi o meu direito, assegurado por Lei, de ter prioridade para votar, o que ouvi de muitos que estavam na fila, foi:” Eita! Essa hora chove velho”. “Agora é que a votação vai demorar. Olhei para um jovem que estava do meu lado e disse uma dessas frases, e disse “vá votar, eu lhe dou a vez, apesar de minha idade, estou mais disposta e melhor do que você. Acho que quem está precisando de prioridade é você”. Ele sorriu e disse – desculpa, a senhora tem direito! No fundo meu direito, como de tantos outros, não é respeitado. Vá a uma agência bancária, no dia de pagamento do Estado ou da Prefeitura, e observe quantas pessoas abaixo de 60 anos, e as que recebem senhas de atendimento prioritário, e faça o acompanhamento das chamadas feitas pelo “sistema”, e veja quantos são chamados antes de se chamar uma senha prioritária. É desnecessário dizer que o sistema é programado. Até nisso, somos desconsiderados. Muitos de nós, apesar de ter um pouco mais de idade, não perdemos o discernimento, e nem todas as pessoas com mais de 60 anos têm dificuldades de lidar com tecnologia.

Durante a pandemia, os “velhos” foram os que sofreram mais discriminação. Ao chegarmos aos supermercados, por exemplo, todos se afastavam como se a pessoa, apenas por possuir cabelos brancos, fossem os transmissores natos do vírus do COVID-19.

Precisamos elevar a nossa voz, mostrar nosso conhecimento e nossa capacidade laborativa. O idoso, não é nenhum inválido. Importante que os analfabetos funcionais que gerem esse país, observem que o mundo que aí está, com todo desenvolvimento de tecnologia e avanço na Ciência, foi alcançado pelos sessentões, que estão cada dia mais vivos e sábios.

Os jovens precisam saber, que se eles não tiverem os mesmos conhecimentos que temos, não sobreviverão tanto como nós. Portanto, o idoso, que hoje está sendo humilhado neste país, passou por uma revolução, alguns por pelo menos uma das grandes guerras mundiais, e ainda começaram a vida sem conhecer nem mesmo o rádio, e hoje, são capazes de utilizar um computador com a mesma desenvoltura de um jovem.

Idoso sim, burros e incapazes não. Precisamos atuar mais em função de nossos direitos. Deixar o medo de lado, e assumir nossa capacidade de exigir políticas públicas que sejam capazes de nos trazer melhor qualidade de vida. Quando formos capazes de nós mesmos, conhecermos nossos direitos e nossa força, seremos vistos com outros olhos e mais respeito.

Não se enganem, não deixem de utilizar seus cérebros e suas capacidades de falar e produzir. Somos capazes! Vamos viver e sermos felizes. As dificuldades que o corpo carrega, são verdadeiras, mas se temos cérebros bem cultivados, para que ainda precisamos de corpos jovens e perfeitos? Já passamos dessa fase. Agora, é a inteligência, o conhecimento que podemos mostrar. Isso sim, é ser idoso.

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